CRÔNICA
Mouzar Benedito*
Em 31 de outubro, comemoramos o Dia do Saci, mas tem gente que prefere comemorar o Halloween, festa religiosa de origem europeia, que os Estados Unidos transformaram numa festa comercial e espalharam pelo mundo.
Para as festas do Halloween muita gente se veste de bruxa, achando que bruxas são seres malvados, que usam seus poderes mágicos para fazer ruindades. Não é assim…
Essa fama surgiu quando tinha na Europa um tribunal chamado Santa Inquisição, que perseguia pessoas contestadoras, que não seguiam a fé cristã. E a condenação era a morte em fogueira.
Muitas mulheres sábias foram queimadas porque não eram obedientes aos religiosos e reis da época. E o motivo alegado para a condenação era esse: eram hereges, contra o cristianismo.
Mas em Portugal não aconteceu bem isso. O país estava colonizando o arquipélago dos Açores e precisava mandar gente pra lá. Assim, mulheres acusadas de bruxaria eram mandadas pros Açores. E entre elas havia mesmo várias bruxas que entendiam muito de ervas medicinais, eram parteiras, benzedeiras… nada de maldade.
Elas passaram seus conhecimentos para as filhas, que foram passando em frente, por várias gerações, até que Portugal resolveu colonizar a ilha de Santa Catarina, onde fica Florianópolis. E mandou gente dos Açores para lá.
Entre as pessoas enviadas, havia muitas bruxas, que continuaram fazendo o que sabiam e passando seus conhecimentos às filhas. Hoje existem muitas bruxas no entorno da lagoa da Conceição.
São mulheres como as outras, nada de verruga no nariz e voar em vassouras. Como aprenderam com suas ancestrais, são benzedoras, parteiras e praticantes de medicina natural.
Praticam o bem de verdade, não são como essas que se dizem pessoas de bem mas só fazem o mal. E conto pra vocês: elas gostam de ser bruxas mas odeiam ser comparadas com aquelas do Halloween gringo. Quando souberam que nós festejamos o Dia do Saci em 31 de outubro, elas procuraram a gente e nos entendemos muito bem.
Comemoramos juntos o Dia das Bruxas e o Dia do Saci. Faz tempo que não falo com elas, mas acredito que continuam fazendo isso. E dou vivas às bruxas, mulheres sábias e não submissas aos poderosos.
* Escritor, geógrafo e contador de causos.
Livros do Mouzar Benedito pelas editoras Boitempo, Limiar e Terra Redonda.
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