Clínica interditada é alvo de investigação que apura morte





Interditada na tarde de quarta-feira, 16, por autoridades municipais por conta de irregularidades, a clínica “Liberdade de Vida” já é alvo de investigação policial há um ano.

Inquérito instaurado na Delegacia Central apura o assassinato de José Antônio de Moraes Neto, que estava internado na instituição.

O crime ocorreu no dia 15 de outubro de 2012. Naquela data, representantes da clínica encaminharam Neto ao pronto-socorro. Eles teriam alegado à equipe do ambulatório que o paciente havia tido um mal súbito.

“Ao chegar no pronto-socorro, o médico plantonista viu que a vítima estava já com rigidez cadavérica”, afirmou o delegado que preside as investigações.

José Alexandre Garcia Andreucci informou que o médico teria dito que Neto havia falecido horas antes do encaminhamento.

Também constatou que ele apresentava vários hematomas no corpo e no rosto. “Por esse motivo, ele não aceitou fazer o atestado de óbito e procurou a PC”, disse o titular.

Andreucci acionou o GTO (Grupo Tático Operacional), que iniciou as investigações. Na época, a equipe conseguiu apurar que Neto havia morrido durante a madrugada.

Ele havia chegado na noite do dia 15, tendo sido transferido da unidade da clínica que funcionava na cidade de Bragança Paulista.

O paciente havia sido medicado com calmantes e posto na sala de contenção. “Como ele não conseguia dormir, ficou agitado. Os outros internos que estavam com ele, na cela de castigo, acabaram batendo nele e o asfixiando com cobertor. De manhã, detectaram que ele estava morto”, relatou o delegado.

A PC elaborou auto de prisão em flagrante contra Andrei Trench, 25, e Danilo da Silva Ribeiro, 28. Os dois teriam espancado Neto até a morte – com quem dividiam a sala, na época intitulada “de reflexão”. “O caso deu ensejo à inauguração de investigação sobre essa clínica”, comentou.

A PC chegou a ouvir representantes da clínica por conta de supostas irregularidades. Tiveram de apresentar alvarás e nomes de médicos responsáveis.

Tempos depois do homicídio, houve registro de dois fatos no 1º Distrito Policial, de maus-tratos e tortura. De acordo com o delegado titular, eles foram registrados por ex-internos que teriam saído da clínica e apresentado queixa. Eles reclamaram que apanharam e ficaram “sob cárcere privado”.

Andreucci informou que as queixas foram repassadas ao delegado plantonista. “Isso deu respaldo para que ele autuasse os responsáveis e reforçou a ideia de que, na clínica, eles estavam agindo de forma arbitrária”.

Andreucci informou que, de outubro do ano passado para outubro desse ano, as condições da sala de contenção da clínica pioraram.

De acordo com ele, após a morte do interno, a clínica fez uma nova construção. O delegado comparou as condições do espaço como a de um “bunker usado pelos nazistas”.

Conforme o titular, o local era usado para abrigar internos recém-chegados e para os pacientes que apresentavam mau comportamento durante o tratamento.

Andreucci também destacou outra irregularidade no funcionamento da Liberdade de Vida: ex-internos sendo responsáveis pelos internos.

“Mesmo que estivessem recuperados, de qualquer jeito, eles não tinham capacidade técnica para exercer qualquer função dentro da clínica”, avaliou.

O delegado informou que a PC investigará, também, acusação de exercício irregular da profissão. Conforme ele, o proprietário da clínica, Victor Custódio Ribeiro, não tinha registro na função de terapeuta. “Ele não tem curso, embora tenha falado, em primeiro depoimento, que era terapeuta”.

Além de prestar depoimentos, todas as pessoas custodiadas na clínica passaram por exame clínico para detectar marcas de lesões. Eles serão, nos próximos dias, liberados para responsáveis ou familiares. “Os parentes estão chegando porque souberam do caso através da mídia nacional”, contou o delegado.

Andreucci lembrou que, nos últimos 12 meses, autoridades locais fecharam outras duas clínicas em Tatuí – uma delas, na verdade, um asilo irregular. De acordo com ele, o problema dessas clínicas é que elas operam como negócio.

“Logicamente que algumas delas são irregulares. Não posso falar de todas, mas, de forma geral, elas visam sempre lucro”, comentou.

Os familiares dos internos da Liberdade de Vida pagavam, em média, R$ 1.800 para mantê-los na clínica, “porque acreditavam que eles estavam passando por trabalho de recuperação”.

O delegado disse que os familiares devem tomar cuidado e verificar as condições dos locais antes de decidir pela internação dos parentes.

Segundo ele, é preciso verificar se o local tem registro e autorização para funcionamento, mantém corpo clínico e psiquiátrico, além das condições das instalações.