Operação deflagrada pela Polícia Civil na quarta-feira, 21, resultou na prisão em flagrante de um casal por exercício ilegal da medicina. De acordo com investigações, marido e mulher atuavam em uma residência no Jardim Wanderley.
A detenção ocorreu a partir de verificação de denúncia anônima feita à PC. Conforme explicou o delegado titular do município, José Alexandre Garcia Andreucci, havia informação de que uma mulher estava prometendo “verdadeiros milagres”.
Atendendo como taróloga e utilizando o nome de “Rita”, a mulher fazia consultas, dava diagnósticos e prescrevia tratamentos. “Ela prometia trazer a pessoa amada de volta e, nas consultas, curas de doenças graves, como problemas de próstata e câncer”, destacou.
Além da denúncia, a PC juntou, como prova, propagandas afixadas em postes e muros públicos e particulares. No material publicitário, a taróloga dizia que era “recém-chegada da Bahia”, descrevia os serviços e informava os contatos.
“Nos últimos meses, a cidade foi inundada pelas propagandas dela”, afirmou Andreucci. Com base nisso, o titular montou uma operação. Ele contou com a colaboração de duas funcionárias da Delegacia de Polícia Central e de um investigador.
Os três marcaram consultas e simularam problemas na família. “Eles foram instruídos a aguardar parecer”, citou o delegado. A equipe também gravou as consultas enquanto outro grupo de investigadores monitorava o local. Os policiais civis aguardaram o atendimento do lado de fora da casa.
Na primeira consulta, uma das funcionárias da delegacia disse que o noivo (o investigador) estaria com problemas na próstata. “Ela falou que, provavelmente, seria um câncer”, citou Andreucci.
Já a outra funcionária, na segunda consulta, afirmou que estava em busca de um namorado e que precisava de ajuda.
Para atendê-las, a taróloga teria cobrado R$ 50 por consulta. Depois, pedido mais R$ 400 para o tratamento do problema de próstata relatado pelo primeiro casal. “Elaprometeu que a cura seria em menos de 15 dias”, relatou o titular.
Na sequência à conversa, os investigadores entraram no imóvel e detiveram a mulher. O marido dela, que, segundo a PC, desempenhava a função de segurança, também recebeu voz de prisão.
Na casa, a equipe apreendeu um caderno com anotações. De acordo com Andreucci, a taróloga escrevia os nomes e os valores dos serviços prestados para os últimos 20 clientes. Todos atingiam média de R$ 500 – o equivalente a R$ 10 mil pelos atendimentos.
Conforme o delegado, o casal aplicava golpe que consistia em cobrar R$ 50 de consulta e entre R$ 400 e R$ 450 para o tratamento. Andreucci informou, também, que o casal teria vindo da Bahia havia dois anos.
“Eles estavam em casa alugada, bem montada, mas já haviam comprado um terreno em Tatuí com o dinheiro dos golpes, e estariam construindo”, comentou.
A taróloga e o marido também teriam adquirido um veículo “bom” (de cor, modelo e ano não informados) com as consultas e os tratamentos. “Eles, inclusive, apresentaram escritura para comprovar que tinham bens”, citou o titular.
Andreucci afirmou que a liberdade de religião e de culto no Brasil é prevista pela Constituição. Entretanto, disse que são proibidos “atentados contra os costumes e golpes”.
“Este é o caso do casal detido. Eles prometiam cura para doenças incuráveis, ou que dependiam de tratamentos difíceis”, argumentou.
Dessa maneira, o delegado entendeu que os envolvidos “tiravam vantagem da fragilidade dos clientes”. Detido em flagrante, marido e mulher responderão por tentativa de estelionato, obtenção de vantagem indevida, exercício irregular da medicina (caracterizado pelo anúncio de cura de doenças graves e prescrição de tratamentos), curandelismo e charlatanismo.
Para o delegado, outro fato grave é que as vítimas deixavam de procurar solução médica por acreditar na cura milagrosa. “Isso poderia agravar muito mais a situação física das pessoas que procuraram a taróloga”, ressaltou.
Identificada como Camila Aparecida Micoliti Petrovischi, 18, a taróloga “Rita” teve transferência para cadeia da região na quinta-feira, 22. O marido dela, Fabrício Jonavich, 22, também acabou detido e transferido para outro município.
Os suspeitos são descendentes de sérvios e se mudaram para Tatuí depois de terem morado na Bahia. Andreucci informou que, apesar de a mulher não emitir nota fiscal ou fazer alguma prescrição por escrito, ela cometeu crimes.
“O exercício ilegal da medicina não é só por escrito, pode ser verbal. De um jeito ou de outro, ela estaria fazendo a função, praticamente, de um médico, coisa que não tem autorização”.
A PC quer, agora, verificar se o casal possuía esquema com lojas da cidade de Sorocaba. Isso porque os clientes recebiam indicação para adquirir velas, ou outros materiais, no município vizinho.
Para facilitar os “trabalhos”, a taróloga ofereceria os objetos a preços superfaturados. “Fazendo assim, ela tinha um lucro absurdo”, disse Andreucci.
No caderno de anotações, a PC encontrou a descrição dos trabalhos solicitados. Entre eles, um pedido que envolvia sessão do tribunal do júri de Tatuí.
O casal detido tem dois filhos pequenos. As crianças foram deixadas na casa de vizinhos e, depois, entregues ao Conselho Tutelar. Andreucci informou, porém, que os avós das crianças, que estavam em São Paulo, as acolheram.