Clara Brandão: o doce sabor do trabalho

História da família Brandão Fonseca, da Clara e Cia. com os doces remonta a 1942

Clara Maria Brandão Fonseca (foto: Carlos Serrão)

Da reportagem

Dona Clara Maria Brandão Fonseca é um poço de energia, do alto de seus 71 anos. Simplesmente “não para”. Às 6h30, já está trabalhando na Clara e Cia., uma das mais conceituadas e tradicionais docerias de Tatuí, há nove anos conhecida pelos sabores finos que produz.

Não raro, é meia-noite e ela ainda está finalizando bolos e doces na cozinha da aconchegante sede da loja – localizada na travessa Monsenhor Magaldi, 320, centro, próxima à maternidade municipal.

Os motivos são concretos e dignos, mas, para ela, apenas “simples”: “por amor e por não conseguir ficar parada; trabalho é terapia”.

Doce produzido por Clara & Cia. (foto: Giorge de Santi)

Viúva, para Dona Clara, ficar em casa parada é motivo para ficar “pensando besteira”. E ela, definitivamente, não quer isso para a vida. “Deus me livre, não quero nem de graça”, garante.

A história dos Brandão com doces, na verdade, começa em 1942, com outra Clara, a bisavó da personagem desta reportagem.

No começo, ainda não era uma doceria, apenas se fazia entregas de doces caseiros e bolos por encomenda. A mãe de Dona Clara, Idalina Rocha Brandão, mais conhecida como Dona Lucha, fazia os bolos de casamento, aniversário e outros, a fim de complementar a renda, porque já exercia a função de professora.

“Minha mãe era famosa. A maioria dos noivos fazia bolo com ela”, lembra Dona Clara, que começou a ajudar na tarefa aos oito anos. “Eu pingava dois quilos de suspiro por dia”, lembra.

A primeira a trabalhar com docinhos foi Dona Clara, e, conforme os pedidos apareciam, ela ia colocando-os no mercado para venda. No entanto, desde os tempos da bisavó de Dona Clara, o sonho da família era ter uma loja.

Finalmente, isso realizou-se com Fernanda e Roberta, filhas de Clara. “Fernanda se formou em processamento de dados e trabalhava em São Paulo; Roberta é formada em matemática, mas eu ensinei a arte dos doces para elas aos oito anos também”, lembra a matriarca.

“Elas resolveram montar a loja e eu incentivei. Disse: ‘Eu ajudo vocês’”, conta Clara. Atualmente, além da unidade de Tatuí, comandada por Fernanda, a Clara e Cia. tem uma unidade em Rio Claro – (19) 3524-3440 -, administrada por Roberta.

“Pedi que o nome da loja fosse Clara por causa da minha bisavó, da minha mãe, para homenageá-las. Assim, de onde elas estiverem, sabem que o sonho delas se concretizou”, conta Dona Clara.

É responsabilidade dela, acentua, fazer os cursos de atualização e passar o conteúdo para as filhas. No momento desta entrevista, ela comentou, rindo: “Nesta semana, vou para São Paulo e, na outra, para Curitiba. Minha agenda está cheia. Já pagaram para eu ir duas vezes para a França, olha que chique!”.

Quando viaja, pega metrô sozinha e se locomove com desenvoltura. Só não gosta de ir a São Paulo, por achar muito violenta. Mas, para quem pensa que o dia dela é só cozinha, há a Clara motorista também: é ela quem leva as netas para a escola, ao inglês e às atividades do cotidiano.

Como se não bastasse, semanalmente, ela se encontra com um grupo de amigas para fazer orações e ainda se distrair com “um pouquinho de fofoca”, confidencia.

O único dia de folga de Dona Clara é domingo, quando a loja não abre. Folga? “Eu sinto falta de trabalhar, de conversar com os clientes, então, fui trabalhar na festa da Igreja Sagrada Família. Lá, como aqui, trabalhei bastante, e o tempo não passou”.

A elaboração dos novos doces é das filhas, e ela as ajuda a executar as receitas. “Os clientes pedem novidade a toda hora”, sustenta.

(foto: Giorge de Santi)

E o que significa ser uma das principais referências em doces na Terra dos Doces Caseiros? “Nos honra muito, e é por isso que fazemos tudo com muito amor e carinho aqui dentro”.

Ela faz questão de mostrar o “Bolo da Família Holtz”, tradição entre os parentes da atriz tatuiana. “É um bolo recheado com leite condensado, cozido com nozes, cocada e ameixas pretas, com cobertura de marshmallow”, descreve, mostrando o bolo à reportagem.

“Sempre foi tradição no Natal da família uma tia vir comprar para a ceia. Ela morreu e uma sobrinha assumiu a função. Então, a própria Vera o batizou. É o mais vendido da loja”, destaca, orgulhosa.

Saúde

Somente agora, aos 71 anos, Dona Clara começa a sentir o desgaste de tanto trabalho. Seu joelho talvez precise de uma prótese, mas ela não parece nem um pouco preocupada. Afirma não tomar nenhum remédio, “nem para dor de cabeça”, e ter uma saúde de ferro.

“Tudo o que a gente faz com amor faz bem. Eu ensinei minhas meninas desde os oito anos. Minhas netas, com 13 anos, já querem entrar no ramo. A vida é tão boa. A gente tem de estimar. Os problemas eu encaro como se não tivesse problema”, ensina.

Ela foi auxiliar de enfermagem por cinco anos na Santa Casa, no plantão noturno, mas não largou os doces, aos quais se dedicava durante o dia.

“Mas, meu marido achava muito desgastante e quis que eu largasse. Melhor coisa que eu fiz: voltei só para os doces”, a conclui matriarca, sincera e feliz.

1 COMENTÁRIO

  1. Conheço, e a Clara realmente não para!. Fora da qualidade e irresistível sabor de seus doces.
    Parabéns Clara 👏👏👏

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