Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.
Paulo Freire
A Educação em Pauta!
Num amplo anfiteatro, de uma cidade do interior, o qual foi especialmente preparado para um encontro de autoridades, de todo o Estado de São Paulo.
Discutia-se a questão de verbas para as tantas necessidades das diversas comunidades.
As horas foram planejadas para se apresentarem as necessidades, as estratégias de redução de gastos, a mais correta divisão dos recursos a fim de que todas as áreas fossem bem atendidas.
Planejava-se ali o atendimento à criança, ao jovem, ao idoso, à gestante, ao carente. Nenhum detalhe estava sendo esquecido.
As autoridades se revezavam ao microfone, falando de metas a serem alcançadas, de trabalho sem descanso a ser realizado. Enfim, fez-se uma pausa para um pequeno descanso.
Todos demandaram para um amplo salão onde várias mesas apresentavam o lanche com pães, doces, salgados, refrigerantes, café, água.
Entre um e outro salgadinho, os colegas aproveitavam para trocar ideias, para cumprimentar aqueles que já haviam discursado.
Retornando ao teatro para a continuidade dos trabalhos, um dos participantes levou um copo com refrigerante.
Quase ao transpor a porta, a senhora encarregada da recepção pediu licença e lhe lembrou, conforme avisos afixados em vários lugares, que ele não poderia adentrar no teatro com o refrigerante.
O homem, até então muito educado, olhou-a de cima e falou alto: – A senhora sabe com quem está falando? A senhora de pronto respondeu: – Não senhor.
Ao que ele explicou:- Pois saiba a senhora que eu sou fulano de tal, e foi dizendo o cargo que ocupava no Estado.
Ela, ainda e sempre educada, prosseguiu: – Muito prazer em conhecê-lo, senhor. Mas devo continuar lhe dizendo para não entrar nas dependências do teatro com o refrigerante.
Mais do que ninguém, o senhor como autoridade de um município do nosso estado sabe o quanto custa o patrimônio público e quanto custa para mantê-lo.
– O senhor é encarregado de zelar pelo dinheiro do povo e dar ao povo o melhor. O senhor, em sua cidade, zela pelas praças, pelos jardins, pelo teatro, a biblioteca pública, o museu, as escolas.
Mais do que ninguém o senhor sabe que o dinheiro público não pode ser desperdiçado. O refrigerante que o senhor deseja levar para o teatro pode derramar e manchar a poltrona ou o tapete. E haverá necessidade de se gastar para a substituição de uma ou de outro.
O homem olhou para a mulher, deu meia volta, depositou o copo de refrigerante sobre uma mesa próxima, voltou para a entrada do teatro e disse: – A senhora tem toda a razão. – Obrigado pela lição.
E retornou para os trabalhos com seus colegas. A verdadeira humildade está em reconhecer os próprios erros, não importando o cargo ou a função que se ocupa.
E todos podem ser educadores, onde quer que estejamos. Podemos dar o exemplo, fazendo. Podemos falar demonstrando o que é correto realizar.
Sempre que falemos com educação e demonstremos bom senso no que pedirmos, com certeza, seremos ouvidos e atendidos.
É que nem sempre estamos dispostos a realizar este trabalho e preferimos deixar passar. Com isso, estamos perdendo uma oportunidade sem par de melhorar o mundo em que nos encontramos.