‘Ajudas de empresas viraram raridade’, conta Mamãe Noel

Circe distribui bonecas, carrinhos e bolas para crianças há 20 anos

Em mais de 20 anos de trabalho voluntário, Circe Machado Bastos nunca viu o “estoque” de brinquedos destinados à distribuição para crianças carentes tão baixo.

Nesta época do ano, a aposentada costumava somar “grandes volumes” de doações de bonecas, carrinhos e bolas. Recebeu, na manhã de quarta-feira, 22, a primeira leva, suficiente para atender a cem meninos e meninas.

Circe credita o panorama à crise financeira e ao impacto delas nas empresas. As indústrias locais eram, até o ano de 2014, as principais patrocinadoras da campanha voluntária. Em todos os anos, a aposentada angaria brinquedos para serem entregues a crianças de bairros carentes na época do Natal.

Ela também arrecada balas, pirulitos e outros doces. Tudo é juntado para formar kits, distribuídos a meninos e meninas. Antes de a situação econômica ficar desfavorável, Circe contou que grande parte dos materiais era cedida pelas empresas locais. Uma das maiores patrocinadoras era a Rontan Eletrometalúrgica.

“Só tenho a agradecer a ela (à indústria tatuiana que está em fase de recuperação), porque eu recebia muito, mais muito brinquedo”, mencionou a voluntária.

Com o declínio da produção, Circe disse que muitas empresas pararam de contribuir. “Isso porque precisam reduzir gastos, promover cortes no quadro de funcionários para terem condições de continuarem funcionando e gerando emprego e renda”.

Buscando equilíbrio – e respeitando os quadros financeiros das indústrias do município –, a voluntária encontrou na comunidade um novo parceiro. “O povo é quem está mantendo as doações e a campanha”, informou.

Circe recebeu a primeira contribuição para o Natal 2017 a um mês da celebração. “Neste ano, está tudo muito parado. Em 2016, nessa mesma época, eu já tinha bem mais brinquedos que consegui juntar até agora”, apontou.

Em função de as doações de empresas terem praticamente cessado e as de pessoas físicas, aumentado ligeiramente, a voluntária explicou que há um efeito colateral. De acordo com ela, como as pessoas “do povo” têm menos poder aquisitivo que as indústrias, acabam ajudando menos.

“Até o momento, recebi somente um saco cheio de bonecas, mas todas em perfeito estado”, disse ela, que recebe os materiais, prepara os kits e realiza a entrega.

Para isso, Circe se transveste, todo ano, de Mamãe Noel, com roupa na cor azul. A voluntária lembrou que a vestimenta “original” não é a vermelha.

Além das bonecas, Circe costuma arrecadar carrinhos e bolas, que podem ser distribuídos tanto para meninos como para meninas. Para este ano, o grupo de trabalho que ela lidera ainda não escolheu qual região da cidade será beneficiada.

“Não costumo decidir assim, porque vou aos locais mais carentes. Vou procurando mais bairros como o Jardim Santa Rita de Cássia. Buscamos ajudar as localidades mais distantes e com maior número de crianças”, detalhou.

O grupo atende crianças com idades até 11 anos. Também por isso, limita o tipo de brinquedo que recebe para poder adequar os kits às faixas etárias. Além das peças para entretenimento, algumas das beneficiadas recebem peças de roupas. Os itens de vestuário são entregues para as famílias carentes.

Essa contribuição inclui roupas para pessoas de todas as idades. “Também peço vestuário e calçados, que repassamos para crianças, jovens e adultos”, contou Circe.

De acordo com a Mamãe Noel, quem quiser contribuir também para este trabalho deve entregar uma muda de roupa ou calçado (chinelos, sapatos, tênis, entre outros) em bom estado de conservação. “Entrego esses itens em separado. Apenas os sapatos de crianças é que cedemos juntos”, descreveu.

As distribuições devem ser feitas no dia 25 de dezembro, na manhã de Natal. Na data, Circe espera poder percorrer as ruas da cidade para efetivar as doações.

“Quero ver se estarei com saúde. Estou com muitas dores, já fui a vários especialistas, mas pretendo comparecer de Mamãe Noel, mesmo com dor”, enfatizou.

Também por conta da saúde, Circe não tem condições de reformar os brinquedos. Há cinco anos, a voluntária aceitava bonecas e carrinhos em “qualquer estado”. Eles eram lavados e passavam por restauração.

De 2012 para cá, por conta da fragilidade da saúde, Circe disse que se limita a enfeitar as bonecas. “Não tenho mais condições de fazer o que fazia. Agora, só consigo pentear as bonecas, porque preciso de ajuda”, argumentou.

Para a distribuição, Circe conta com apoio do marido, José Carlos Bastos, e da amiga Ana Maria. Os três costumam percorrer os bairros periféricos durante o Natal.

Neste ano, a voluntária enfatizou que a doação dependerá da contribuição da sociedade para atingir o maior número de crianças. “Doações de empresa são raridade. Nenhuma está ajudando. É o povo, que mais precisa, quem está contribuindo, e peço que continuem dessa forma”, emendou.

Quem quiser contribuir pode ligar para a voluntária pelo telefone 3259-7214, ou entregar os brinquedos e embalagens diretamente na residência da aposentada, na viela Arthur Napoleão de Oliveira, 66, bairro Santa Cruz.

As ajudas serão aceitas até o dia 22 de dezembro, quando a Mamãe Noel finalizará os kits. Para este Natal, ela pretende contemplar 500 crianças. “Esperamos atender mais do que fizemos no ano passado, quando ajudamos 320 crianças com brinquedos doados pela comunidade”, acrescentou.

Pessoas ou colaboradores que tiverem grande quantidade de itens a serem doados (entre embalagens, brinquedos e roupas e calçados) podem também entrar em contato.

Circe afirmou que, em caso de a pessoa ou empresa não ter como providenciar a cessão na residência dela, o marido poderá retirar os materiais no endereço a ser indicado.