Nesta semana, entre uma e outra falta de educação com jornalistas que faziam perguntas cujas respostas interessam a todo e qualquer pai e mãe minimamente preocupados com a vida dos filhos – quase todos, portanto -, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendeu a tese de que as crianças devem ser “convencidas” a tomar vacina contra a Covid-19…
As reticências, neste caso, são propositais e indicam não somente a dúvida quanto a que exatamente quer dizer a afirmação, mas perplexidade mesmo, dada a conclusão óbvia de que, a se levar a sério a posição do ministro, todas as crianças não convencidas pelos pais a se vacinarem, simplesmente… não seriam vacinadas.
Há tantos absurdos ao mesmo tempo que fica até difícil acreditar que não se trata de uma “Pegadinha do (Político) Malandro”. O maior problema, contudo, é a ausência total de graça a se avolumar na campanha de vacinação das crianças.
Outra obviedade é que, para agradar ao chefe e, quem sabe, conseguir ser eleito a algum cargo público, o aparentemente ex-médico e futuro candidato coloca a vida de crianças em menor conta que a previsão de votos a amealhar entre os fanáticos negacionistas.
Outro aspecto insano: se as crianças devem, a partir de agora, ser convencidas a se protegerem de doenças, como fica toda a sequência de vacinação iniciada a partir do parto?
Segundo o ministro, seria o caso de os pais, já no berçário, de alguma maneira sobrenatural, conseguirem se comunicar verbalmente com os bebês para deles pedir o consentimento às primeiras imunizações, usualmente iniciadas já nessa fase, quando os pequenos não conseguem mais que mamar, chorar e obrigar às constantes trocas de fraldas cheias?
Sim, não é nada aconselhável a ironia em editoriais, mas, queridos leitores, é possível levar a sério uma coisa dessas? Em que país de doidos estamos vivendo? Uma pátria desamada, onde a vida de crianças vale menos que o voto de um negacionista?
Contudo, afora as especulações, sempre, sempre, melhor os fatos que as opiniões, mesmo em editoriais. Portanto, a eles.
Antes dos específicos acerca da pandemia, um fato sobre o extremismo de direita, absolutamente afinado ao negacionismo: sim, por mais absurdo seja – por sermos um país formado por gente miscigenada, que seria toda ela (todinha!) levada ao forno por Hitler sem hesitação -, há crescente percentual de brasileiros a defender o nazismo…
Claro, são ignorantes no mais alto grau da imbecilidade, sem qualquer informação sobre os horrores produzidos pelo Terceiro Reich, contudo, estão se sentido à vontade para “expressar suas opiniões”.
E isto só porque lhes falta escola e leitura? Não! Certamente, também porque lhes sobra confiança de que a reação será branda, apenas com as já comuns “notas de repúdio”.
Mais, muito mais, sentem-se escudados por um governo que, sistematicamente, mimetiza discursos e usa métodos comuns à curriola suprematista do antigo Partido Socialista Alemão (o qual, a despeito do nome, não tinha nada de “esquerda”, sendo um dos maiores ícones da extrema direita – no caso, responsável por um negócio macabro, que entrou para a história como “Holocausto”).
Pouco “menos ruim” é outro fato: o de que, mais que governos e suas “Procuradorias” comprometidas, manda no mundo o dinheiro. Assim, graças à estupidez típica dos fanáticos, o “youtuber” a defender um partido nazista no Brasil foi mandado embora do podcast “Flow” porque se esqueceu dos patrocinadores… Burro pra caramba!
O fulano avesso aos judeus – sabe-se lá por qual motivo… – não reparou que os políticos não costumam se expor à toa – muito menos põem a mão no bolso -, seja para salvar a pele de partidários queimados na opinião pública, seja para lhes bancar o pãozinho amassado pelo diabo fascista de cada dia.
Essa gente, até por coerência à sua natureza desprovida de qualquer dignidade, empatia e humanidade, atira na fogueira quem não mais lhes convém.
Burro demais esse “podcaster”… Se tivesse não cabulado aula para, quem sabe, tentar pôr fogo em algum mendigo (que ele deve pensar serem todos judeus), ou mesmo se tivesse se dado ao trabalho de ler um livro de história ou um jornal, saberia dessa natureza infiel dos que, aliás, costumam usar a fé do povo a favor de seus projetos de poder nada cristãos.
Voltando ao conselho do ministro, cuja preocupação com a vida não aparenta muita proximidade com o juramento de Hipócrates, além de não se distanciar como deveria da relativização da morte pelos nazistas, ainda resta a ignorância quanto às próprias leis do país relativas à proteção das crianças.
Sobre isto, com a palavra a advogada Carolini Sigolini, especialista em direito da família: “Em tempos de fake news descontroladas e até mesmo por questões ideológicas, religiosas, muitos pais estão deixando de vacinar seus filhos e, em um cenário ainda mais delicado, divergindo sobre a vacinação, fator que tem alcançado o Judiciário.
É fundamental e muito importante que se identifique os dispositivos legais que estão por trás desse assunto, a começar pela nossa Constituição Federal, mais precisamente em seu artigo 227, que determina ser ‘dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão’.
Indo mais além, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), datado de 1990, em seu artigo 14, parágrafo 1º, determina ser obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
Logo, partindo dessas premissas, não há brechas nem margens para que a vacina deixe de ser considerada pelos pais – claro, ressalvadas às raríssimas exceções, como aquelas em que a criança possua algum problema de saúde e por razões clínicas comprovadas, a vacina não seja recomendada.
Não sendo este o caso, os pais que deixarem de vacinar seus filhos por suas crenças pessoais, por exemplo, podem estar sujeitos às sanções previstas no ECA, como multa e até mesmo suspensão ou perda do poder familiar.
Quando os pais fogem desse dever, colocam em risco não só a saúde de seus filhos (o que, comprovadamente, tem sido notícia recorrente com a nova variante, mostrando o grande número de crianças que são infectadas, hospitalizadas e que podem ter uma evolução negativa), mas também a saúde da coletividade, que fica suscetível a infecção quanto mais pessoas deixarem de aderir à campanha de vacinação.
Se os pais possuem suas crenças e convictos disso deixam de vacinar a si próprios, não podem em nome do poder familiar, estender tal crença aos seus filhos. A vacina salva vidas. Vacinem-se. Vacinem seus filhos.”
Assim, também a se observar a obrigatoriedade legal, seria esperado ser o governo o primeiro a incentivar a vacinação de crianças, jamais criando-lhe obstáculos.
Portanto, a dúvida: também o ministro não teme a Justiça, tal a manada nazifascista a emporcalhar o país com suas impurezas ideológicas? Na dúvida, ao menos seria bom observar que, se os “comunicadores” burros perdem patrocínio, os candidatos não menos desinteligentes perdem votos – e eleições.