Da reportagem
Tatuí aparece em 20º lugar entre as cidades mais violentas do estado de São Paulo em 2022, conforme o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que avalia estatísticas criminais de todo o país.
De acordo com o Anuário, Tatuí registrou 11,3 mortes violentas intencionais a cada 100 mil habitantes. Na metrópole da região, Sorocaba, considerada a 27ª cidade mais populosa do Brasil, a taxa foi de sete.
Por outro lado, segundo os dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP), os números do Anuário podem ser confrontados com os dados registrados pelo órgão estadual, o qual apontou nove homicídios em Tatuí no ano de 2022.
Esse mesmo registro, divulgado pela SSP, foi reiterado pelo secretário municipal da Segurança Pública e Mobilidade Urbana de Tatuí, Miguel Ângelo de Campos.
Segundo o índice anual, Tatuí figura na 99ª posição como a cidade mais violenta do Sudeste e a 231ª do Brasil. O estudo, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, analisa dados referentes às cidades com população a partir de 100 mil habitantes.
Entre os cenários avaliados, está a categoria “mortes violentas intencionais” (MVI), que corresponde à soma das vítimas de homicídio doloso (quando há intenção de matar), latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais.
Ainda de acordo com o Anuário, a vizinha Itapetininga está entre as dez cidades mais seguras do Brasil, com taxa de 3,8 mortes violentas por 100 mil habitantes.
Campos sustentou não haver necessidade em compará-las por conta da disparidade do efetivo policial das duas cidades. “Tatuí dispõe somente de uma companhia de polícia e uma delegacia central, fora a DDM (Delegacia da Mulher)”, argumentou o secretário.
“Itapetininga conta com três companhias de polícia, junto com o batalhão, mais a Delegacia Seccional e a DIG (Delegacia de Investigações Gerais). Então, a estrutura policial de Itapetininga é muito maior do que a nossa”, observou.
Ele também comparou os dados históricos entre as duas cidades em períodos iguais e apontou o levantamento atual como “desproporcional aos números”.
Ele citou, por exemplo, os anos de 2019 e 2020 e outros subsequentes, nos quais a cidade vizinha anotou números superiores em homicídios, comparados a Tatuí.
No ano de 2022, contudo, período em que foi analisado pelo Anuário, Itapetininga teve número menor em homicídios, sendo seis contra nove. “No entanto, neste ano de 2023, nós estamos sem nenhum homicídio, e lá já conta com cinco”, apontou o secretário.
Ele ainda comentou sobre o que chamou de “falta de consideração” pelo trabalho que a segurança pública exerce no município, considerando a forma como os dados foram divulgados.
“É uma falta de consideração pelo trabalho que as forças de segurança fazem na cidade, que, embora tenham limitações, o pouco que nós temos, tanto o delegado, quanto o capitão, fazem muito”, argumentou.
Ainda sobre o comparativo com Itapetininga, o secretário observou que somente os números de homicídios ocorridos na cidade vizinha neste ano já distorcem a forma com que ela tem sido apresentada na “contramão” de Tatuí.
“Então, Tatuí foi da água para o vinho em questão da segurança, enquanto Itapetininga perdeu o posto de cidade mais segura por já ter atingido em oito meses o que foi conquistado no ano passado?”, questionou.
Um levantamento divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no ano de 2015, revelou que, naquele ano, Tatuí estava entre os municípios menos violentos do país.
O cálculo, à época, fora feito pelo número de mortes registradas frente ao número de habitantes, o qual, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 116.682 mil. O estudo havia registrado 11 homicídios e duas mortes violentas.
“Em 2015, nós tivemos 11 homicídios, sendo que em 2021 foram dois. Então, esse jogo de números, conforme o aumento, ele pode ser a favor como pode ser contra”, acentuou.
Campos também comparou os números absolutos dos dados históricos em um confronto de informações. “Então, se pegarmos os números absolutos de 2015, quando Tatuí foi eleita como uma das cidades mais seguras do Brasil, pode-se dizer que, no ano passado, fomos a mais segura do mundo, já que tivemos somente dois casos de homicídio?”, questionou.
Conforme reforçado por Campos, os dados do estudo nacional precisam ser confrontados com as estatísticas atuais da cidade, que, até este mês, não apresentou nenhum homicídio.
Segundo a SSP, até junho deste ano, a cidade não havia registrado nenhum homicídio doloso e havia tido um homicídio culposo (quando não há intenção de matar).
Por sua vez, quanto aos homicídios culposos em acidentes de trânsito, a cidade registrou seis ocorrências até junho. Também não houve registro de latrocínio (roubo seguido de morte) até a metade do ano. Para lesão corporal seguida de morte, também não houve registro.
Campos ressalta a importância do trabalho que a Guarda Civil Municipal vem desenvolvendo com o propósito de coibir o índice de criminalidade.
Ele, entretanto, apontou, em números, o suporte que o efetivo municipal tem dado às Polícias Civil e Militar. “No ano passado, tivemos 435 flagrantes lavrados na delegacia, e, dessas ocorrências, a GCM atendeu 323”, indicou.
“Desse total, praticamente 75% dos flagrantes foram atendidos pela segurança municipal. O nosso braço forte é a Guarda Civil Municipal”, ressaltou Campos.
O secretário apontou os casos de homicídios registrados em 2022 como sendo alguns “passionais” e outros por acerto de contas relacionados ao tráfico de drogas.
Segundo ele, o único caso que em houve morte após confronto com militares foi registrado no mês de julho daquele ano, quando um indivíduo que praticava roubos e furtos frequentes na região do bairro Bela Vista entrou em confronto armado com as forças de segurança.
“Chega um momento em que as forças têm que agir um pouco mais forte. A ideia não é ter embate, tampouco tirar a vida de ninguém”, declarou.
No entanto, Campos descreveu a ação das forças municipais como “linha de proteção da sociedade”. “A partir do momento em que perdemos essa linha, o efetivo de segurança fica cara a cara com a criminalidade. Essa linha foi montada para proteger e, a partir do momento que houve disparo de arma, houve revide”, defendeu.
Campos afirmou que, além do caso no qual houve intervenção policial, todos os outros registros culminaram com os autores identificados e presos.
“Temos que ressaltar as ações repressivas desencadeadas em face de outros delitos, estando o município com números expressivos de prisões, seja em flagrantes, seja por mandados judiciais”, acrescentou.
Ainda de acordo com o Anuário, o feminicídio foi um dos crimes que tiveram aumento em 2022. No ano passado, foram 1.437 casos registrados no Brasil. Em comparação a 2021, quando foram 1.347 casos, houve aumento de 6,2%. Já os homicídios de mulheres aumentaram 1,2% de um ano para o outro.
Segundo registro do boletim estatístico eletrônico da SSP, o interior de São Paulo teve até junho deste ano 74 casos de feminicídio, 23 a mais que no mesmo período do ano passado, contabilizando aumento de 41,18%. Em Tatuí, não houve registro relacionado a esse crime.
O secretário apontou, ainda, o trabalho que a Patrulha da Paz, da GCM, vem fazendo em proteção às mulheres e homens sob proteção judicial contra agressores.
“Hoje, nós temos 500 protegidos pelo Botão do Pânico, e, desse total, até hoje não tivemos nenhum caso de feminicídio. Então, estamos indo pelo caminho contrário a esse aumento de casos”, concluiu.
Em nota, a SSP informou que os indicadores de crimes contra a vida são analisados permanentemente com o objetivo de definir novas ações para repressão desses casos.