Bom de Bola completa dez anos de ‘vida’

Bom de Bola foi campeão sub-15 da Taça Band em 2018 (foto: divulgação)

No dia 27 de julho de 2009, nascia o projeto social “Bom de Bola, 10 na Escola”. Idealizado por Diego Rodrigo de Oliveira Medeiros de Barros, conhecido como Diego Barros, ex-jogador profissional de futebol, o projeto completa dez anos de história neste sábado, 27.

O Bom de Bola surgiu com o objetivo de promover o desenvolvimento intelectual e físico de crianças e adolescentes de Tatuí e da região, com idades entre 6 e 17 anos.

Atualmente, Barros classifica o Bom de Bola como um “projeto social-competitivo, pois mantém a essência e conquista títulos”. Os atletas do projeto já soltaram o grito de “é campeão” em 28 oportunidades – ainda há três títulos com jogadores adultos.

As conquistas de maior de destaque são o atual pentacampeonato geral da Copa Craque do Futuro e o título da categoria sub-15 da Taça Band, em 2018.

O idealizador do Bom de Bola frisa que há inúmeros projetos sociais nos quais o responsável dispõe do tempo livre e dá uma bola para as crianças brincarem, reforçando que isso tem de ser valorizado.

Contudo, Barros afirma que, com o passar dos anos, tentou equilibrar a forma de jogo das equipes, buscando a defesa efetivamente e o ataque de forma organizada.

O número de conquistas do Bom de Bola aumentou nos últimos três anos. Conforme o treinador, isso se deve a três coisas que os atletas têm de cumprir: treinar bem, jogar individualmente em prol do coletivo e merecer a vitória.

“Fazendo essas três coisas, nos aproximamos de ter uma regularidade de resultados, mas nunca se deve manter na zona de conforto”, analisa.

Ao citar o merecimento de vitórias, Barros diz que isso não significa “se dedicar e correr atrás de uma bola”. Segundo ele, o merecimento é fruto do comportamento e das atitudes que os jogadores têm em casa, na escola ou com as pessoas.

“Durante a partida, quando uma bola do adversário acertar o travessão e não entrar no gol, não será sorte, será o merecimento de cada um”, argumenta.

Ele afirma que, no projeto, o futebol é utilizado apenas como uma ferramenta para que as crianças entendam a importância de tirar notas “azuis” na escola e terem bom comportamento em casa.

“Há criança que não lava um copo na casa. Aqui, depois de lanchar, cada um deve limpar a sua sujeira, pois, quando voltarem embora, precisam ajudar os pais”, expõe.

Para Barros, caso uma criança se dedique no esporte por prazer, ela também poderá se dedicar a algo que não goste, mas que será mais importante para a vida dela.

Ele reconhece que nem todos os pequenos jogadores que vestem o uniforme do Bom de Bola conseguirão se tornar atletas profissionais. Barros entende que os amantes do futebol precisam estudar para criar um leque de opções para o futuro.

“Todas as pessoas têm talento. Pode acontecer de o craque do time, lá na frente, ser empregado de um companheiro ou adversário de campo que não era tão bom no futebol”, salienta.

O idealizador do projeto conta que tem contato direto com os pais dos atletas, mas mantém-se pouco próximo das escolas do município. Segundo Barros, às vezes, ele é chamado por uma escola para conversar com algum jogador que “extrapola o limite”.

“As punições iam desde ficar sem treinar, ir para um jogo ou até ficar fora de campeonato, mas nunca precisou. Depois, a escola me informa que o aluno melhorou”, revela.

“Digo para eles que, além do corpo, também devem estar presentes com a alma. No Bom de Bola, eles só jogam futebol cerca de quatro horas por semana, e têm coisas muito mais importantes a serem valorizadas”, complementa.

Barros acredita que falta trabalho em unidade. Segundo ele, o futebol, através do projeto, vai à escola, mas não acontece o contrário. “Talvez, se um atleta ver um professor na arquibancada, torcendo por ele, pode conquistá-lo e fazer com que se dedique aos estudos como faz no esporte”, sugere.

De acordo com Barros, “o Bom de Bola não pode ser julgado por resultados, mas pelo trabalho desenvolvido, e, desta forma, é possível entender a razão de, às vezes, alcançar resultados positivos”.

No ano passado, a equipe sub-15 conquistou o título da Taça Band. Porém, Barros garante que o time deste ano era mais preparado, mas não conseguiu o bicampeonato da categoria.

Segundo ele, em três anos, os atletas do atual time sub-15 haviam perdido apenas uma partida. Inclusive, esses jogadores são os responsáveis pelo título mais recente do Bom de Bola, conquistado no domingo, 21, em Bofete.

Neste momento, o projeto está participando do 7ª Copa Craque do Futuro. A competição mirim de futebol é promovida pelo Departamento Municipal de Esporte, da Secretaria de Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude.

Em 2018, o Bom de Bola utilizou 93 atletas em seis equipes na Copa Craque. Já neste ano, há mais de 150 jogadores cadastrados em nove times do projeto.

A competição é disputada nas categorias sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17. Em todas, o Bom de Bola participa com duas equipes, exceto na sub-15, em que são três times.

Conforme Barros, o critério para a formação de mais uma equipe para disputar a mesma categoria é o ano de nascimento do jogador. Na sub-11, por exemplo, o time A é formado por atletas com a idade limite da categoria e a agremiação B, com jogadores de nove anos.

Já na sub-15, o time A é formado por atletas de 15 anos, a equipe B, com jogadores de 14 anos e o C, misturado com esportistas das duas idades – segundo Barros, para dar oportunidade a todos e fazer com que se sintam valorizados.

Conforme o treinador, isso serve como preparação para a Taça da Band do ano seguinte. Ele afirma que a maioria das equipes da cidade não tem times para 2020 e irá montá-los a partir de janeiro. “Nossos atletas já estão treinando para o ano que vem”, conta.

“Revelados” no Bom de Bola, Barros destaca atletas como Felipe Burani, Pedro Paulo, Guilherme, Nicola e Maycon, com passagens por divisões de bases de diversos clubes do país. O atleta Felipe Silva, em 2016, chegou a ser convocado para a seleção brasileira sub-15.

Barros afirma que, atualmente, ele enfrenta desafios distintos de dez anos atrás. Ela conta que jogos eletrônicos, como “Free Fire” e “Fortnite”, são grandes rivais. “Se perguntar por que fulano não veio treinar, vão me dizer que ficou jogando”, lamenta.

Apesar de um desafio moderno, Barros entende que o projeto Bom de Bola está consolidado, ainda mais com o apoio que recebe da prefeitura. “É impossível imaginar que ele acabe”.

Após o auge da carreira no Remo, no início de 2009, quando havia acabado de ser contratado pelo Grêmio Barueri, um exame constatou problemas cardíacos em Barros e ele foi afastado de qualquer atividade física.

Poucos meses depois, fundou o projeto Bom de Bola, 10 na Escola. Segundo o idealizador, “o desempenho, dedicação e força que os meninos demonstravam preenchia o vazio de não estar jogando”.

“Eu poderia cair em uma depressão ou ter desistido de ser feliz. Hoje, encontro a mesma felicidade que tinha jogando futebol, em partidas e treinamentos com o Bom de Bola”, revela.

No ano seguinte, os exames realizados por ele não acusaram arritmias e ele voltou a jogar profissionalmente. Quando anunciou o retorno ao futebol, Barros conta que muitas pessoas acreditavam que o projeto iria acabar.

Entretanto, os coordenadores Renan Cortez, Cleber Cabral e Luís Carlos Negri, o Tubarão, mantiveram as atividades do projeto. “Eles foram importantes para a continuidade do projeto, e sempre seguiram a mesma linha de pensamento”.

Em 2013, Cortez optou por seguir outro rumo e se desligou do projeto. Foi nesse momento que Barros decidiu encerrar a carreira profissional para voltar a Tatuí e manter o Bom de Bola.

“Eu tinha um projeto individual que talvez não acrescentasse nada na vida de alguém. Hoje, o projeto Bom de Bola conta com mais de 160 pequenos jogadores, beneficia a eles, aos seus pais e a família que, futuramente, irão formar”, concluiu Barros.