Crianças, jovens e adultos ainda costumam fazer falsa comunicação de crime à Polícia Militar de Tatuí. É o que apontou o comandante da 2ª Companhia, capitão Kleber Vieira Pinto, a O Progresso. Segundo ele, pessoas de todas as faixas etárias efetivam trotes para a CAD (Central de Atendimento e Despacho).
Operando de modo centralizado na companhia há um ano, o número 190 permanece alvo de brincadeiras. Conforme o comando, o perfil dos autores é variado, com maior proporção por parte de crianças – a maioria entrando na adolescência.
Em entrevista, Kleber pediu a compreensão da população para que não haja deslocamento desnecessário de viatura. Também afirmou que, embora elas existam, as ligações para comunicação falsa não representam o maior problema da PM.
De acordo com o capitão, há registros que apontam maior número de trotes nos horários de entrada e saída das escolas. Apesar de mensurar a quantidade, a corporação não consegue punir todos os responsáveis.
“É difícil ter ligação de orelhão, porque, na cidade, não tem muitos. Mas, às vezes, há uso de celular. Nesse caso, nós conseguimos retornar e fazer uma advertência”, contou.
Para evitar trotes, a PM estabelece protocolo seguido pelo atendente. O 190 do município é formado por cinco policiais militares, que trabalhavam no esquema de revezamento. “Esses cinco já trabalham lá há um bom tempo. Então, têm bagagem profissional para distinguir os casos”.
Até 2013, o telefone da Polícia Militar funcionava anexo ao Corpo de Bombeiros, na vila Dr. Laurindo. As ligações eram atendidas por uma equipe que atuava no extinto CCE (Centro de Comunicação de Emergência).
O espaço abrigava, ainda, o 193 (dos Bombeiros), 192 (Samu – Serviço de Atendimento Médico de Urgência) e o 199 (Guarda Civil Municipal).
Depois da reestruturação dos órgãos de segurança e da unificação das duas companhias da Polícia Militar (2a e 4a Cia.), o CAD voltou a operar no Jardim Wanderley.
Com o retorno do serviço para a companhia, o comando manteve a equipe que atuava na vila Dr. Laurindo, de modo a manter o atendimento agilizado e com maior segurança para os policiais e usuários.
A PM segue protocolo para evitar deslocar viaturas em casos de chamados falsos. Além de tempo de trabalho, a equipe que atua na CAD possui treinamento que possibilita a identificação do trote durante a chamada.
O primeiro passo é a verificação da origem da ligação (número fixo, celular, orelhão ou não identificado). A partir daí, o policial militar anota o número, ou solicita um contato para retorno – na possibilidade de verificar o número.
Na sequência, o PM liga para o usuário e faz nova verificação, para se certificar sobre a origem da chamada. “Na dúvida, uma viatura é despachada. Nós não podemos correr o risco de achar que uma ligação é trote e de ela não ser. O cidadão pode estar necessitando de ajuda”, frisou.
Por conta disso, o capitão reforçou o pedido de colaboração por parte da população no sentido de evitar ou de denunciar autores de trotes.
Conforme ele, quando uma viatura é despachada sem necessidade, perde, além de tempo e dinheiro, um apoio que pode ser vital para a vida dos outros cidadãos.
Também por este motivo a PM segue protocolo interno. Este inclui perguntas a título de garantir a veracidade das informações e a precisão no atendimento.
Segundo o comandante da 2a Cia., o PM questiona sobre pontos de referência e detalhes que possam auxiliar na definição de qual e de quantas viaturas serão empenhadas para prestar o atendimento.
Em qualquer que seja a situação – de desconfiança de trote ou não –, o usuário pode optar se quer ou não se identificar. “O fato é que precisamos de informações”, disse o capitão.
De acordo com ele, a partir da localização é que a central vai despachar uma unidade. Em geral, a viatura que esteja mais próxima.
Kleber explicou que, embora exista procedimento a ser cumprido, os trotes podem ocorrer por conta do ineditismo. “Nenhuma ocorrência é sempre igual à outra. Então, existe uma peculiaridade. A PM está, todos os dias, atendendo a chamados diferentes, gerando desafios”, descreveu.
A equipe da CAD mantém atenção redobrada para evitar, também, situação de risco para os policiais. Segundo Kleber, os atendentes verificam “todo o cenário” antes de destacar uma unidade para os locais solicitados.
“Nós temos essa preocupação, por conta do envio de apoio ou não. Pode ser que a ligação seja uma emboscada, principalmente se for à noite”, declarou.
Outra preocupação da PM é de não deixar alguma região do município “desguarnecida”. Esse tipo de situação tem se tornado comum em cidades da região (como Cerquilho e Cesário Lange), onde há registros de “estouro de caixa eletrônico”.
Para explodir os equipamentos, pegar o dinheiro e escapar sem serem detidos, os criminosos tentam desviar a atenção da corporação. Uma das “artimanhas” é a ligação para o serviço 190, simulando uma ocorrência. Conforme Kleber, o objetivo é sempre retirar o policiamento de determinado local.
Além das duas cidades, explosões a caixas eletrônicos têm ocorrido em outros municípios da região. Entre eles, Quadra e Capela do Alto.
“Então, nós orientamos que os policiais tomem cuidado e que, quando existir uma chamada desse tipo, busquem o máximo de informações para evitar um dissabor”.
Colaboração
Mesma atenção é solicitada à população pelo comando da PM. O capitão da 2a Cia. voltou a frisar que os munícipes podem contribuir para a prisão de criminosos por meio de reconhecimento ou de detalhamento de informações – no caso das denúncias.
Kleber explicou que a PM aciona as vítimas após as ocorrências sempre quando há a possibilidade de elas fazerem o reconhecimento dos suspeitos.
A identificação acontece de duas formas: por álbum fotográfico (mantido pela Polícia Civil), ou pessoalmente. Nesta última, a vítima fica protegida por um vidro.
“Esse papel do cidadão é muito importante. Nós nos deparamos, às vezes, com vítimas que, por medo ou falta de cidadania, não querem colaborar”, declarou.
O comandante pediu compreensão por parte das vítimas, especialmente no caso de depoimentos e registros de ocorrência. Entretanto, ressaltou que registrar os crimes e colaborar com informações para identificação dos responsáveis é importante.
“As pessoas têm de entender que o sistema é burocrático. A PC tem inúmeros boletins de ocorrência para registrar, inquéritos para apurar. Além disso, a PM se desdobra numa ocorrência, principalmente no caso de roubos, para que os criminosos responsáveis sejam identificados e detidos”, comentou.
No caso dos roubos nos quais há acompanhamento, o capitão explicou que o comando solicita aumento do número de viaturas para o trabalho de busca e identificação dos autores.
A ação inclui cerco, levantamentos e vistorias em residências de suspeitos, até que haja indícios que gerem prisão. Contudo, para que os suspeitos fiquem detidos, é necessário reconhecimento por parte das vítimas, que, em alguns casos, se recusam a fazê-lo.
“É complicado, a PM fica horas atrás de um criminoso para, depois, chegar a vítima e dizer que não dá para colaborar. Não é preciso ter medo, a identidade da pessoa e a integridade vão ser preservados. Não será feito nada para que a vítima fique exposta. É preciso orientar muito bem as pessoas”, salientou.
Kleber alegou que o cidadão tem papel fundamental na diminuição dos indicadores de violência. “A população tem que fazer o papel dela, até porque a polícia pode muito, mas não pode tudo”, complementou.
O comandante afirma que também é importante, para os esclarecimentos dos crimes, que a vítima consiga dar informações precisas a respeito dos criminosos.
Kleber declarou que entende que muitas pessoas podem sentir pânico quando estão em situação de ameaça, mas que, quando possível, é necessário que consigam lembrar o máximo de detalhes possível.
Entre os que podem auxiliar a PM, estão características pessoais dos criminosos, cor dos cabelos ou dos olhos, altura, presença de tatuagens, entre outros.
Informações sobre os veículos utilizados pelos bandidos – quando for o caso – também não consideradas valiosas para os esclarecimentos.
“Esses pequenos detalhes devem ser repassados para que possamos pontuar, fechar as diligências e canalizar os dados, porque ladrão tem muito hoje em dia. Então, precisamos ter um fio da meada para puxar”, concluiu o comandante.