Amanda Mageste
Giuseppe Wolf está autorizado a andar com quadriciclo pela cidade
O italiano Giuseppe Wolf, que está no Brasil há mais de dez anos, desenvolveu um quadriciclo movido a bateria elétrica. O veículo foi estruturado com peças de bicicleta e custou, aproximadamente, R$ 5.000.
Wolf desenvolveu o quadriciclo após um taxista cobrar-lhe um valor “muito alto” por uma corrida em Tatuí. Para ele, a ideia mais simples seria utilizar uma bicicleta, mas ele disse não possuir equilíbrio para andar em uma.
O italiano tinha um carro quando chegou aqui, porém, como o utilizava pouco, decidiu vendê-lo, pois os custos “estavam altos para a pouca utilização”.
Inicialmente, o italiano fez um triciclo. Porém, ao testá-lo, percebeu que não apresentava muita segurança, principalmente em curvas. “Fiz um teste no bairro Colina Verde e percebi que, ao virar, ele ficava meio instável”.
De acordo com Wolf, então, ele decidiu elaborar um quadriciclo para obter mais segurança. Após a invenção ficar pronta, cerca de três meses depois, o italiano percebeu que o veículo poderia ser utilizado por cadeirantes, e fez adaptações para isso.
“O quadriciclo tem um banco para qualquer pessoa sentar. Porém, é possível retirá-lo, para colocar uma cadeira de rodas”, afirmou Wolf, que ressalta que fez teste com um deficiente, o qual foi um “sucesso”.
Para que o cadeirante possa utilizá-lo, não é necessário ajuda de outra pessoa, pois a base, onde fica a cadeira, movimenta-se a partir de um “macaco” instalado no veículo, atingindo o mesmo nível do chão.
Para fazer o veículo, são necessários quatro quadros de bicicleta e um guidão modificado, onde é possível acelerar, como em uma motocicleta.
Wolf instalou duas baterias em cada quadriciclo, para melhorar o desempenho em subidas. Portanto, é possível acelerar com as duas mãos. No guidão, há, também, um marcador do nível da bateria.
Ao frear, o quadriciclo desliga o motor automaticamente. O veículo ainda não possui marcha a ré. Porém, o italiano garantiu que já pensou em como inserir essa ferramenta e que, em breve, não terá mais esse problema.
A velocidade máxima do veículo depende do peso da pessoa que dirige. O italiano afirma que já atingiu 70 km/h em uma rua plana. É possível saber a velocidade porque há um velocímetro no quadriciclo.
Apesar de o veículo chegar a uma velocidade mais alta, o italiano recebeu autorização para andar na cidade somente a 30 km/h.
A autorização para andar em todas as ruas de Tatuí é assinada pelo diretor do Departamento de Trânsito e Transportes, Francisco Antônio de Souza Fernandes, Quincas.
Conforme a assessoria de comunicação da Prefeitura, o departamento concedeu permissão de três meses para que Wolf faça uma experiência com o veículo, sob a recomendação de que evite horários de pico, por questão de segurança.
O italiano recebeu um papel com a autorização, assinada por Quincas, para a locomoção do quadriciclo, a qual irá plastificar e colar na traseira do veículo para andar na cidade.
Apesar de o quadriciclo possuir velocímetro, Wolf limitou a velocidade a 30 km/h. Ou seja, o veículo não ultrapassa essa velocidade, somente se o italiano mexer no motor e desfazer o trabalho com os fios.
Ele afirma que a limitação de velocidade, definida pelo departamento, não dificulta a locomoção do veículo. “O problema não é deixar de ir rápido, o importante é ir constante”.
Segundo Wolf, cada bateria é recarregada em até quatro horas, e o valor para a recarga deve ser, no máximo, R$ 1. “É muito mais econômico do que um carro, pois cada motor faz 30 quilômetros, totalizando 60 a cada recarga”.
Conforme o italiano, pela economia, mobilidade e importância ambiental – pois o veículo não polui e não emite som -, o quadriciclo poderá, em breve, estar cada vez mais presente nas ruas de Tatuí.
Wolf fez o quadriciclo em três meses, mas ressalta que demorou esse tempo porque não ficava sempre o elaborando. “Trabalhava um pouco e parava, não ficava sempre em cima do projeto. É necessário parar um tempo para pensar também”.
Atualmente, o italiano garante que, se tiver todas as peças em mãos, consegue fazer um quadriciclo em, no máximo, três dias. Porém, ressalta que, no momento, não pretende fazer para vender, e sim para “ajudar quem precisa”.
“Para mim, é importante ajudar as pessoas, por isso que fiz algo barato. Não quero atingir quem possui condições de se locomover de outra maneira, quero ajudar quem realmente precisa”, afirmou Wolf.
O italiano declarou que, se uma pessoa necessitar e ele tiver condições de fazer no momento, basta comprar o material que ele produz o veículo. “Faço sem problemas. Aí, se ela quiser me ajudar, ajuda. Mas, eu não quero cobrar nada”.
De acordo com Wolf, ele e um parceiro desenhista e engenheiro patentearam a ideia para que outras pessoas não a utilizem ou registrem, e ele não possa mais elaborar os veículos.
Conforme Wolf, para fabricar o quadriciclo, ele não teve muita dificuldade. “Não precisa pensar muito, a minha formação da escola é a matemática. Matemática significa lógica e, consequentemente, você está acostumado a procurar soluções e tentar resolver os problemas dos outros”.
Apesar de possuir formação em matemática, Wolf atuou muito tempo como padeiro na Itália.
De acordo com ele, nunca pensou em fazer faculdade ou cursos relacionados a mecânica ou elétrica, mesmo precisando utilizar alguns princípios dessas áreas para elaborar as invenções.
“Conhece Leonardo da Vinci? Não tinha diploma; Galileo Galilei também não tinha. Não que eu esteja me comparando a eles, eles são grandes e eu sou pequenininho, um nada. O que quero dizer é que, se você pensar um pouco, é possível resolver os problemas”.
“Aqui no Brasil e na Itália, as pessoas estão acostumadas a utilizar o telefone para consertar as coisas. Quebrou, é só ligar para alguém ir arrumar. Eu não estou acostumado a isso. Minha formação é de tentar resolver a minha situação, não para economizar dinheiro, mas para saber como funciona”, afirmou Wolf.
O italiano diz perceber que as pessoas também possuem “receio” de dizer que não entendem sobre determinado assunto e acabam deixando de aprender muitas coisas, o que, segundo ele, é um “pecado para a evolução do ser humano”.
Outras invenções
Wolf afirma que as invenções dele não vão parar na fabricação do veículo e que, em breve, terá novidades.
O italiano também trabalhou como mecânico de máquinas de pães. Segundo ele, a curiosidade em aprender o levou a entender o funcionamento de muitos aparatos. Foi assim, inclusive, que ele veio ao Brasil, para ajudar a resolver um problema em maquinário de um empresário do ramo alimentício.
Com a experiência em consertar equipamentos de pães, ele começou a desenhar e desenvolveu uma máquina que produz pães pré-cozidos.
“Não inventei nada, fui pegando um máquina aqui, outra ali, e fui interligando de modo que, no final, ficou uma máquina 90% automática, que calcula o peso da massa, depois repousa, faz a baguete e corta, um trabalho que um padeiro faz manualmente”, afirmou.
De acordo com Wolf, ele patenteou a máquina e fez um acordo com a empresa, pelo qual receberia 2% do valor de cada equipamento vendido. No entanto, há mais de dez anos da invenção, ele conta, não recebeu nenhum dinheiro.