Banco de Sangue busca a informatização





Amanda Mageste

Enfermeira responsável pelo centro e provedora do hospital não conseguem ajuda para melhoria

 

A informatização do Banco de Sangue “Fortunato Minghini” não avança “por falta de investimento e interesse de políticos”, segundo a provedora da Santa Casa, Nanete Walti de Lima.

De acordo com ela, para informatizar o serviço, seria necessário contratar uma empresa especializada, o que ficaria muito caro. “Nem a Santa Casa, nem o Lions e nem a Prefeitura poderiam manter”, argumentou ela.

O Lions Clube ajuda na manutenção do banco de sangue e se propôs a auxiliar na informatização. Porém, “esbarrou” no alto preço da mensalidade do programa que precisaria ser instalado.

Com isso, ficaria responsável por conseguir equipamentos. O projeto de informatização prevê instalação de um programa de computador utilizado por uma rede de hemonúcleos e hospitais do país.

Atualmente, os gastos com água, força e telefone são mantidos pela Santa Casa. De acordo com a responsável técnica do “Fortunato Minghini”, a enfermeira Bruna Pessoa Aleixo, o Lions Clube auxilia com doações de biscoitos e sucos oferecidos aos doadores.

A enfermeira disse que, além da alimentação, o clube fornece auxílio quando o banco precisa de novos equipamentos.

Segundo Bruna, a informatização seria importante porque melhoraria a qualidade do trabalho. “Por exemplo, a questão de diminuir o erro humano”.

Além disso, a enfermeira afirmou que, se ocorresse a informatização, o banco de sangue local conseguiria ajudar outros hemonúcleos com quem tem contato, como a Unesp, de Botucatu, e a Colsan (Associação Beneficente de Coleta de Sangue), de Sorocaba.

De acordo com Bruna, Tatuí possui grande fluxo de doadores. Com isso, o estoque do banco enche, e as enfermeiras precisam parar de colher sangue, por não terem onde colocar e como mandarem para hemocentros.

Se houvesse a informatização, o “Fortunato Minghini” conseguiria enviar bolsas de sangue para outras cidades. “Em Botucatu, onde a gente já tem parceria há muito tempo, se conseguíssemos informatizar, conseguiríamos mandar sangue para eles. Também seria uma forma de ganhar dinheiro através do banco”, afirmou Bruna.

Conforme ela, muitas cidades possuem baixo fluxo de doadores. Como Tatuí possui muitos, seria uma forma de ajudar a salvar vidas de pessoas que moram em outras cidades.

Bruna contou que, para cada tipo de sangue, há a possibilidade de armazenamento de 20 bolsas no “Fortunato Minghini”. Além disso, seria inviável guardar mais, porque pode ser que o banco perca sangue armazenado. Cada bolsa pode ser utilizada em até 35 dias.

Para Bruna, a informatização seria imprescindível para que o banco de sangue cresça e ajude outras pessoas. “Nós estamos ultrapassados com relação aos grandes centros”, afirmou.

Segundo a enfermeira, se o banco de sangue conseguisse a informatização, além da não recusar doações, seria possível “andar com as próprias pernas”. Não precisaria mais da ajuda da Santa Casa na manutenção.

Ainda conforme ela, as transfusões sanguíneas são cobradas, mesmo as realizadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Doações

O horário de funcionamento para doações no banco de sangue é de segunda a sexta-feira, das 7h às 9h. O centro fica situado em prédio anexo à Santa Casa.

De acordo com a enfermeira, o consumo do município é baixo, por isso o estoque também não passa de 20 bolsas de cada tipo sanguíneo.

Conforme Bruna, além de possuir prazo para a utilização, cada bolsa de coleta custa R$ 25, “mais os reagentes – que não são baratos -, mais energia para poder mantê-las na geladeira e trabalho das funcionárias. Então, não compensa aumentar o estoque”.

Pelo custo e por falta da informatização, o banco de sangue trabalha conforme a demanda. As coletas acontecem quando há transfusão, principalmente dos tipos O e A positivos.

Segundo a enfermeira, os tipos sanguíneos positivos são os que mais têm no estoque. Por isso, é necessário recusar a doação em alguns momentos.

“Muitas vezes, vêm doadores e ficam até bravos, revoltados, porque não colheram o sangue”, afirmou Nanete.

De acordo com Bruna, é difícil explicar para a população o motivo de algumas vezes o centro não aceitar a doação, sendo que há muitas campanhas e locais que necessitam de todos os tipos sanguíneos.

Por isso, se conseguir a informatização, o banco de sangue estaria livre de demanda e poderia receber doações de todos os tipos, sem precisar se preocupar com o esgotamento do estoque.

Na segunda-feira, 4, quando a reportagem de O Progresso entrevistou a provedora e a enfermeira, o banco não estava colhendo sangue O positivo, pois o centro estava com todas as 20 bolsas completas.

Os sangues negativos dificilmente preenchem o estoque. Para esses tipos, é difícil que haja recusa. “O A, o B e o O, todos eles sempre mantêm uma faixa de, no máximo, dez bolsas”.

De acordo com a enfermeira, a preocupação maior é com o tipo sanguíneo O negativo. “Por conta de ele ser universal. Por exemplo, se chegar um acidente em que não consigo tempo hábil para fazer provas, ele é o sangue que não vai ter nenhuma reação no sentido de incompatibilidade”, explicou.

A sorologia (exames para detecção de doenças transmissíveis) é feita pela Unesp de Botucatu. De acordo com a enfermeira, o “Fortunato Minghini” não possui estrutura física e funcionários para a realização.

“Os equipamentos também são muito caros. São importados. Então, a Unesp consegue fazer isso para a gente, e recebe dinheiro do governo. Por ser hemocentro, consegue ter uma autonomia maior, e nós não pagamos”, salientou Bruna.

A sorologia é feita às segundas, quartas e sextas. O resultado demora de três a quatro dias para ficar pronto. Nas doações, as enfermeiras colhem a bolsa e três amostras de sangue para enviarem a Botucatu.

Bruna afirmou que nem nas amostras e nem na bolsa de sangue há o nome da pessoa que doou. De acordo com ela, o doador possui uma identidade numérica, para que quem receba o sangue não saiba quem está doando, e vice-versa.

Campanhas

A provedora e a enfermeira salientam que as campanhas de doação de sangue locais, normalmente, não são para Tatuí. Portanto, é importante a participação dos munícipes.

“É muito importante que as pessoas doem nessas campanhas porque o sangue vai direto para eles (hospitais da região), não tem nada a ver com a gente”, explicou Nanete.

Segundo a provedora, é difícil a Santa Casa ajudar o banco de sangue na informatização, devido à falta de verba para auxiliar na contratação e manutenção do programa de computador.

“Nós recebemos muita coisa, principalmente neste ano, na parte de aparelhagem, de manutenção, de tudo. Mas nós continuamos ‘no vermelho’. Na parte do SUS, por exemplo, faz 12 anos que não tem aumento”, afirmou Nanete.

De acordo com ela, há bastante ajuda do município, “mas seriam necessárias mais doações para que a Santa Casa melhore o padrão de atendimento oferecido à população”.

Para a provedora, o ideal seria que a Santa Casa conseguisse fazer uma campanha de conscientização para que os munícipes ficassem sócios do hospital, pagando mensalidade de, no mínimo, R$ 10. Conforme Nanete, a Santa Casa possui 400 associados.

Segundo a provedora, além de pagar mensalidade ao hospital, há possibilidade de a população doar nota fiscal paulista e alimentos. De acordo com ela, a Santa Casa utiliza uma média de 120 litros de leite por dia.

“São coisas que, se a gente tivesse, poderia fazer muito mais coisas. Como informatizar o banco de sangue, mas a gente não consegue”, destacou a provedora.

Nanete disse que a prioridade da Santa Casa, no momento, é adquirir novos equipamentos utilizados dentro do hospital. Por isso, não dá para auxiliar na informatização.

A provedora disse que, recentemente, a Santa Casa conseguiu cinco isoletes – berços para bebês recém-nascidos –, o que auxiliou na diminuição da manutenção dos antigos, os quais, segundo ela, estavam muito velhos.

“A gente gasta muito com manutenção, no raio-X, na autoclave. Estamos com uma nova, mas a outra é muito antiga, ela dá problema constantemente. Às vezes, temos que diminuir as cirurgias, ou até parar, porque nossa aparelhagem é muito antiga”, afirmou a provedora.

“Se a gente tivesse o dinheiro, lógico que seria bom. Mas, acontece que a gente não tem. Não tem como parar ou diminuir ações no centro cirúrgico, ou em uma maternidade, para dar atenção ao banco de sangue”.