Astec abre inscrições para o último ano do curso de Libras da entidade





David Bonis

Segundo Till, curso será encerrado porque associação já atingiu objetivo

 

A Astec (Associação dos Surdos de Tatuí Esporte Clube) “Lúcia Arruda Bertolaccini” está com inscrições abertas para o último ano do curso de Libras (Língua Brasileira de Sinais) na entidade. Efetivada desde 2008, a formação será encerrada a partir da conclusão deste último curso.

Conforme o cronograma, as aulas começarão a partir do dia 27 de janeiro e se encerrarão em 22 de setembro de 2015. Essa edição será a última em que a associação ministrará aulas para ouvintes, de acordo com a presidente da entidade, Leonides Bertolaccini Rodrigues, a Tili.

Conforme ela, a partir do encerramento desse módulo, a Astec continuará ensinando a técnica apenas para deficientes auditivos e familiares deles.

Em seis anos de existência, o curso de Libras da associação formou 403 alunos, entre surdos e pessoas sem nenhum tipo de deficiência, de acordo com Tili.

Segundo ela, o fim do módulo não se dará por nenhum tipo de problema. O motivo seria outro. “Já atingimos nossos objetivos, pois em todos os lugares em que o surdo precisa ir encontra uma pessoa com conhecimento em Libras. Exemplos (na área de), educação, segurança e saúde”, explica.

No entanto, Tili ressalta que ainda faltam pessoas com conhecimento em linguagem de sinais nos postos de saúde do município, na Prefeitura, no fórum, na delegacia, no pronto-socorro e nas empresas e indústrias. “Pois essas áreas são as que sempre solicitam nossa presença”, reforça.

Por se tratar do derradeiro curso de linguagem de sinais promovido pela Astec, a presidente pretende atingir um maior número de pessoas interessadas em aprender Libras.

Por isso, ela afirma que a formação será voltada a todos que queiram se comunicar com deficientes auditivos. “Principalmente quem têm contato com surdos no trabalho, na escola, em casa ou em outro lugar”, convida.

As aulas ocorrerão todas às terças-feiras, das 19h às 21h, na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Professor José Tomas Borges”, localizada à rua Coronel Guilherme, 210. Ao todo, serão 180 horas de aula.

Os interessados devem enviar e-mail para tilibras@hotmail.com, ou ligar para o telefone 99850-5050.

A primeira parcela referente à mensalidade da formação deve ser paga no ato da matrícula. Os alunos que efetuarem os pagamentos até os dias 10 de cada mês terão desconto de R$ 10. Na quitação do débito em dias posteriores, será cobrado o valor integral da mensalidade, que é de R$ 120.

No curso, a linguagem de sinais será ensinada de maneira prática e teórica. “Primeiro, ensinamos o que é Libras e seus parâmetros; depois, os sinais do dia a dia de qualquer pessoa. (Explicaremos) O que é cultura surda”, conta.

O segundo passo será o contato com a parte prática da linguagem de sinais. Nesse processo, Tili costuma ensinar a técnica por meio de figuras em apostilas e vídeos.

Segundo ela, aprender a técnica da linguagem de sinais é importante em uma cidade como Tatuí, que tem mais de 100 mil habitantes, pois haveria poucas pessoas com conhecimento na técnica para atender às necessidades dos surdos da cidade e da região.

Segundo dados do Censo Demográfico de 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há 4.305 deficientes auditivos no município. No entanto, o nível de dificuldade de audição varia, conforme o instituto.

Ainda de acordo com Tili, somente cerca de 20 pessoas realmente dominam a Libras em Tatuí, e isso significaria, também, que o baixo volume de especialistas na técnica poderia se tornar uma oportunidade de trabalho.

A realização do curso de Libras é uma das formas de angariar fundos também para a Astec. Segundo Tili, a associação não recebe auxílio financeiro de “ninguém”, além de não ter associados.

“Quando precisamos de dinheiro, fazemos algum evento, tipo festa do sorvete, festa do pastel, ação entre amigos e outros. Este ano não foi possível fazer nada. Em dezembro, provavelmente, sairá a festa do pastel”, avisa.

A situação financeira da associação não deve permitir a mudança do local da sede da Astec. Atualmente, a associação está localizada à rua 15 de Novembro, 1.288.

Conforme Tili, a entidade ganhou o comodato de uma área de 700 metros quadrados para a construção de sede própria. Devido às dificuldades, no entanto, o projeto de mudança não deve sair do papel.

“Como construir? Depois de construir, como sustentar? Vamos precisar de empregados, pagar salários, água, luz, telefone. Se hoje, que (a Astec) funciona na minha casa, é difícil – pois não cobro água, luz, telefone, aluguel e nem salário -, se formos para um local próprio, vamos ter todas essas despesas. Temos que pensar muito”.

“Vamos, em 2015, participar de campeonatos e divulgar nossos esportes. Vamos continuar dando assistência a todos os surdos que nos procurarem e divulgar a existência da associação. Vamos continuar dando assistência a qualquer área que precisar de intérprete”, avisa.

Até julho do ano passado, a Astec era conhecida apenas por “Ast”. Mas a diretoria da entidade decidiu incorporar as letras “E” e “C” ao nome da associação em alusão também ao caráter esportivo da entidade.

A Astec incentiva os frequentadores surdos a praticarem diversos esportes. Entre eles, natação, tênis de mesa, corrida e dardo. Mas, segundo Tili, o “carro-chefe” da instituição é o futsal.

Em 2014, o time de futebol de salão da Astec participou de “vários amistosos”, segundo ela. No entanto, por falta de verbas, “não entramos em nenhum campeonato”.

Porém, de acordo com Tili, as dificuldades não impedirão a entidade de continuar atendendo as pessoas que buscarem auxílio da Astec. Ainda segundo ela, a associação realiza, por exemplo, acompanhamento médico para surdos.

“Encaminhamos e acompanhamos, com intérprete. Também somos chamados em emergência para atendimento nos prontos-socorros”, conta.

Além dessa forma de auxílio, a entidade promove encaminhamento profissional para os frequentadores da associação, seja para curso ou vaga de emprego. De acordo com Tili, a Astec colocou, entre 2012 e 2014, 32 surdos no mercado de trabalho local, uma média de dez por ano.