Alergias (parte I)

Dr. Jorge Sidnei Rodrigues da Costa - Cremesp 34.708 *

Há muita confusão dos pais sobre essa doença, que acham que seus filhos começam a ter “gripes” ou “resfriados” repetitivos principalmente no período de outono e inverno, quando começam a espirrar, ter nariz trancado à noite, dormir com a boca aberta, roncos noturnos e coceira nasal, acompanhados ou não de tosse, falta de ar ou chiado no peito.

É importante alertar aos pais que não há gripes e resfriados que se repitam por tanto tempo. Em muitos desses casos, pode ser que seus filhos estão sofrendo de uma doença alérgica: rinite alérgica, por exemplo, que com o tempo pode evoluir para asma brônquica (“bronquite asmática”).

A alergia é uma reação indesejável do organismo, quando ao entrar em contato com antígenos específicos (alérgenos), que são substâncias normalmente inofensivas para pessoas normais.

Encontradas em diversos ambientes, são provocadoras de doenças alérgicas em pessoas hipersensíveis. A doença alérgica tem características genéticas, e quando tem um caso na família, a criança tem mais probabilidade de nascer hipersensibilizada e, assim, evoluir para um quadro alérgico logo nos primeiros meses de vida.

Alérgenos são substâncias que provocam as reações alérgicas no indivíduo. Exemplos: ácaros, mofo, poeira domiciliar, pelos, escamas, alguns alimentos (leite de vaca – um dos mais frequentes), ou os aditivos alimentares, como corantes, conservantes, adoçantes etc., os chamados aditivos alimentares, por exemplo.

A incidência das doenças alérgicas tem aumentado muito. Estudos mostram que, nas últimas três décadas – ou seja, dos anos 70 até agora – triplicou o número de pessoas com algum tipo de alergia. Atualmente, cerca de 30% a 35% da população sofre de alguma doença alérgica, principalmente a rinite.

  1. Alergias mais comuns

Rinite: entre as alergias, a rinite á a mais freqüente, sendo que em algumas regiões do Brasil chega a acometer até 35% da população. Os sintomas da rinite surgem no período da infância (com 2 a 3 anos de idade ou, em alguns casos, até antes) ou no começo da idade adulta.

É uma inflamação na parte interna do nariz e manifesta-se com coceira nasal e no “céu” da boca, crises de espirros “em salva”, coriza, na maior parte de grande intensidade e entupimento nasal. É um quadro como se estivesse com constante resfriado.  A rinite apresenta tendência familiar com uma maior prevalência entre os filhos de pais alérgicos.

Mas, mesmo pais não alérgicos têm 15% de chance de ter um filho alérgico. Por isso, é muito importante tratar a alergia com muita consciência e seriedade, por ela interferir na qualidade de vida do ser humano.

Asma: é reconhecida pela dificuldade de o indivíduo respirar e que apresenta falta de ar e chiado no peito. As crises são desencadeadas frequentemente por substâncias inalantes da poeira que se encontram em casa, contendo ácaros, mofo, escamas e pelos de animais.

Os sintomas são tosse constante, falta de ar e chiado no peito. A maioria das pessoas portadoras de asma brônquica tem problemas alérgicos.

Nestes casos, a participação dos pais na identificação dos alérgenos é fundamental, pois, além de se evitar o contato da criança com este ou aquele elemento alérgeno, possibilita ao médico maior segurança na administração de um tratamento dessensibilizante, se for o caso.

Dermatite atópica: também conhecida como eczema atópico, é uma doença crônica. Na grande maioria das vezes, tem início precoce, geralmente no primeiro ano de vida, e surge na parte interna da dobra dos braços, no pescoço, tornozelos, punhos, dorso das mãos e na parte posterior dos joelhos.

É caracterizada por apresentar pequenas lesões avermelhadas, ressecadas e com coceira intensa na pele. A causa exata da dermatite atópica ainda é desconhecida, tendo um caráter hereditário.           

Sinusite: há vários sintomas que caracterizam esta alergia: obstrução nasal, dor de cabeça, sensação de peso na face, febre, hálito e gosto ruim na boca, tosse (noturna) e coriza amarela ou esverdeada.

As três doenças: dermatite atópica, rinite alérgica e asma são conhecidas como as doenças atópicas ou a tríade atópica. Pode iniciar com a primeira no primeiro ano de vida e, após, evoluir para a segunda e terceira ao correr dos anos, nos três primeiros anos de vida.

Alergia ao leite de vaca

Temos tido em nosso meio muitas crianças alérgicas ao leite de vaca (APV) ou derivados do leite de vaca como fórmulas infantis, à base do leite de vaca, principalmente quando introduzido no primeiro ano de vida.

As mães devem fazer o maior esforço para amamentar no leite materno seus filhos, única e exclusivamente no peito até os seis meses de idade e, depois, introduzir outros alimentos como suco e papa de frutas com cereais, tubérculos, legumes e verduras na sopinha de sal, e nunca complementar com leite de vaca ou fórmulas que tenham o leite de vaca, no primeiro ano de vida.

Vejam bem: não tem nada a ver com lactose. Lactose é o açúcar do leite, e não existe alergia a açúcar, e sim intolerância à lactose, que causa mais sintomas gastrintestinais, como vômitos, cólicas, gases (“estofamento”), diarreia (às vezes, com “raias” de sangue.

APLV (alergia à proteína do leite de vaca) não tem nada a ver com intolerância à lactose, portanto não adianta dar leite sem lactose para quem é alérgico ao leite de vaca. A criança pode ser alérgica às proteínas do leite de vaca (que são a caseína, lacto globulina e lacto albumina), completamente diferente de Intolerância ao leite de vaca. Tem que fazer tratamentos distintos.

A boa notícia é que existe tratamento nos dois casos específicos. Nesses casos, procure seu alergista e ele vai direcionar o diagnóstico e fazer o tratamento necessário! Trataremos posteriormente dos tipos de tratamentos que fazemos para as doenças alérgicas

Fonte: arquivos próprios do autor e Internet.

* Médico especialista em pediatria pela AMB (Associação Médica Brasileira) e SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) desde 1981. Membro da Asbai (Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia) e membro da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações); diretor clínico da Clínica de Vacinação “Sou Doutor Cevac Dr. Jorge Sidnei” e vacinador desde 1983.