Deixar de ser infantil, enquanto é tempo

Conversa (verdadeira) entre duas crianças tatuianas de 11 anos – ambas, portanto, no limite de idade máximo para a vacinação com a dose pediátrica contra a Covid-19: “Não sei se vou me vacinar porque tem gente que tomou a vacina e está pegando a doença”, comentou a primeira. E respondeu a segunda: “É verdade, mas pelo menos não estão morrendo”.

A pandemia parece ter alucinado ainda mais os adultos extremistas a tal ponto que, eventualmente, crianças demonstram ter mais responsabilidade e maturidade que muitos pais – obviamente a se notar que as afirmações do primeiro garoto devem ter partido de seus genitores.

Infelizmente, nem toda essa visão clara e desprovida de preconceitos politiqueiros da segunda criança ainda é totalmente verdade, dada a contundência com que a variante ômicron tem atingido o planeta, gerando contaminações em proporções incomparavelmente maiores que as cepas anteriores.

O resultado disto é a retomada de um maior número de óbitos em todo o globo, inclusive em Tatuí. A cidade, que chegou a ficar 38 dias sem nenhuma morte causada por Covid-19 (entre novembro e a metade de dezembro de 2021), iniciou esta semana confirmando dez mortes – equivalentes a aumento de 900% em comparação ao período imediatamente anterior.

Esse enorme crescimento considera, além dos óbitos, os registros de confirmações e descartes da doença divulgados pela Vigilância Epidemiológica entre o último sábado de janeiro, 29, e esta terça-feira, 1º. No período anterior, de 22 a 25 de janeiro, apenas uma vítima fatal da doença havia sido notificada.

Frente a estes números, é importante destacar que

Tatuí havia acumulado, até terça-feira, 475 vítimas fatais do novo coronavírus. O número representa taxa de 1,9% de letalidade – índice calculado pelo número de óbitos em comparação à quantidade total de casos confirmados de infecção.

O ponto relevante nesta observação é justamente quanto à letalidade, que já esteve na média de quase 3%, no pior período da pandemia, há quase um ano. No momento, portanto, há contaminação incomparavelmente maior, embora com letalidade bem menor. A diferença: vacinas!

Outra comprovação da eficácia dos imunizantes, notada a partir dos números, tem a ver com a ocupação de leitos clínicos e de UTI, ambos em torno de 50% no meio desta semana na Santa Casa de Tatuí – novamente, apesar da explosão de casos confirmados.

Por sua vez, também é muito positiva e animadora a constatação de que, cada vez mais, a população está se conscientizando não apenas sobre a importância da vacinação, mas, sobretudo, quanto às responsabilidades públicas (ou políticas) e individuais acerca da persistência da pandemia.

Evidência disto pôde ser verificada, por exemplo, na pesquisa realizada pelo jornal O Progresso de Tatuí, por meio do site www.oprogressodetatui.com.br, na semana passada, que teve como tema o aumento das contaminações neste ano.

Entre as opções de resposta, a maioria apontou que a avalanche recente de contaminações e retomada de certo grau de óbitos por Covid-19 está ocorrendo, prioritariamente, devido à “falta de cuidado do povo”.

A opção que atribuía a piora no quadro epidemiológico à atitude da população foi assinalada por 43% dos votantes. Em segundo lugar, com 20% dos votos, apareceu a variante ômicron como a responsável pelo refluxo epidemiológico.

Para 17% dos internautas, o pior cenário foi atribuído aos não vacinados. Em seguida, aos negacionistas, por 13% dos participantes da pesquisa, e, em último lugar, às fake news (7%).

Finalmente, além das responsabilidades pela contaminação, sobrepõem-se os falecimentos, aspecto mais trágico pela doença, claro.

Neste sentido, independentemente de se saber de maneira formal se as novas vítimas da doença haviam sido vacinadas contra a doença, (mais uma vez) fica explícita a diferença entre a porcentagem menor de óbitos após o início da campanha de vacinação – mesmo com uma variante incomparavelmente mais contagiosa.

Pela mesma ótica, as observações sobre o número das mortes naturais (periodicamente repercutidas pelo jornal O Progresso de Tatuí) também permitem ver o quanto a vacinação tem impactado positivamente no combate à doença.

Portanto, não há motivo para ninguém, em sã consciência, virar os olhos para a realidade de que as vítimas de hoje, em sua imensa maioria, são de não vacinados, a despeito de as vacinas “não” garantirem imunidade total, tampouco impeçam a contaminação.

Os benefícios da proteção vacinal, contudo, valem muito a pena se considerados os custos (efeitos colaterais em geral leves) frente a possibilidade real de morte (em expressão sem rodeio).

Até crianças são capazes de reconhecer esta equação a salvar vidas. Restam apenas alguns adultos ainda no obscurantismo, os quais precisam, definitivamente, deixar de lado as infantilidades negacionistas e procurar a imunização, senão pelo bem do próximo (algo a exigir empatia), pelo menos pelo bem próprio – enquanto ainda é tempo!