Creas leva jogadores para grandes times





Amanda Mageste

Flávio D. Campos treina garotos de segunda a sexta, em dois turnos, na sede do Creas

 

O projeto “Vida Ativa”, do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), em parceria com a Prefeitura, realiza trabalho, por meio do futebol, que visa formar atletas e tirar crianças e adolescentes das ruas.

O Creas disponibiliza uma “escolinha” de futebol para adolescentes da cidade treinarem e aprenderem mais sobre esse esporte.

De acordo com Flávio Donizeti de Campos, treinador da Escolinha Vida Ativa, há, aproximadamente, 50 meninos que frequentam as aulas, na sede do Creas.

Ele afirmou que o local está aberto a receber mais garotos que se interessem pelo esporte, os quais não precisam, necessariamente, entender “tudo” de futebol.

“Não precisa saber, basta querer aprender. Tem alguns que pensam como profissionais. E, pensando assim, com um foco, vou trabalhar para eles serem profissionais”.

“Tem outros que não, que vêm para ‘bater uma bola’, ficar com amigos. Mas, não tem importância, eu ensino do mesmo jeito. Só que eles não vão trilhar o caminho do profissionalismo, que é o que passo no dia a dia”, explicou Campos.

O treinador afirmou que o objetivo do projeto é profissionalizar jogadores, porém, “acima de tudo, formar cidadãos e evitar que os meninos entrem no mundo do crime”.

A Escolinha Vida Ativa, antigamente conhecida como Escolinha Ginga, de acordo com Campos, profissionaliza adolescentes para serem contratados por grandes clubes do Brasil.

“Aqui, não tem brincadeira. Eles vêm para aprender. Quando estamos fazendo fichas e cadastrando, eu já aviso que aqui não é para brincar, é para aprender a jogar bola. Porque, se eu só deixar o ‘moleque’ ali correndo com a bola, meu serviço não está valendo nada”, ressaltou o treinador.

A escola mantém contato com o empresário Tadeu Cruz, filho de Milton Cruz, consultor técnico do São Paulo Futebol Clube. Segundo Camargo, Tadeu já enviou muitos garotos para testes em várias partes do país. No momento, conta com seis jogadores que iniciaram o trabalho no Creas e que estão “começando a carreira” em vários clubes.

Campos identifica-se como interlocutor de Tadeu. De acordo com o treinador, se ele percebe que um jogador pode ter futuro na profissão, avisa o empresário, que começa a procurar equipes para o garoto fazer testes.

“Já temos lugares pré-determinados para levá-los, como a Associação Atlética Ponte Preta e o Desportivo Brasil, de Porto Feliz, que é com qual temos mais contato e para aonde enviamos mais meninos”, observou Campos.

A Escolinha Vida Ativa recebe jovens de 9 a 16 anos, de toda a comunidade. Para entrar, basta ir até o Creas e conversar com a coordenadora Nativa Quedevez de Souza. As aulas acontecem de segunda a sexta, em dois períodos, manhã e tarde, com duração de duas horas cada.

De acordo com Campos, ele trabalha com o fundamento do futebol, e mesmo meninos que já estejam em clubes da cidade podem frequentar as aulas para aprimorar os conhecimentos.

O treinador disse que faz preparo físico específico para os garotos aprenderem sobre todas as áreas do futebol, e não somente o jogo em si. Além disso, trabalha um “coletivo”.

O treinamento é feito com todos os meninos juntos, independentemente da idade. Porém, quando eles jogam, Campos separa os jogadores por idade e tamanho, para não haver “perigo de machucar”.

O treinador disse que não dá preparo físico para meninos de nove e dez anos, mas, aos mais velhos, passa alguns exercícios “específicos” para cada idade.

Com os meninos mais novos (nove e dez anos), Campos faz um trabalho “educativo”, o qual, segundo ele, é uma forma de prepará-los e educá-los em campo, sem eles saberem que estão sendo preparados, pois estão com a “bola no pé”. “São chutes a gol, passagem de cone, passagem de vareta, velocidade e defesas”, explicou.

Campos frisou que o objetivo dele não é montar um time, apesar de acreditar ter jogadores suficientes para isso, e, sim, formar atletas, para que alcancem o mercado do futebol. Por isso, ele disse aceitar jogadores que já treinam em clubes da cidade.

“Aqui, vêm meninos de todas as partes da cidade, inclusive, de outros times. Qualquer menino pode aprender, independente de onde ele esteja, do clube que esteja. Se houver a possibilidade de ele vir, com certeza, será bem recebido”, ressaltou.

A Escolinha Vida Ativa, segundo Campos, é “muito” profissional com os meninos. “Mesmo porque, temos um empresário muito forte, que trabalha conosco, que é o Tadeu. Todos os meninos que saem daqui, para qualquer clube que seja, usam o nome dele”.

O treinador afirmou que trabalha com todos os meninos que demonstram vontade e talento no futebol, de forma a prepará-los para irem a clubes grandes. Afirmou, também, que não há intenção, por parte dele ou da escola, de mantê-los no local.

“Não temos o luxo de ter um jogador para a gente, não é interessante, não tem time. Minha intenção é somente fazê-los jogadores”, afirmou Campos, que garantiu não receber dinheiro quando ajuda os meninos a conseguirem ingressar em times.

O treinador sustentou que não é interessante, no momento, montar um time para competir na região, pois o campo de treinamento é reduzido e não há como treinar “pesado” os garotos para competirem em igualdade com equipes que já estão estruturadas.

“Se aparecer campeonato com campo reduzido, eu levo, mas desde que seja em campo ‘society’, de sete contra sete. Mas, em campeonato extenso não tem como levar mesmo”, salientou.

Jogadores de Tatuí

Segundo o treinador, que está há dez anos à frente do futebol do Creas, muitos garotos já saíram do local para jogarem em grandes times e fazerem testes. No momento, ele avalia que há, pelo menos, quatro garotos que possuem grandes chances de jogar profissionalmente.

Há um garoto que está em testes para ser contratado pela Sociedade Esportiva Palmeiras, com “grandes chances de ser contratado, na verdade”

“Já está praticamente certo. É um meia-direita, conhecido como Robinho, por ter a mesma aparência e mesma ‘pegada’”, afirmou Campos.

Ele contou, também, que há outro menino fazendo “estágio” no time Red Bull, de Campinas, que disputa, atualmente, a série A2 do Campeonato Paulista. Ainda há outros garotos fazendo testes em equipes do país afora.

Um dos jogadores que saiu do Creas para um grande time brasileiro, o Cruzeiro Esporte Clube, foi Bruno Campos Bueno. De acordo com o treinador, o menino iniciou na escolinha aos seis anos e, atualmente, com 17, é jogador da equipe, na categoria sub-21.

“Logo, ele vai, pelo menos, sentar no banco de reservas do time principal, porque ele está treinando com os jogadores que vão para a Taça Libertadores da América, e não faz nem dois meses que ele está lá”, salientou Campos.

O treinador disse que, além de viagem para testes, ele procura levar os meninos para conhecerem estádios e campos de treinamentos.

“A coisa mais linda que tem é quando levo esses meninos para os lugares, para o Desportivo Brasil (clube de Porto Feliz), por exemplo. O time tem uma das melhores estruturas da América Latina. Eles ficaram ‘bobos’ de ver, de estarem em um lugar daqueles, ficam apaixonados”, afirmou Campos.

Conforme o treinador, há uma programação para levar os garotos a conhecerem o Estádio “Cícero Pompeu de Toledo” (Morumbi), mas ainda não está concretizada a ideia.

Campos afirmou que a Ponte Preta procurou-o recentemente, querendo jogadores nascidos entre 1999 e 2000. O treinador está procurando uma forma de levar alguns garotos para fazerem testes no local e espera que volte do clube com “boas notícias”.

“Adianto que não é fácil, não é de um dia para outro que as coisas vão acontecer, mas estamos sempre procurando coisas boas para os garotos”, explicou o treinador.

O Creas disponibiliza psicólogos para ajudar na formação intelectual dos meninos, embora o treinador garanta que também trabalha a parte psicológica com os atletas. Disse que é essencial manter um contato de amizade com os garotos.

Campos ressaltou que tenta ensinar que, no futebol, não há “mágica”, que os meninos não conseguirão profissionalizarem-se e viverem somente com o “futebol rápido demais”, o que demanda tempo e dedicação.

De acordo com Campos, os meninos que frequentam a Escolinha Vida Ativa são, na maioria, de famílias carentes, que necessitam de apoio para descobrirem “novos caminhos”.

“Tem também aqueles meninos que são ‘problemas’, que estão andando errado. Então, na conversa e amizade, a gente tenta chegar até eles e tirá-los do caminho errado”.

“Na realidade, minha maior intenção é tirar esses meninos das ruas, das drogas, dos crimes. Se eles vierem a se tornar grandes jogadores, muito bem; se não, vamos contribuir para serem grandes cidadãos e homens de bem”, sustentou o treinador.

Segundo Campos, com o esporte, é possível mudar a realidade de muitos meninos, porque, além de mantê-los focados nos treinos, ele tenta dialogar com todos, para saber sobre a vida deles e aconselhar, quando acha necessário.

“A gente dá todo suporte para eles, trabalhamos em cima, conversamos. Eles não ficam só batendo bola. Nós sentamos, conversamos, conto histórias para eles e tento escutar todos”, ressaltou.

O Creas fica situado à rua Joaquim Souza Miranda, 145, Vale da Lua. O telefone para contato é o 3259-0704.