“As pessoas estão nos procurando mais e espontaneamente para contribuir como voluntárias”. A declaração da presidente do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí), Sônia Maria Ribeiro da Silva, parte de indicador registrado pelo órgão desde outubro.
Nos três últimos meses de 2017, a entidade contabilizou busca maior de homens e mulheres interessados em colaborar com o trabalho desenvolvido junto às comunidades. Os candidatos, porém, passam por processo que começa com entrevista por uma das coordenadoras dos cursos de capacitação.
Sônia explicou que a conversação prévia precisa ser feita para que as coordenadoras possam traçar o perfil do voluntariado. “A entrevista é feita porque as pessoas precisam ter, pelo menos, três meses disponíveis”, especificou.
Esse é o tempo médio de duração das capacitações oferecidas pelo Fundo Social, nos centros de formação. Ao todo, a entidade disponibiliza cursos gratuitos para geração de renda (entre padaria e artesanatos em geral) em sete unidades.
Por conta disso, o Fusstat busca pessoas que possam se comprometer a trabalhar, em regime de voluntariado, por três meses. Durante a fase da entrevista, Sônia informou que as coordenadoras conseguem definir qual o perfil do candidato.
Os que têm tempo livre contam com mais chances de lecionar nos centros de capacitação. Já os que dispõem de prazo menor, podem ser encaminhados a auxiliar em outras iniciativas, como bazares e eventos de curta duração.
“Damos prioridade para quem tem mais tempo, que possa estar engajado no Fusstat, mas mantemos um cadastro de quem pode nos auxiliar nos eventos paralelos, porque sempre precisamos de ajuda”, comentou a presidente.
Depois da entrevista, as coordenadoras dos cursos verificam, com os candidatos, quais as habilidades deles. Elas precisam garantir que as pessoas tenham não só perfil, mas conhecimentos específicos que possam ser usados para capacitar.
O ingresso dos voluntários acontece durante todo o ano. Entretanto, Sônia informou que, desde outubro deste ano, a entidade tem sido mais procurada.
Responsável pela profissionalização do Fundo Social, a prefeita Maria José Vieira de Camargo disse que os voluntários são essenciais tanto para a entidade como para o município. De acordo com ela, a procura sempre aumenta na proporção em que cresce a confiança da população no trabalho desenvolvido.
“Eu digo que um bom projeto contamina e o voluntariado, quando vê ações como as realizadas pelo Fusstat, mobiliza-se. As pessoas são boas. O que precisa é que alguém se aproxime delas, convide-as e traga-as para os projetos”, argumentou.
Maria José enfatizou que o movimento na entidade no fim deste ano é reflexo da credibilidade de quem desenvolve as ações. Ao mesmo tempo, mencionou que essa é uma característica do povo tatuiano. “As pessoas, quando ajudam ao próximo, estão ajudando a si mesmas”, reforçou.
Malha Helena Coque da Cruz concorda. Primeira voluntária do Fundo Social, ela dá aulas de bordado nos centros de capacitação.
Ingressando no Fusstat a convite de Maria José (que presidiu a entidade de 2005 a 2012), Malha Helena tem histórico de voluntariado na cidade que vai além dos centros de capacitação. Ela já auxiliou a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e atuou em projetos do Rotary Club.
Em 2005, tornou-se a primeira professora voluntária do Fusstat. “A Maria José procurou-me porque ia formar um grupo para começar os trabalhos. Na época, nós nem sabíamos ainda qual seria o nome (do Fusstat)”, contou.
Conhecida pelo capricho nos bordados, Malha Helena lecionou, pela primeira vez pelo Fusstat, em três residências na vila Angélica. “Depois, fui para o CDHU (Conjunto de Desenvolvimento Habitacional e Urbano)”, recordou-se.
A voluntária deixou o Fusstat em 2012, voltando em 2017, a convite da atual presidente, Sônia. “Aceitei retornar porque sempre gostei do voluntariado”, contou.
Para a professora de bordado, “a atividade voluntária é melhor que a remunerada por conta da valorização e do sentimento de realização”.
Como voluntária, Malha Helena perdeu as contas de quantas pessoas capacitou. A bordadeira conta que nunca pensou na perspectiva de “quantidade”.
Entretanto, ressaltou que, das realidades que ajudou a mudar, algumas resultaram em surpresas positivas e outras, negativas. “Nunca temos só flores no caminho, mas é uma minoria que não consegue aproveitar bem”, ponderou.
Do lado positivo, a voluntária destaca a recuperação emocional dos alunos. Defendeu que, além de permitir renda, os cursos têm impacto na recuperação da autoestima.
Muitas das pessoas que ela capacitou chegaram aos centros por recomendações médicas, por estarem em depressão. “E eu tive a felicidade de recebê-las, e elas fizeram trabalhos lindos”.
Bem preparado
Ensinando no Fundo Social há nove anos (oito consecutivos e um na gestão de Sônia Ribeiro), Malha Helena explicou que o público atendido pela entidade mudou. Ele está “mais bem preparado” que no início dos trabalhos voluntários.
“No começo, as pessoas não tinham noção. Sempre houve cursos oferecidos pelo Lions e outras instituições, mas eles não abrangiam a cidade inteira. Quando a Prefeitura assumiu a função de capacitar, as alunas mal sabiam pegar na agulha e nós, com jeitinho, fomos orientando”, descreveu.
Conforme Malha Helena, os alunos estão “mais abertos”, uma vez que já passaram por outras capacitações, como corte e costura, ou mesmo aulas de artesanato.
Por conta disso, a maioria das pessoas tem facilidade em aprender. Daí, conseguirem confeccionar produtos com acabamento melhor e qualidade superior.
A professora dá aulas no Fundo Social uma vez por semana. Os encontros com os alunos duram quatro horas e também servem para a troca de conhecimento pessoal. “É um tempo que nós ensinamos, mas aprendemos muito”.
Ela contou que, a cada novo grupo, os temas mudam. Para inteirar-se da turma, conhecer um pouco mais as alunas, os desejos e expectativas com relação ao curso, Malha Helena promove a chamada “mesa-redonda”.
“Nós convivemos com pessoas que têm vários problemas, alguns deles, graves, mas vamos formando outra família, o que é muito interessante e gostoso”, observou.
Nos centros de capacitação, Malha Helena ensina todos os tipos de bordado. Ela aprendeu as técnicas com “o tempo” e por influência da formação escolar, da mãe e da avó, que era italiana. “Não sei bem como aprendi, parece até que nasci sabendo. Comecei a bordar pontinhos e estou até hoje”, brincou.
A voluntária bordou a primeira peça, uma toalha “meio rosa”, quando estava no terceiro ano do Grupo Escolar. Ela expôs o trabalho em uma feira. “Nunca mais esqueci. Não sei o que aconteceu com a peça, mas isso me marcou”.
Da mesma forma que aprendeu a bordar, Malha Helena mantém o gosto pelo voluntariado. Tanto que nem tem previsão de até quando vai continuar na função. “Pretendo permanecer por quanto tempo mais a vida permitir”, afirmou.
O amor pelo trabalho voluntário é tamanho que ela disse não saber exercer outra função além da atual, pela qual se mantém ativa. “Para mim, é inerente, é natural. Eu não sei ficar sem ajudar. Ajudar, para mim, é como respirar”, concluiu.