Carnê ‘extra’ gera manifestos após encerramento de desfile





Cristiano Mota

Manifestantes exibiram cartazes e reclamaram de não poder utilizar caminhão de som em passeata

 

Valdomiro Silveira mora no Senna Ville e, na manhã de segunda-feira, 11, deslocou-se do bairro para reclamar do carnê suplementar do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano). A Prefeitura emitiu neste mês o segundo carnê para cobrar a diferença do tributo, a partir de decisão do TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo.

Silveira fez coro à manifestação ocorrida na rua 11 de Agosto e iniciada após o encerramento do desfile cívico em comemoração aos 188 anos do município. “Vim protestar porque nessa semana recebi a mesma quantia do início do ano”, afirmou ele.

O homem, de 65 anos, disse estar indignado com o valor constado no segundo carnê. No início do ano, afirmou ter pagado R$ 84 para quitar o imposto. Neste mês, recebeu carnê para pagar mais R$ 80 em até cinco vezes. “Eu nunca vi isso na minha vida. Nenhuma cidade ou morador merece isso”, declarou.

Elaine Paulino também participou do protesto. Moradora do Jardim Tóquio, ela reclamou do valor do tributo e alegou que o imposto pago pelos contribuintes “não se reverte em benefícios para o bairro”.

“É uma vergonha. Moro num bairro que não tem posto de saúde, com buracos na rua, com creche que está cheia de mato. Tudo de péssima qualidade”, argumentou.

A participante considerou o segundo carnê “abusivo” e disse que precisará desembolsar mais R$ 117 para completar o valor do imposto. Em março deste ano, Elaine afirmou ter pagado R$ 123. “É por isso a revolta da população, porque não vemos o resultado do dinheiro”, adicionou.

Exibindo cartaz contrário ao imposto, Valter Senna sustentou que a cobrança do carnê pegou a “população desprevenida”. Morador do Jardim Wanderley, ele afirmou que precisará pagar mais R$ 86. “Eu paguei no início do ano R$ 136 do IPTU. Agora, veio o acréscimo”, contou.

“Com a crise que provocou demissão nas empresas, fica complicado. Para o pobre, isso aí (o carnê suplementar) é ruim. Não está certo”, afirmou.

Organizador do evento, Eleandro Leonel acrescentou que o protesto ocorreu “contra todas as promessas não cumpridas pela atual administração”.

Conforme ele, integraram o movimento estudantes, professores, funcionários públicos municipais e contribuintes “insatisfeitos”. “Tem pessoas de todas as partes. E nós só estamos iniciando, vamos ganhar força”, declarou.

A organização projetou o manifesto por meio de redes sociais e do popular “boca a boca”. Os manifestantes, no entanto, não conseguiram passar pela rua 11 de Agosto, como gostariam.

A GCM (Guarda Civil Municipal) não autorizou a passagem do caminhão de som, que ficou estacionado em frente à Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Eugênio Santos”, local de concentração.

O veículo havia sido levado pela organização como forma de “chamar a atenção das autoridades”. Como não pôde ser utilizado, os contribuintes decidiram caminhar a pé pela rua 11 de Agosto até a Praça da Matriz. Eles afirmaram que queriam realizar um protesto pacífico e reclamaram da ação da GCM.

“Estamos sendo bloqueados. Ficou combinado que, depois da cavalaria, eles (a Prefeitura) nos deixariam entrar. E não foi isso que aconteceu”, reclamou Leonel. O organizador declarou que “os contribuintes ficaram irritados com a atitude do comando da GCM, que os impediu de usar o caminhão”.

O diretor do Departamento de Segurança Pública, delegado Onofre Machado Junior, conversou com os manifestantes e, em entrevista à reportagem, negou as informações. Ele sustentou que a GCM não havia recebido formalmente nenhum comunicado a respeito do protesto, ou uso de veículo.

Segundo ele, a decisão de não permitir que o caminhão de som passasse foi tomada “exclusivamente para preservar a integridade das pessoas e a ordem pública”.

“O comandante (Doraci Dias de Miranda) foi comunicado a respeito de intenção de realização de um movimento ao final do desfile cívico, mas, em momento algum, falaram em uso de caminhão de som”, disse Machado Junior.

Também conforme ele, a GCM não impediu a manifestação. “Absolutamente. Tanto é que eles estão todos aqui”, comentou.

Ocupando as arquibancadas, os contribuintes voltaram a exibir cartazes com críticas ao carnê suplementar. As mensagens também incluíam queixas sobre a administração.

Machado Junior afirmou que o comando optou por não permitir a passagem do caminhão pelo fato de as equipes de montagem estarem retirando a estrutura.

Também disse que não poderia deixar o veículo passar por causa do fluxo de pessoas. “No meio de populares, seria um risco liberar”, argumentou.

Também conforme ele, o desentendimento entre os organizadores e os guardas não teria ocorrido caso houvesse comunicação prévia. “A manifestação é democrática, legítima. Nós vivemos num país democrático. Agora, temos de ter ordem e respeito. Esse é nosso posicionamento”, concluiu.