Assassinato de garota de programa passa a ser tratado como latrocínio





As investigações sobre a morte de Daila Rafaela Valentim, 25, mudaram de rumo nesta semana. A Polícia Civil anunciou que trata, formalmente, o caso como latrocínio, e não mais como homicídio.

Daila foi assassinada na noite do dia 24 de outubro, na vila Cesp. Populares encontraram o corpo dela na manhã de sexta-feira, 25. O cadáver estava dentro de um matagal, num terreno próximo às torres de alta tensão que ficam no trevo de acesso ao município, no final da vila São Cristóvão.

De acordo com o delegado titular do município, José Alexandre Garcia Andreucci, Daila era garota de programa e fazia “ponto” no local. A vítima teve parte do corpo queimada, ferimentos na cabeça e todos os dentes da frente da boca quebrados.

O suspeito do crime é o pedreiro Balbino Gomes Santana, considerado foragido pela Justiça desde a semana passada. Ele teve prisão temporária decretada e já tinha passagens pela polícia. Estava em liberdade havia dois meses.

Segundo Andreucci, as investigações mudaram de rumo porque a PC conseguiu apreender o celular da vítima. O aparelho teria sido roubado pelo assassino, junto com outros pertences da vítima (algumas peças de roupa e dinheiro).

A partir da divulgação do caso e das oitivas junto a testemunhas, a polícia descobriu o endereço do patrão do suspeito. Santana estaria trabalhando em uma construção distante aproximadamente cem metros do local onde houve o crime.

Localizado pelos investigadores, o dono do imóvel compareceu à Delegacia de Polícia Central para dar informações que pudessem ajudar a PC a localizar o suspeito. Durante o depoimento, o homem foi informado de que o pedreiro poderia ter pegado o aparelho celular da vítima, entre outros bens.

“Ele compareceu na delegacia com uma filha menor de idade. Essa menina é que teria feito negócio com Santana”, disse Andreucci. Conforme ele, a garota teria dito ao pai, depois de ele ter sido interrogado, que havia trocado de aparelho com o suspeito.

O dono do imóvel, então, voltou à delegacia no dia seguinte para contar o fato aos investigadores e entregar o aparelho à perícia.

Para confirmar se o celular seria ou não da vítima, o delegado apresentou o aparelho a outras garotas de programa que conheciam a vítima. As mulheres teriam confirmado a propriedade. Parentes dela também teriam sinalizado que o aparelho apreendido como prova pertencia a Daila.

“O que mudou é que, ao invés de responder por homicídio, Santana deverá ser julgado por latrocínio (roubo seguido de morte)”, explicou Andreucci. Conforme o titular, a PC já concluiu as investigações e encaminhará, nos próximos dias, o inquérito para apreciação do Ministério Público e do Judiciário.

Santana deverá responder por latrocínio triplamente qualificado (motivo fútil, por emboscada e meio cruel). “A pena acaba sendo mais grave, fora o fato de que ele vai ser julgado por um juiz singular”, citou o delegado.

Os casos de homicídio são encaminhados ao tribunal do júri, enquanto que os latrocínios vão para um “juiz singular”. Os primeiros seguem processo que, ao final, são submetidos ao júri, que se pronuncia, ou não, pela condenação; já os segundos são analisados diretamente por um magistrado, que dá a sentença de condenação ou de absolvição.

Em função disso, os julgamentos de latrocínio tramitam “mais rápido”. O delegado explicou, ainda, que as sentenças nesses casos costumam ser “mais pesadas”.

“Um juiz singular não vai pela ‘parte emocional’, como o jurado. Ele vai pelas provas técnicas, e o celular é uma cabal de autoria”, observou.

Para ele, o aparelho é prova material de que o suspeito teria cometido o latrocínio. O delegado afirmou que o celular ligado ao crime também deixa evidente a “existência de desequilíbrios”, tanto emocional como sexual.

Segundo depoimentos prestados pelas garotas de programa, Santana tinha preferências sexuais “incomuns”. Uma delas teria narrado à PC que havia sido estuprada por ele. Outras duas teriam sido agredidas. O homem também obrigaria as mulheres a aceitarem “uso de arma” durante a relação sexual.

As testemunhas disseram tê-lo visto deixando o local com a vítima na noite anterior ao encontro do cadáver. Também contaram que Santana estava “frequentando o local e assustando as mulheres que trabalhavam com prostituição naquela região”.

Uma das amigas da vítima contou à PC que as garotas de programa estavam com medo do pedreiro. A mulher disse que, temendo serem agredidas, elas estavam encerrando o horário dos programas mais cedo. “Por volta das 22h30, elas já estavam voltando para casa”, disse Andreucci.

O delegado informou, no entanto, que nenhuma das mulheres havia prestado queixa anteriormente ao encontro do cadáver. Elas disseram aos investigadores que o pedreiro estaria ameaçando matar todas as garotas.

No dia 24, ele teria voltado ao local e saído com Daila. Uma testemunha viu o suspeito e a vítima caminharem em direção a um motel. Os dois, porém, não chegaram ao estabelecimento, tendo relações no terreno baldio.

A PC verificou que o programa não chegou a ser feito no motel, mas no terreno. “Por algum motivo, por desvio sexual, o suspeito acabou matando violentamente a vítima e ateado fogo no órgão sexual dela”, afirmou o delegado.

Junto ao corpo de Daila, a PC encontrou um cheque parcialmente rasgado e “muito amassado”. Ele estava preenchido no valor de R$ 50, montante que seria o mesmo relativo ao programa.

Andreucci acredita que o cheque tenha sido o motivo de desentendimento – que teria gerado o homicídio – entre Santana e a garota de programa.

O delegado cogita que a mulher não teria aceitado o pagamento com cheque. “O que deu a entender é que ele acabou sendo violento com ela”, especulou.

A vítima teria sido morta perto de um caminhão no qual a perícia localizou marcas de sangue. O corpo dela teria sido arrastado pelo criminoso e tinha sinais de espancamento.

Conforme o delegado, existe a possibilidade de Daila ter se ferido na cabeça quando caiu perto do eixo da roda do caminhão (que estava sem os pneus).

Outra hipótese é de que a moça tenha tido a cabeça arremessada contra o eixo do veículo, o que explicaria as perfurações na lateral esquerda do crânio.

A PC também trabalha com duas possibilidades para o ato que teria sido cometido por Santana. Conforme o delegado, é provável que ele tenha ateado fogo na região do órgão sexual de Daila para “se livrar de provas”. Ele poderia ter pensado que a polícia utilizaria um teste de DNA para chegar ao autor.

Outra possibilidade – bem mais provável, de acordo com as investigações – é de que ele tenha algum distúrbio sexual. A suspeita ganhou força com os depoimentos prestados pelas outras garotas de programa com quem Santana teria saído.

Elas disseram que ele costumava utilizar um revólver durante as relações sexuais. Também acabaram identificando o suspeito por fotografia. O pedreiro já havia sido detido em Tatuí e tinha ficha de antecedentes criminais pelo artigo 155 (roubo), tendo cumprido prisão.

Conforme o delegado, Santana saiu da prisão há dois meses. Ele teria sido o “último cliente atendido por Dalila” na noite anterior ao encontro do cadáver.

Além de uma amiga da vítima, outras garotas de programa teriam reconhecido a fotografia do suspeito que trabalhava como pedreiro.

A polícia já indiciou o suspeito pelos crimes de latrocínio, estupro e lesão corporal. Durante as agressões, Santana teria quebrado “todos os dentes da frente da boca da vítima”. “Foi um ato bárbaro”, definiu o delegado. Segundo ele, a mulher teve o rosto totalmente deformado.

O suspeito também teria furtado um casaco, uma bermuda, um telefone celular e R$ 350 que estavam na carteira de Daila, caracterizando latrocínio. O dinheiro seria proveniente de programas feitos pela vítima no decorrer da noite.

Andreucci, porém, disse que o latrocínio só pôde ser comprovado a partir da localização do celular da vítima – que havia sido repassado pelo suspeito. Os demais objetos levados dela não foram localizados.