Da reportagem
O Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Ford em Tatuí completou, no mês de outubro, 45 anos de operação na cidade, mantendo-se referência nacional do setor automobilístico.
Até o início dos anos 1970, o Brasil não tinha nenhum campo de provas específico para o desenvolvimento de veículos. A única opção das marcas instaladas aqui era testar os carros nas ruas, ou enviá-los ao exterior.
Além de uma estrutura completa para o desenvolvimento, testes, validações e homologações dos modelos do portfólio atual do Brasil e da América do Sul, o campo de provas conta com profissionais que atuam em projetos globais de veículos e tecnologias “de mobilidade do futuro”.
Desde 2018, o Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Ford teve o escopo ampliado e passou a prestar serviços também para outras empresas, tanto da área automotiva como de outros setores, de forma pioneira na região. Junto com essa mudança, foi feita a troca de nome da unidade, que até então era conhecida como Campo de Provas de Tatuí.
Para a gerente do Centro de Desenvolvimento, Marinna Silva, o campo de Tatuí teve uma participação importante em todos os projetos de veículos desenvolvidos e lançados pela marca.
Atualmente, segundo ela, o local está integrado ao ecossistema global de inovação da marca, “com uma estrutura completa e um time de excelência de engenharia que trabalha no desenvolvimento de veículos globais e tecnologias de ponta, reconhecido mundialmente pela sua competência e talento”.
A unidade é uma das sete da Ford no mundo, ao lado das existentes nos Estados Unidos (três), Europa, Austrália e China. Sua estrutura de padrão mundial permite testar veículos para o Brasil e para outras regiões, como Estados Unidos, China e Europa, reproduzindo as condições e os desafios desses locais a partir da correlação de pistas.
Na cidade, o complexo ocupa uma área total de 4,66 milhões de metros quadrados, dos quais 3,63 milhões são de áreas verdes preservadas, com árvores nativas, e mais de 360 espécies de animais.
Seus 40 quilômetros de pistas de terra e 20 de pistas pavimentadas incluem áreas de alta e baixa velocidade com diferentes tipos de piso e traçados, como areia, cascalho, pedras e lama, além de lombadas, obstáculos, tanque de transposição de água e rampas com até 40 graus de inclinação.
Ela explicou que o local está preparado para realizar mais de 440 tipos de testes, como avaliação de durabilidade, calibração, desempenho e segurança, além de homologação.
Fora isso, os laboratórios de emissões, desmontagem e análise de peças, dinamômetro de motores, vibroacústico e simulador de estradas para avaliação de suspensão realizam testes que atendem a normas nacionais e internacionais.
“Há também as áreas de suporte, com garagem experimental, montagem de protótipos, almoxarifado, posto de combustível e carregadores de veículos elétricos”, explicou
De acordo com o diretor de engenharia Alex Machado, recentemente, a montadora anunciou o aumento da equipe de engenheiros para 1.500 profissionais, distribuídos entre a sede, em Camaçari, na Bahia, e o campo de provas local.
Segundo ele, 85% do novo time foi contratado para dar apoio às operações da Ford globalmente, e os outros estão na “incumbência de prover serviços de engenharia para as demais unidades da montadora”.
Machado explicou que a equipe de engenheiros que desenvolvem projetos no centro tem a responsabilidade de desenvolvimento de adaptações para os veículos comercializados localmente. Ele citou a picape Ranger, a qual foi modificada para uso policial, e o utilitário “Transit”, transformado em ambulância.
“Os engenheiros dessa equipe trabalham em sincronia com os fornecedores dos implementos e estão aptos a desenvolver e validar diversas soluções, de acordo com a necessidade dos clientes”, concluiu.
História
O Campo de Provas da Ford de Tatuí foi fundado em 1978 e, desde o início das atividades locais, já contava com uma estrutura completa para a realização de testes de desempenho e segurança de veículos fabricados pela montadora.
Todos os modelos eram convocados para serem testados na cidade. Os testes dos primeiros modelos do Escort foram feitos no campo local. Depois, o modelo começou a ser exportado para os países escandinavos.
A Ford aproveitou que o local era uma antiga fazenda de milho e iniciou o treinamento de uso de tratores fabricados no Brasil entre os anos 70 e 80.
De acordo com a assessoria da montadora, a cidade foi escolhida por razões estratégicas. Além de chover pouco, os 146 km de distância para a cidade de São Paulo a mantém longe do “olhar de curiosos”.
E não era só a Ford que usava a pista. Na época da Autolatina (1987-1994), os carros da VW também eram testados na cidade.
No campo local, foi desenvolvido um exemplar único do Escort XR3 para servir de carro de segurança do GP do Brasil de Fórmula 1 em 1984. Ele inspirou uma série especial do modelo.
