David Bonis
Comandante Cláudio Augusto pede responsabilidade aos munícipes para não atearem fogo em terrenos e destruir vegetação
Ao receber a informação, pelo telefone 193, de que está ocorrendo incêndio na cidade, a sirene é tocada no 2º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros. A partir de então, os oficiais têm um minuto e 30 segundos para saírem do batalhão em direção à ocorrência.
Esse tipo de ação tornou-se corriqueira neste período de falta de chuvas. Entre maio e novembro, período de menor incidência de precipitações, o Corpo de Bombeiros local atende, em média, a quatro chamados de incêndio por dia. Às vezes, esse número sobe para até sete ocorrências.
Desse total, de acordo com o comandante do 2º Subgrupamento do Corpo de Bombeiros, o capitão Cláudio Augusto Antunes da Silva, 99% dos casos ocorrem por ação de moradores.
São atos como, por exemplo, atear fogo para destruir móveis velhos, mato capinado, ou limpar a vegetação de terreno baldio. A expressão dos bombeiros para esse tipo de ação que gera incêndio é “fogo em mato”. Essas são as ocorrências que a corporação mais tem atendido no município.
Dados do 2º Subgrupamento mostram que, do mês de junho a setembro, o Corpo de Bombeiros atendeu a 94 ocorrências de “fogo em mato”.
Os locais mais afetados foram: Jardim Wanderlei, Residencial Astória, Santa Rita, vila Angélica e áreas rurais, de acordo com documento enviado a O Progresso pelo comando do batalhão.
Há diversos problemas atrelados à prática de atear “fogo em mato”. O primeiro é que as chamas se espalham mais rapidamente devido ao clima seco e ao vento. Isso força o efetivo a deslocar-se em alta velocidade até o local, para impedir que o incêndio se propague.
Caso o incêndio esteja acontecendo em um dos bairros próximos à corporação, localizada na rua Domingos Bassi, 855, a viatura deve chegar em até oito minutos, de acordo com estratégia definida pelos oficiais locais.
Em distâncias mais longas, como ocorrências em áreas rurais e rodovias, por exemplo, o tempo mínimo de chegada ao local sobe para 20 minutos.
“Em uma ocorrência pequena, em local mais próximo, levamos cerca de 30 minutos para ir, solucionar e voltar. Em locais mais distantes, levamos mais de uma hora. Imagine esse processo quatro ou cinco vezes ao dia, para atender ocorrências que poderiam ser evitadas pela própria população?”, questiona o comandante.
Entre as complicações que o excesso de ocorrências gera, estão o desgaste físico e psicológico dos oficiais e dos materiais disponíveis à corporação.
Outro problema inerente às ocorrências de fogo em mato, segundo ele, diz respeito à saúde dos moradores próximos aos locais dos incêndios. Com a baixa umidade relativa do ar – nesta semana, o índice caiu para 17% -, mais a incidência da fumaça, crianças e idosos são os mais prejudicados.
O terceiro problema que esses incêndios “evitáveis” geram é o deslocamento do efetivo, que poderia atender a ocorrências consideradas “mais graves”, como resgate de feridos em acidente automobilístico.
Atualmente, o efetivo do 2º Subgrupamento trabalha com um número de oficiais restrito. Tanto que a ideia é abrir concurso público, a partir de janeiro do ano que vem, para complementar o plantel com mais nove homens.
Há no batalhão 19 bombeiros militares e três civis. Para atender às ocorrências, ficam disponíveis, diariamente, o mínimo de sete homens, segundo a estratégia determinada no 2º Subgrupamento.
Caso ocorra incêndio de grandes proporções, todos os bombeiros – inclusive, os que estão de folga e de férias – são chamados para ajudar. Caso o efetivo disponível não dê conta, bombeiros de Sorocaba são acionados. O mesmo ocorre quando acontecem incêndios em município próximo.
No que diz respeito aos equipamentos, a corporação local tem à disposição duas viaturas de resgate e três de incêndio.
Essa é a estrutura humana e de material para atender Tatuí, Capela do Alto, Quadra e Cesário Lange. Por isso, o comandante do 2º Subgrupamento pede “ajuda” à população, para que ninguém ateie fogo a fim de limpar nada.
“A maioria desses casos acontece porque pessoas colocam fogo para limpar, e nós somos chamados porque o fogo saiu ou pode sair do controle”, explica.
“Quem mais pode nos ajudar a diminuir os índices de incêndio é a própria população. Para fazer essas limpezas em terreno, destruir mato, faça de outro jeito – capinando, por exemplo. Nunca com fogo. Uma ação dessa afeta toda a cidade”, aconselha o comandante.
Além dos incêndios causados para limpar espaços, outro tipo de ocorrência comum no período de seca acontece em decorrência do descarte errado de restos de cigarro.
“Nesse período seco, o calor da ‘bituca’ aumenta a possibilidade de acontecer um incêndio se ela cair perto do mato, que está ressecado. Por isso, é sempre bom ficar atento em relação ao lugar onde está descartando o cigarro”, completa.
Esse clima ressecado, decorrência da falta de pancadas de chuva, aumenta a possibilidade de incêndios. Porém, não é só isso: a falta de chuva interfere, inclusive, no trabalho do Corpo de Bombeiros.
O comandante diz que ainda não faltou água para os bombeiros atenderem à população. No entanto, a corporação recebeu um pedido do batalhão central, que fica na cidade de São Paulo, para economizar água.
Dessa forma, os bombeiros passaram a treinar e realizar simulações de incêndio sem usar água. De acordo com o comandante Cláudio Augusto, esse tipo de atitude já é comum dentro da corporação, que busca sempre diminuir o desperdício.