A Coca não ‘se acha’





Sexta-feira da semana passada, 11, foi sancionada a lei que modifica o Plano Diretor da cidade, autorizando a criação de uma nova via de acesso e de instrumentos para a construção de um shopping center.

De acordo com o prefeito Manu, o atraso na tramitação do “projeto do shopping” alterou o cronograma de construção do empreendimento. A previsão é de que o centro comercial seja concluído em março de 2018, e não em outubro de 2017.

O shopping center será construído pela empresa JDGS Empreendimentos Imobiliários, com sede em Itu. Ela é de propriedade dos antigos donos da cervejaria Schincariol.

Os projetos para a instalação de um shopping começaram há quase um ano, quando representantes do negócio adquiriram uma área à margem da rodovia SP-127, por meio de benefícios da Pró-Tatuí, lei de incentivo à instalação e ampliação de novos negócios.

A estimativa é de que o shopping possa gerar em torno de 4.000 empregos diretos e indiretos. O terreno onde será construído o empreendimento tem 120 mil metros quadrados, sendo 19 mil metros quadrados destinados à edificação.

O centro comercial está projetado para abrigar 170 lojas, sendo três “âncoras”, mil vagas de estacionamento, cinema, academia e praças de alimentação interna e externa.

O escopo do projeto prevê a construção futura de um hotel e um posto de combustível na mesma área. Como a cidade é conhecida como a Capital da Música, os investidores planejam dar o tema musical na arquitetura do local.

Esse investimento promete, tal como anunciado, tornar a cidade bem mais dinâmica, visto dotá-la de um centro comercial mais maduro e competitivo. Isso pode ser ótimo – ou nem tanto, talvez, até mais ou menos…

Provavelmente, será bom para alguns e ruim para outros. Um centro comercial mais competitivo exige profissionalismo mais apurado, tal como consciência muito maior quanto à importância do marketing. Exige maturidade empresarial.

Tatuí – queiram ou não – ainda comporta parte significativa de empreendedores que toma decisões por instinto, não por estudo e observação crítica. Ou seja, se abre um negócio e entende que “está bombando”, já começa a “se achar”.

A consequência desse equívoco – que resiste ao tempo, diferentemente das empresas gerenciadas por este pensamento – é de que, portanto, o empreendedor pode ficar tranquilão, que não precisa mais investir em nada.

Se “está bombando”, para que investir em bom atendimento, novos produtos e/ou serviços e, principalmente, em propaganda? Conclui o orgulhoso empresário: não precisa.

Claro, por essa lógica, a Coca-Cola, a marca mais conhecida do planeta e a empresa que “mais bomba” no setor de refrigerantes do globo, só pode ser gerenciada por obtusos que “gastam” sem necessidade – porém, sortudos -, os quais, apesar de tão bobinhos, ainda se sustentam na liderança desde sempre.

Há quem pense, contudo, que essa liderança se mantém justamente pela contínua gestão ativa e consciente, que inclui não apenas a logística perfeita de distribuição do produto, mas a manutenção de sua suposta qualidade superior (o segredo de sua fórmula “mágica” e exclusiva) e, entre outras coisas, um agressivo marketing, com publicidade global e ininterrupta.

As pessoas que assim interpretam o sucesso desse refrigerante entendem que seu incomparável apelo – aquilo que o faz “bombar” como nenhum outro – também é fruto de ele estar presente em todos os lugares, a todo tempo, de ser a marca mais lembrada no mundo! Propaganda.

Propaganda é um dos instrumentos do marketing, em que a gigante das bebidas é incomparável. Neste exato momento, novamente, ela é exemplo disto, bastando lembrar que o Papai Noel – um dos personagens de maior sucesso da história da humanidade – é criação da Coca-Cola, a qual já “bombava” feito doida mundo afora quando resolveu investir pesado no bom velhinho.

O resultado de todo esse apelo “comercial”, também entre vários outros fatores, consiste em uma espécie de defesa, algo como um escudo que protege um imenso território – no caso, a liderança no mercado internacional de refrescos.

Isto faz pensar que a Coca-Cola é líder absoluta e não para de crescer por que se faz onipresente, ou é onipresente por que é líder absoluta e não para de crescer? E, aí, mais um exemplo do poder do marketing: a Tostines parou de ser tão fresquinha porque não vende tanto mais, ou parou de vender tanto porque deixou de ser tão fresquinha?

O fato é que, quando “bombava”, quando era líder absoluta, fazia a cabeça dos brasileiros com publicidade ostensiva (esse comercial é histórico!). Aí, talvez, começou a “se achar”? Na dúvida, certo é que diminuiu sua presença no dia a dia dos brasileiros, veio um concorrente e alcançou – digamos – seu “Triunfo”…

Por estes pequenos exemplos, é tranquilo supor que a elevação da competitividade comercial em Tatuí, representada pela edificação de um shopping center, pode ser muito positiva e negativa, simultaneamente.

Ótima, para quem busca a contínua profissionalização, quem tem consciência da maior dificuldade não de se alcançar o sucesso, mas de se manter nele, condição para a qual o marketing é ponto de sobrevivência.

Para esses empreendedores – os que não “se acham” -, um shopping será bem-vindo; para os demais, simplesmente, pode ser fatal.