Casa de Apoio ao Irmão de Rua inicia comemorações de Natal no domingo





A Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José realiza neste domingo, 20, a entrega das “sacolinhas de Natal” aos moradores e frequentadores do local. A expectativa é de que sejam entregues cerca de 40 kits de higiene pessoal, composto de toalhas, chinelos e aparelhos de barbear, entre outros itens de primeira necessidade para eles. Na sequência, será oferecido almoço “especial”, com a presença de Papai Noel.

Para o dia 24, véspera de Natal, haverá a tradicional ceia. Assim como nos anos anteriores, ela será servida às 19h, e o cardápio inclui leitoa assada, frango, macarronada, farofa e maionese. “Tudo é feito com muito amor para eles”, diz a presidente e fundadora do espaço, Margarida Maria do Carmo Oliveira, 60.

Como parte das comemorações, a Casa foi toda decorada e um presépio, montado, com o intuito de tornar o ambiente o mais familiar possível.

“Com isso, muitos aprendem que a família é importante, e voltam para suas famílias”, comentou a presidente. Alguns ainda sentem o abandono da família, especialmente nesta época do ano, e, mesmo com todos os presentes, não conseguem se alegrar.

“Vejo que eles ficam felizes com o que ganham, mas falta a presença de familiares”, lamenta Margarida.

Fundada em 16 de fevereiro de 2000, a Casa de Apoio ao Irmão de Rua tem dupla função: além de servir como albergue, é também um lar para aqueles que desejam mudança de vida.

O local abriga cerca de 40 moradores recolhidos pelos voluntários nas ruas da cidade, ou que foram levados para continuar tratamentos médicos após receberem alta em hospital.

Muitos deles, sem perspectivas de vida e abandonados pela família devido à dependência do álcool, cigarro e drogas ilícitas, permanecem por lá. Outros vão apenas fazer as refeições e tomar banho.

A instituição depende exclusivamente de doação, partidas de empresários, moradores da cidade e fiéis da igreja, além de receber uma verba do governo destinada ao pagamento de profissionais da área de saúde, assistência social e transporte dos doentes para consultas e pronto-socorro, entre outros tratamentos médicos.

Conta, também, com a colaboração de nove voluntários, que dividem as tarefas e mantêm o ambiente limpo e organizado.

A partir das doações, é elaborado, diariamente, o cardápio “bastante equilibrado”, contento arroz, feijão, carne, legumes e salada. Por dia, são oferecidos café da manha, almoço, café da tarde, jantar (normalmente, uma sopa) e, pouco antes de dormir, a ceia.

A ideia de abrigar os indivíduos surgiu quando a fundadora, Margarida, sentiu que poderia fazer algo para mudar a vida deles. “Iniciamos as atividades nas ruas, levando alimentação, cobertor, conversando com cada um deles, conhecendo sua história, ensinando a rezar e falando de Deus”, explicou.

Após analisar a realidade das ruas, foi decidido criar um espaço onde esses moradores pudessem tomar banho, ter alimentação digna e, sobretudo, conseguirem forças para largar o vício e tivessem o mínimo de qualidade de vida.

“No começo, estava dando tudo certo: eles vinham comer, tomar banho. Mas, aí, começaram a aparecer os doentes, e tivemos que mudar de estratégia. Por isso, decidimos vir para este local” completou ela.

A Recuperação

O objetivo da Casa é fazer com que os frequentadores e moradores consigam, por vontade própria, deixar de fumar, beber e usar drogas em geral, sem que precisem usar medicamentos.

Para a fundadora, o local não é uma casa de recuperação, e sim uma comunidade ligada à Igreja Católica, reconhecida pela Diocese de Itapetininga, que busca, por meio da oração, recuperar os indivíduos e torná-los aptos ao convívio social.

A presidente afirma que o método funciona e que vários usuários que passaram por lá puderam iniciar uma vida nova. Porém, não soube informar o número exato de recuperados.

Um exemplo é a atual voluntária Maria de Fátima Claudio Gutierrez Pennache, 54. Ex-moradora e viciada em bebida, veio do Paraná e já havia passado por diversas clínicas de recuperação, mas acabava voltando para as drogas.

“Cheguei aqui, na Casa, pelo hospital, pois eu entrei em coma alcoólico e, como eu morava na rua, eles me trouxeram pra cá. Eu bebia muito quando decidi parar”, conta Maria.

A voluntária é a única mulher atendida até hoje na instituição, pois o ambiente está estruturado para receber apenas homens. Porém, foi acolhida pela coordenação e se tornou um exemplo. Há três anos não tem mais contato com bebidas alcoólicas.

“Agora, eu ‘amiguei’, saí daqui, aluguei uma casinha, mas venho todo dia ajudar a preparar a comida”, completa ela.

Muitos chegam doentes e recebem tratamento médico pelo SUS (Sistema Único de Saúde), como foi o caso de Laércio Henrique, 54. Há seis anos morando na Casa, considera o lugar um verdadeiro lar, para ele melhor que o da própria família.

Deficiente visual, ele diz que recebeu todo tratamento e apoio necessário e, por conta disso, não quer mais voltar para a verdadeira família.

“Aqui é mais do que minha casa. Tem a Santa Casa e aqui é a Casa Santa”, brinca Henrique. O morador conta, também, que chegou sem condições de andar e o corpo bastante debilitado, quando foi dada a ele toda a assistência.

Porém, mesmo sendo feitas diversas tentativas, não foi possível recuperar a visão dele.