A fé de Portugal

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Motivo espiritual da vinda dos portugueses ao Brasil.

Extrato do livro “História Secreta do Nordeste – O
Renascimento da Alma Nordestina”, de nossa autoria, que será lançado em Tatuí nos próximos dias 28 e 29 de setembro.

“Todos nós estudamos que, quando a esquadra de Cabral chegou à costa da Bahia, rumando depois para as Índias, o escrivão Pero Vaz de Caminha enviou, por uma das embarcações que retornou a Portugal, uma longa carta ao rei D. Manuel, dando ciência dos fatos ali ocorridos.

Muito se analisa dessa carta, mas a um ponto essencial parece que nunca foi dada a importância devida. É este trecho, em que fala das belezas, grandeza e bons climas da terra e em seguida acrescenta:

“Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em nela deve lançar (…) para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento de nossa santa fé” (MAIOR, 1976, p. 35).

Observe o leitor que o famoso escrivão está referindo que a vontade de D. Manuel com a expansão marítima tinha uma motivação religiosa, espiritual.

Isso vem ao encontro do que disse Jean Delumeau acerca das intenções de D. Manuel, o Venturoso. Delumeau, historiador, professor do Collège de France em Paris e autor do livro “Mil Anos de Felicidade – Uma História do Paraíso”, afirmou:

“A pesquisa recente mostrou que era necessário dar uma significação escatológica aos projetos e às expedições ultramarinas de D. Manuel, o Venturoso. Ele sonhava com uma espécie de reino universal e messiânico, o Quinto Império de Daniel, que veria Portugal trazer para a religião de Cristo todas as nações não cristãs. (…) Em Portugal a persistência do messianismo animando a mentalidade de um povo durante um tempo tão longo (…) é um fenômeno que, com exclusão do povo judeu, não tem equivalente na História.”

Dra. Cláudia Bernhardt Pacheco completa esse pensamento em seu livro “História Secreta do Brasil”, afirmando: “Neste livro, eu mostro que todos os reis-templários de Portugal, de Afonso Henriques a D. Manuel, tinham esse mesmo ideal voltado ao Quinto Império, que, na verdade, significava viver o Império do Espírito Santo no mundo – algo como um retorno ao cristianismo original, dos primeiros tempos, muito diferente da religião oficial institucionalizada” (PACHECO, 2001, p. 2)”.

É muito importante que saibamos que o Brasil foi forjado dentro desses mais altos e nobres ideais, por um povo universal, que aceitava se misturar com os outros povos, ao contrário do tipo de colonização predatória que os ingleses, franceses e holandeses fizeram na África e em outros continentes.

Até breve.

* Jornalista e escritor tatuiano.

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