Dengue em Tatuí: causa para uma séria reflexão

É incrível o persistente movimento de credulidade em absurdos e sedução ao extremismo ainda a grassar no país (de maneira muito sem graça, aliás). Um de seus resultados escala em problema concreto e inacreditável, posto colocar em risco a saúde dos próprios filhos!

Não, não se trata de discurso apelativo, senão de fato: pais estão arriscando permitir que seus filhos sofram as (terríveis) consequências da dengue por ainda estarem contaminados pelo vírus do negacionismo.

Fica difícil até encontrar adjetivos distantes das hipérboles para qualificar algo que, na prática, coloca em detrimento a saúde de crianças frente ao fervor por um ideário político qualquer (ainda que este não se identificasse, em geral, com o “amor ao ódio”).

Neste processo de descrença ao conhecimento efetivo – em sintonia com as teorias das conspirações, à aceitação conivente das versões em lugar dos fatos e do abraço ao obscurantismo -, abre-alas em destaque o movimento antivacinas. Neste caso, em particular, prejudicando a imunização contra a dengue.

No momento, há como pais e mães protegerem seus filhos dentro de uma determinada faixa etária, evitando muito sofrimento. Não obstante, de maneira até então inimaginável, a procura pelo imunizante tem sido pífia, inclusive em Tatuí.

A vacinação contra a dengue na cidade, realizada desde o dia 19 de junho, conforme informado pela prefeitura no mês passado, está com baixa procura, não atingindo nem 10% do público-alvo, formado por adolescentes de 10 anos a 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade, independentemente de infecção prévia ou não pela doença.

De acordo com a Vigilância Epidemiológica, da Secretaria de Saúde, há pouco mais de um mês, apenas 474 doses tinham sido aplicadas, sendo a população de adolescentes na cidade em 7.576.

Dos 474 imunizantes aplicados, 403 foram referentes à primeira dose e 71, à segunda dose, que deve ser tomada após três meses da primeira.

Os adolescentes que ainda não receberam a vacina podem procurar uma das unidades básicas de saúde urbanas de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 15h. Nas UBSs rurais, a vacinação está disponível no bairro Congonhal todas as sextas-feiras, das 8h às 12h, e no bairro Mirandas, de segunda-feira a quinta-feira, das 8h às 12h.

Para receber a vacina, é necessário levar a carteira de vacinação, o cartão SUS, um documento pessoal com foto e um comprovante de endereço.

A equipe da Vigilância Epidemiológica orienta que é obrigatória a presença do pai e/ou responsável pelo adolescente. Ao chegarem na sala de vacina, ambos responderão a uma entrevista rápida para se saber se o adolescente está apto a tomar o imunizante.

Após receber a dose, o adolescente deverá permanecer em repouso na unidade de saúde por 15 minutos, acompanhado do pai e/ou responsável, para depois ser liberado.

Também por conta da baixa procura, a prefeitura, por meio do Setor de Combate à Dengue, da Secretaria de Saúde, entre os dias 11 e 14 de novembro, realizou diversas ações integradas à Semana Estadual de Mobilização contra as Arboviroses, promovida pela Secretaria da Saúde de São Paulo.

O intuito foi prevenir e conscientizar a população sobre prevenção e eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika e chikungunya.

Em parceria com a Secretaria de Educação, uma atividade educativa ocorreu na Emei “Prof. Vicente de Camargo Barros”, no centro da cidade, com a distribuição de kits para colorir aos alunos.

Também aconteceram: divulgação de vídeo informativo nas redes sociais da prefeitura sobre os trabalhos e os cuidados com os criadouros e as doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti; e reunião técnica com a Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria da Saúde do estado.

Ainda: divulgação de comunicados, nas redes sociais da prefeitura, sobre nebulização em diversos pontos do município; entrevista para rádio; início do curso técnico “Saúde com Agente”, para dez agentes de controle de endemias; vistorias na zona rural da cidade; e reunião para o planejamento do Programa Anual de Saúde 2025.

Em Tatuí, até esse período de 2024, tinham sido confirmados 853 casos positivos de dengue, sendo 11 (oito autóctones e três importados) somente no entre 17 de outubro a 20 de novembro.

A iniciativa em participar da Semana Estadual de Mobilização contra as Arboviroses ainda teve o objetivo de antecipar e alertar sobre os riscos da doença, principalmente devido às mudanças climáticas causadas pelo aumento de temperatura e pelas chuvas, condições que contribuem para que as transmissões de arboviroses prosperem mais rapidamente e em novos locais.

A prefeitura pede a colaboração de todos quanto à limpeza e à manutenção de terrenos e residências, que devem ser constantes.

Também reforça que o descarte correto de entulhos e demais materiais deve ser feito nos diversos ecopontos (lista completa, com dias, horários e locais de funcionamento em www2.tatui.sp.gov.br/servicos/ecopontos/).

O munícipe pode denunciar os terrenos sujos e abandonados da cidade, ou as casas recém-construídas sem moradores e com piscinas, para a Ouvidoria Municipal, no link tatui.sp.gov.br/ouvidoria ou pelos telefones 0800-770-0665 e (15) 3251-3576, ou, ainda, pelo telefone da Secretaria da Saúde (15) 3305-8855.

Além das denúncias, é importante que cada um “faça a sua parte na própria residência”, como deixar a caixa d’água bem fechada e limpa; descartar de forma adequada pneus usados; retirar do quintal objetos que acumulam água, como vasos de planta, potes e garrafas; manter materiais de reciclagem em saco fechado e em local aberto; e usar repelente diariamente.

Todas as unidades básicas de saúde (UBSs) atendem as pessoas com suspeitas de dengue, realizam notificações, coleta de exames e todas as ações necessárias, conforme protocolo do Ministério da Saúde.

Portanto, quem apresentar febre, acompanhada de, pelo menos, dois sintomas, como náuseas, vômitos, manchas avermelhadas pelo corpo, dor nas articulações, dor de cabeça ou dor no fundo do olho, deve procurar a UBS mais próxima, de segunda-feira a sexta-feira. Aos fins de semana, é necessário procurar a UPA.

Apesar de tudo – em uso de outro adjetivo alarmante -, de forma inacreditável, 60% dos tatuianos responderam, em enquete realizada pelo jornal O Progresso, que não pretendem vacinar seus filhos…

E, então, dizer o quê? Só resta reconhecer que, mesmo diante do absurdo, não há má intenção, maldade e muito menos falta de cuidado com as crianças. O que está faltando é bom senso, racionalidade e informação – muita informação!

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