Arquivo O Progresso
Orientações sobre combate à dengue são algumas das ações desenvolvidas pela secretaria para conter o avanço de casos confirmados
A Secretaria Municipal da Saúde intensificou ações de contingenciamento contra a dengue. O motivo é o aumento do número de casos confirmados no município, constatado com o fechamento do “ano epidemiológico”, em julho.
De acordo com o relatório, do dia 1º de janeiro ao dia 16 deste mês, houve 141 notificações de dengue. Desses casos, 101 foram descartados, 9 estão aguardando resultado e 31 acabaram sendo confirmados. O aumento colocou Tatuí em estado de atenção.
Entretanto, o secretário municipal da Saúde, Máximo Machado Lourenço, descartou risco de epidemia. Conforme ele, as equipes do setor de combate à dengue já intensificaram ações de contingenciamento. São fiscalizações, palestras, vistorias e coletas de dados para a avaliação de densidade larvária.
O setor também segue, no momento, com a rotina “casa a casa” e os trabalhos de bloqueio para casos notificados como suspeita de dengue. A primeira ação consiste na visita a imóveis de “porta em porta”, para fiscalização – com consentimento dos proprietários – sobre áreas mais propícias para proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes Aegypti.
A segunda ação envolve a equipe da Vigilância Epidemiológica. O bloqueio é um monitoramento com aplicação de larvicidas e inseticidas nas áreas onde vivem as pessoas notificadas com suspeitas. As ações são realizadas em um raio de nove quarteirões a partir da residência da pessoa com notificação. Elas têm como objetivo evitar a proliferação do mosquito transmissor.
Outra ação que continua a ser realizada – de modo mais criterioso – são as visitas quinzenais aos pontos estratégicos (imóveis com grande número de recipientes e que podem registrar concentração alta de larvas do Aedes Aegypti).
Tatuí possui 29 pontos sob monitoramento, como ferros-velhos, floriculturas, borracharias, funilarias e cemitérios. Terrenos baldios também são vistoriados.
Em julho, a pasta deu início à avaliação de densidade larvária. O estudo tem por objetivo mostrar os números de infestação pelo mosquito. Ele é realizado numa mostra de 1.200 imóveis dos 44.442 existentes em Tatuí.
Conforme explicou Máximo, todas as ações são parte do esforço realizado pela secretaria para que o número de casos confirmados não aumente ainda mais.
A preocupação encontra razão pelo fato de que, dos 31 casos confirmados, 18 são autóctones (foram contraídos no próprio município). Os outros 13 são importados – quando a contaminação ocorre fora da cidade.
Apesar de não divulgar comparativo, Máximo informou que houve aumento no município e em todo o país. Segundo ele, a alta é atípica, mas segue tendência que repercutiu na região, como mostra planilha divulgada no dia 10 deste mês pelo GVE (Grupo de Vigilância Epidemiológica) XXXI, de Sorocaba.
Ela é abastecida com dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), apresentando frequência por classificação da doença, com descrição dos casos de “dengue com sinais de alarme”, “dengue grave” e “dengue clássica”.
Os dados aos quais a reportagem de O Progresso teve acesso dizem respeito ao período de 29 de junho do ano passado a 10 de julho deste ano.
No entanto, o Sinan continua recebendo dados enviados pelas secretarias de saúde dos 33 municípios da região de Sorocaba até o dia 31 de dezembro.
A análise da planilha revela que, em seis dias, cinco pessoas tiveram casos confirmados em Tatuí. No dia 10, quando houve o encaminhamento dos dados do Sinan, o município apresentava 26 casos confirmados. No dia 16, o número subiu para 35, uma relação de quase uma confirmação de dengue por dia.
Levando-se em conta que as confirmações são feitas após resultado de exame, o número de notificações aumentou rapidamente não só na cidade, mas na região de Sorocaba.
A GVE registrou, até o dia 10 de julho, 11.319 notificações na soma das 33 cidades, com 944 casos confirmados e 9.653 descartados.
Sorocaba é o município que mais teve casos confirmados, com 278 e mais notificados, com 5.814. Itu registrou 1.809 notificações, com 124 confirmações.
Corroborando para o raciocínio de Máximo, houve aumento generalizado da dengue em cidades próximas a Tatuí. Em Iperó, por exemplo, o número de notificações ficou bem acima. A cidade vizinha contabilizou 373 notificações junto ao Sinan, com 81 confirmações.
Também bem acima de Tatuí, esteve Porto Feliz, com 453 notificações e 98 confirmações. Itapetininga e Cesário Lange registraram números menores: 89 notificações e 8 confirmações e 16 notificações e 2 confirmações, respectivamente. Apenas Jumirim teve todas as dez notificações descartadas.
“Nós recebemos notificação o ano inteiro, mas não nesse número. A média mensal costumava ser bem menor”, declarou Máximo. O secretário, porém, disse não ter números do mesmo período do ano anterior e retrasado para comparativo.
Conforme ele, vários fatores contribuíram para que ocorresse aumento tanto nas notificações quanto nas confirmações na cidade. Entre eles, Máximo citou o clima. “Com certeza, a falta de chuva e as altas e baixas temperaturas favoreceram bastante a proliferação de mosquitos”, considerou.
De modo a amenizar a situação e evitar que novas proliferações venham a ocorrer, a equipe de combate à dengue intensifica as ações ao longo do ano. “Nós temos feito na cidade toda a ‘casa a casa’ (visitações aos imóveis residenciais). Em todos os casos notificados, são feitos bloqueios”, descreveu.
A medida é adotada toda vez que um médico suspeita que um paciente possa ter sido contaminado. Ela é uma das muitas providências que as equipes de Saúde realizam.
Além do monitoramento nas áreas próximas à casa do paciente com suspeita de dengue, o médico procede com coleta de sangue para exame de confirmação. Na sequência, o paciente recebe acompanhamento.
Em Tatuí, o trabalho a campo é realizado por 15 profissionais. Os agentes percorrem todo o município, voltando com mais frequência aos pontos estratégicos.
“Como estamos com casos de transmissão, nosso foco é realizar os bloqueios de modo mais eficiente e, ainda, manter acompanhamento aos pontos que temos cadastrados como mais prováveis para abrigar criadouros”, disse.
Entram na mira dos agentes os depósitos de pneus, de veículos, oficinas e funilarias. Os locais são visitados de 15 em 15 dias, de modo a verificar se houve proliferação dos mosquitos e para combater o surgimento de larvas do Aedes Aegypti.
Os proprietários dos espaços visitados também são orientados pela equipe de combate à dengue. A troca de informações e os procedimentos seguem critérios estabelecidos pela Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) Regional.
“Deu positivo para larva, são feitas ações para destruir os criadouros”, citou Máximo. Conforme ele, são feitas diversas aplicações de larvicidas e inseticidas nesses locais e nos dois cemitérios da cidade, nos quais são encontrados vasos.
Para o secretário, o aumento do número de casos autóctones é preocupante, mas fruto de uma “evolução”. O mosquito transmissor da dengue chegou ao município na década de 90. Na época, constatou-se a presença da “forma silvestre” do Aedes, o Aedes Albopictus.
“O primeiro foco apareceu na cidade no ano de 92. Não era o Aegypti, mas já transmitia dengue. A partir daí, o mosquito se proliferou e chegou a um ponto em que se alastrou por toda a cidade, dando origem ao Aegypti”, explicou Máximo.
O secretário disse que Tatuí estava “infestada” pelo vetor, mas que a situação da cidade não era tão preocupante porque não havia a presença da doença.
“Como ela (a dengue) vem de forma importada e a nossa população é volante, o vírus começou a circular na cidade por causa dos casos importados. Então, é natural que haja aumento dos casos autóctones”, justificou.
Máximo argumentou que o crescimento dos casos autóctones era esperado por conta da proliferação dos mosquitos. Como, em 2014, a presença do Aedes Aegypti aumentou na cidade – e na região como um todo – cresceram os registros da doença. Nesse caso, tanto de notificações como de confirmações.
O secretário defendeu que a população deve colaborar com a equipe de combate à dengue. Para ele, o controle da doença só será possível com apoio dos cidadãos. Máximo afirmou que os moradores podem ajudar com pequenas atitudes.
Embora seguindo uma “tendência”, os números registrados em Tatuí deixam a cidade em “estado de atenção”. “A dengue exige um estado de atenção o tempo todo. Além disso, nós não podemos considerar isso uma epidemia”, sustentou.
De acordo com o Ministério da Saúde, as epidemias tendem a eclodir quando mais de 5% dos prédios (imóveis visitados por conta da avaliação de densidade larvária) apresentam focos do Aedes Aegypti. O estudo de Tatuí deverá ficar pronto nos próximos dias, considerando universo de 1.200 imóveis.
Quando se constata epidemia, Máximo explicou que os municípios devem elaborar um plano de contingência para tentar combater a dengue.
De certa forma, o secretário considera que Tatuí se antecipou a essa medida e passou a combater mais fortemente os focos do mosquito transmissor desde o mês retrasado.
No entanto, Máximo entende que a cidade está em um contexto diferenciado. Conforme ele, no plano de contingenciamento, os municípios afetados precisam tratar desde os doentes até a prevenção.
“Nós já estamos fazendo isso, só que com foco na prevenção. Mas isso não é só tarefa do poder público, ou das pessoas envolvidas na saúde. A dengue é de responsabilidade da população. Então, todo mundo tem que colaborar”.
Equipe preparada
O número de casos notificados em Tatuí também aumentou por conta do diagnóstico rápido da equipe médica do município. É o que afirmou Máximo.
Segundo ele, a cidade conta com profissionais preparados para fazer a primeira avaliação de suspeita e encaminhar o paciente para exame de confirmação.
“Isso é o mais importante, o médico diagnosticar o mais rápido que ele puder”, declarou. O secretário afirmou, ainda, que a população também deve procurar a ajuda de um profissional o mais breve possível, quando há sintomas.
De acordo com ele, quanto mais cedo os diagnósticos forem feitos, mais rápido a doença pode ser controlada. “Tudo é um conjunto. A dengue é uma doença que exige preparo técnico. A partir do momento que verificou a suspeita, já começam os exames e as ações para controle do vetor”, afirmou.
Os 141 casos notificados chegaram até a Secretaria Municipal da Saúde via UBSs (unidades básicas de saúde), Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, as unidades de pronto atendimento na vila Esperança e bairro Tanquinho, Santa Casa, pronto atendimento da Unimed, clínicas e consultórios particulares.
Máximo informou, ainda, que as notificações registradas abrangeram pessoas de todas as faixas etárias e gênero. “Tivemos de tudo. A doença é universal. Costumo dizer que é igual ao SUS (Sistema Único de Saúde)”, comparou.
Como a dengue provoca dor acentuada por todo o corpo e “no fundo dos olhos”, o secretário recomenda que o paciente que apresente esses sintomas não se automedique.
Segundo ele, o tratamento da doença é sintomático e tem de ser cuidadoso, por conta da “fragilidade capilar” e possibilidade de hemorragia.
“Por isso, alguns medicamentos não podem ser utilizados”, alertou. Entre eles, não podem ser utilizados o ácido acetilsalicílico, o popular AAS. O medicamento é classificado como trombolítico e causa complicações ao quadro da dengue.
De modo a evitar a contaminação, o secretário afirmou que a população pode realizar o controle do mosquito transmissor.
As recomendações são para que as pessoas evitem usar vasos com água, ou deixar água parada e limpa em qualquer tipo de recipiente. Máximo disse que o mosquito pode depositar ovos até mesmo em cascas de ovos.
Outra solicitação é que os cidadãos mantenham os ambientes das residências sempre limpos. Quem verificar a existência de focos em terrenos baldios ou imóveis que permaneçam muito tempo fechados deve entrar em contato com a Prefeitura, por meio do telefone 0800-770-0665, procurar a secretaria – à rua José Ortiz de Camargo, 594 – ou o setor de fiscalização da Prefeitura. O endereço é a avenida Cônego João Clímaco de Camargo, s/nº.