Árbitro segue ativo em nova paralisação

Sem ‘bandeirar’ partida há quase um mês, Danilo Manis cumpre instruções da FPF

Tatuiano Manis (primeiro à direita) atuou em jogo entre Argentina e Paraguai em novembro de 2020 (Foto: Divulgação)
Da reportagem

A exemplo da edição do ano passado, os protocolos de combate à Covid-19 adotados pelo governo estadual paralisaram a disputa da Série A1 do Campeonato Paulista de Futebol. Sem partidas do principal torneio estadual do país, o árbitro assistente tatuiano Danilo Ricardo Simon Manis permanece em isolamento no município.

Em 2020, a paralisação do “Paulistão” aconteceu em 16 de março, sendo retomada após mais de quatro meses, em 22 de julho. Neste ano, as disputas foram paralisadas em 14 de março e, até o momento, não têm previsão para retornarem.

Em virtude da interrupção do futebol no ano passado, o Campeonato Brasileiro da Série A 2020, que costumeiramente é iniciado no mês de maio, teve de ser iniciado com cerca de três meses de atraso.

Em um efeito cascata, o “Brasileirão” que seria encerrado no início do mês de dezembro de 2020 acabou sendo estendido até a última semana de fevereiro deste ano, concluído pouco dias antes do início dos campeonatos estaduais, válidos pela temporada de 2021.

Mesmo em início de temporada, Manis havia atuado em quatro partidas da atual edição do Paulistão, entre os dias 27 de fevereiro e 14 de março. Se considerado o número de partidas desde o início do ano, o tatuiano participou de 15 jogos.

Após o futebol retornar na América do Sul, o árbitro assistente foi escalado para 39 partidas. Os jogos que participou eram válidos pelo Paulistão, Paulista A-2, Brasileirão, Brasileirão Série C, Copa Sul-Americana e Eliminatórias Sul-Americanas para Copa do Mundo 2022.

Para que os jogos fossem realizados durante o período pandêmico, tanto a FPF (Federação Paulista de Futebol), como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), adotaram uma série de protocolos para impedir o contágio do novo coronavírus.

Manis conta ter sido submetido a cerca de 40 exames “PCRs” para detecção da Covid-19 antes das partidas nas quais atuara, além de ter atenção com a higienização, o uso de máscaras de proteção e manter-se isolado, saindo da casa somente quando necessário.

“São os cuidados básicos, associados à realização de testes antes de cada partida para não haver perigo nenhum de alguém que, Deus o livre, tenha contraído o vírus possa estar em uma partida”, relatou.

Para ele, além do cuidado redobrado, devido à Covid-19, a maior diferença são as partidas com os estádios vazios, pois a falta de torcedores expõe, de uma forma mais explícita, o que é dito dentro de campo.

Manis aponta que a arbitragem já é habituada a tomar cuidado com as palavras, mas entende que treinadores e jogadores, principalmente, os reservas, estão vivendo uma situação nova. “Tem de tomar um pouco de cuidado com o que fala, pois os microfones captam com mais facilidade”, reconhece.

Conforme o tatuiano, a presença da torcida eleva o nível de adrenalina e os torcedores, tentando jogar junto com a equipe, motivam os atletas dentro das quatro linhas. “O silêncio faz com que os jogadores tenham de tirar uma motivação extra para reverter um jogo que esteja em uma situação delicada. Às vezes, um torcedor ajuda bem”, atesta.

Manis reforça que um estádio lotado altera o ambiente e deixa o jogo “mais vivo”. Contudo, garante que a falta de torcedores não faz diferença aos árbitros, pois a responsabilidade é a mesma.

“Por ser uma profissão de decisão, temos de manter a concentração o tempo todo e deixar o jogo dentro de um controle absoluto com acertos. Esse é o nosso grande desafio”, afirma o árbitro assistente.

“Aquele eco da torcida faz é a grande diferença. No momento de um impedimento ou quando sai um gol e o estádio dá o grito, essas coisas que são emocionantes dentro do espetáculo. É isso que faz falta quando não se tem a torcida”, complementa.

Na semana em que o Paulistão foi paralisado, o tatuiano estava em treinamento na sede da Conmebol, no Paraguai. Assim como todo ano, ele participou da pré-temporada antes do início da Copa Libertadores da América e a Copa Sul-Americana.

Na próxima quarta-feira, 14, o árbitro assistente completa um mês sem participar de nenhuma partida, e desde o retorno ao Brasil, no dia 20 de março, ele permanece em Tatuí, em isolamento social na residência dele.

Manis revela que novamente a FPF está dando o suporte necessário e orientando os profissionais de arbitragem neste período. A entidade disponibiliza os treinamentos para preparação física, além de um educador físico para orientação, materiais para estudo de situações de jogo e profissional para suporte psicológico.

Com diversos treinamentos teóricos e físicos, o tatuiano afirma que os profissionais da arbitragem, apesar de ficarem isolados em casa, permanecem ativos durante o período de paralisação das partidas.

“A ideia é, dentro da dificuldade da pandemia, nunca perder o foco”, indica. “Essa é uma recomendação absoluta, porque, sempre quando volta, já volta em um nível elevado e não há tempo para uma nova preparação”, completa.

Manis aponta uma diferença em relação à paralisação do ano passado, pois as restrições impostas devido à pandemia, obrigaram a fechar locais que os profissionais da arbitragem costumavam treinar.

Formado em educação física, o tatuiano treinava na academia da Associação Atlética XI de Agosto, atualmente, fechada. Diante disso, Manis se adequa com os itens que possui na casa e faz os exercícios que faria na academia. “Para mim, não atrapalha em nada, é mais um jogo de paciência de continuar se preparando até a hora de voltar”, declara.

Por enquanto, não há previsão de volta das partidas. Há a possibilidade de, quando os torneios forem retomados, serem feitos ajustes nos protocolos de segurança e de manter o calendário com o mesmo o número de jogos, porém, em intervalos menores entre uma partida e outra.

Manis entende que a conscientização sobre os riscos da doença tem de existir, não apenas com os profissionais do futebol, como os de todas as áreas. “Claro que o futebol é mais exposto e envolve a mídia, mas é uma profissão semelhante a qualquer outra e que requer cuidados”, destaca. “A saúde sempre vem em primeiro lugar e as entidades se preocupam bastante, estando de portas abertas, caso precisemos de alguma coisa”, complementa.

Por fim, o tatuiano torce pelo fim da pandemia para a retomada das atividades. “Com a melhora dos casos, vão entrar em um acordo e, daqui a pouco, não só o futebol, mas, se Deus quiser, outras áreas também voltarão a funcionar o mais próximo da normalidade possível”, conclui Manis.