Coletivo Cê assume a Companhia de Artes Cênicas do Conservatório de Tatuí

De forma inédita, grupo formados por ex-estudante assume a liderança

Espetáculo “1989”, apresentado no 28º Fetesp de 2023 (foto: foto: João Maria da Silva Júnior/Arquivo Conservatório)
Da redação

O Coletivo Cê, formado por ex-estudantes do curso de artes cênicas do Conservatório de Tatuí, assume neste ano a companhia de artes cênicas da instituição.

A decisão, considerada “histórica” pela Sustenidos Organização Social de Cultural, gestora da escola de música, representa a primeira vez que a liderança da companhia é confiada a um grupo de profissionais e não somente a uma única pessoa, modelo tradicionalmente praticado.

De acordo com o Conservatório, até o ano 2022, a responsabilidade pela coordenação da Companhia de Teatro recaía sobre um professor ou artista funcionário da escola.

No ano seguinte, em 2023, a tarefa foi assumida por uma atriz e diretora convidada, Miriam Rinaldi, também em um ato inaugural, sendo a primeira mulher a coordenar um grupo artístico da instituição, fundada há 69 anos.

Para dar continuidade à proposta de, a cada ano, receber um artista convidado residente, agora o Coletivo Cê, “tem a proposta de trazer uma abordagem colaborativa e diversificada para liderar a companhia”.

De acordo com o gerente artístico-pedagógico de artes cênicas do Conservatório, Antonio Salvador, este novo modelo de coordenação “promete trazer uma perspectiva fresca e inovadora, aproveitando a experiência e o conhecimento acumulado pelo Coletivo Cê ao longo da carreira do grupo”.

“A diversidade de habilidades e perspectivas, provenientes de diferentes formações desses e dessas artistas dentro e fora do Conservatório promete enriquecer ainda mais a produção teatral da instituição”, argumentou ele.

“O Conservatório de Tatuí é conhecido por sua tradição na formação de talentos nas artes, e a escolha do Coletivo Cê para liderar a companhia de teatro reforça o nosso compromisso em impulsionar a inovação, a atualização constante e a excelência artística”, acrescentou.

O gerente também afirmou que a possibilidade de convidar para a função uma “referência artística de peso, originária do próprio interior do estado, reduz a concepção de que as grandes referências estão na capital”.

“Neste caso, o Coletivo Cê tem sua sede em Votorantim, município vizinho de Tatuí. Esta também é a missão da ‘BULI’, nossa revista de artes cênicas, e do nosso concurso estudantil de dramaturgia, que buscam destacar e estabelecer pontes entre as produções dos interiores do país e outros lugares, ambos em sua terceira edição neste ano”, destacou.

De acordo com a instituição, o convite para a coordenação da companhia surgiu após a “notável” participação do Coletivo Cê em duas ações da área de artes cênicas do Conservatório: uma matéria realizada na primeira edição da “BULI – Revista de Artes Cênicas” da instituição, em 2022, e presença do grupo como convidado no 28º Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo (Fetesp), “com seu brilhante e premiado espetáculo ‘1989’”.

Além disso, os laços previamente estabelecidos no Conservatório, onde os membros do grupo estudaram, disse contribuir para a oportunidade.

Julio Cesar Mello, um dos integrantes do coletivo, destaca a satisfação em retornar ao Conservatório. “É muito especial para nós voltarmos a esta instituição pela qual temos tanto carinho e apreço. Teremos a oportunidade de reencontrar antigos parceiros, alguns agora atuando como professores e ex-alunos do Coletivo Cê, que antes participavam de cursos profissionalizantes de teatro ensinados por nós e hoje são alunos do Conservatório”, afirmou.

Nessa nova jornada, o Coletivo Cê tem como objetivo “manter a qualidade das produções teatrais e, também, explorar novas abordagens e estilos, proporcionando uma experiência enriquecedora para o público e os artistas envolvidos”.

“Este desafio será único, motivador e instigante. A oportunidade de instruir estudantes que querem se profissionalizar nos possibilita a desempenhar um papel de relevância no cenário artístico local e nacional, colaborando ativamente para o crescimento e desenvolvimento das artes cênicas”, conclui Mello.

Coletivo

O Coletivo Cê é um grupo de artistas profissionais que possui trajetória de 14 anos. Ao longo desse período, o grupo criou espetáculos e filmes autorais, os quais foram contemplados por editais públicos e premiados em festivais.

Além disso, realiza cursos de formação teatral, saraus, cineclubes e outras atividades em parceria com entidades públicas e privadas. O nome “Cê” reflete a transformação da língua portuguesa em sua utilização oral.

A partir da expressão “vossa mercê”, que evoluiu para “vosmecê” e, posteriormente, se tornou “você”, o termo simplificado “cê” surgiu. Essa palavra é amplamente utilizada, especialmente no interior de São Paulo, onde o coletivo fixou a morada.

“Essa simples, no entanto, palavra carrega uma força de significado, relacionado à intimidade e verdade com o espaço e com o outro”, conforme o grupo.

Inscrições abertas

O Conservatório está com inscrições abertas para o processo seletivo de bolsistas para a Companhia de Teatro. Estudantes interessados em integrar o grupo na temporada deste ano podem inscrever-se até a próxima sexta-feira, 26, por meio do formulário disponível no site do Conservatório.

As vagas são para bolsas performance em artes cênicas destinadas a atores e músicos estudantes regularmente matriculados na instituição ou que tenham formação e experiência artística e técnica compatível com o grupo.

Atualmente, o Conservatório conta com grupos artísticos de bolsistas, os quais “visam aprimorar a formação técnica e artística de estudantes em música e artes cênicas da instituição”.

Neste ano, as bolsas terão vigência no período entre 4 de março e 20 de dezembro, oferecendo valores anuais de R$ 7.000 para grupos com seis horas semanais de ensaio e R$ 10 mil para grupos com nove horas semanais de ensaio.

O processo seletivo inclui vagas para ampla concorrência e vagas exclusivas para estudantes de escolas públicas, pessoas pretas, pardas ou indígenas, trans/travestis e pessoas com deficiência.