Da reportagem
Na noite de sexta-feira da semana passada, 5, foi inaugurado o Complexo Cultural de Tatuí. O conjunto abrange o MIS (Museu da Imagem e do Som “Jornalista Renato Ferreira de Camargo”) e o Memorial do Rugby 1928 “Dr. Gualter Nunes”.
As obras tiveram início após aprovação pelo Comtur (Conselho Municipal de Turismo). Na ocasião, o órgão consultivo e deliberativo autorizou a aplicação de recursos do Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos), do estado de São Paulo, em razão do prazo de obtenção e “da importância que o equipamento cultural traria para o turismo da cidade”.
Durante o evento, o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior falou sobre o processo de elevação de MIT (município de interesse turístico) para estância. E reafirmou o compromisso da cidade em tornar-se referência turística na região.
“A inauguração deste Complexo Cultural representa não apenas a entrega de um espaço físico, mas sim a concretização de um sonho coletivo, que visa enriquecer a vida cultural de Tatuí e oferecer novas oportunidades de cultura e turismo para a população e visitantes”, discursou.
O secretário do Turismo e Viagens do estado de São Paulo, Roberto de Lucena, destacou o papel ativo do Comtur e afirmou que Tatuí está pronta para ser elevada ao título de estância.
“Essa preparação reflete o compromisso da cidade em desenvolver o turismo de forma sustentável e inclusiva, aproveitando-se de seu rico patrimônio histórico e cultural para oferecer experiências enriquecedoras aos visitantes”, declarou.
Ele disse estar ansioso para a etapa de expografia do MIS e “para todas as oportunidades futuras que o espaço proporcionará para a população e ao turismo da cidade”.
Cardoso Júnior lembrou que, em um determinado ranqueamento, a cidade de Araras havia passado à frente de Tatuí “sem nenhum quesito técnico”. Ele apontou o fato como “uma carteirada política”. “Nada contra Araras, mas não dá para comparar as duas cidades em termos de potencial turístico”, defendeu.
Por meio de uma lei complementar do estado, foi estabelecida a necessidade de ranqueamento, a ser feito a cada três anos, determinando quais MITs podem ser elevados a estância e quais dessas perderão a titulação, passando a MITs.
Acesso e descenso entre os dois grupos envolvem apenas três municípios de cada categoria, sendo que, primeiro, faz-se o ranqueamento das estâncias e, em seguida, dos MITs.
Cardoso Júnior lembrou que, quando Araras passou à frente de Tatuí, a cidade ainda não havia conseguido o cadastro do Sítio do Carroção, considerado o maior resort pedagógico da América Latina e um dos maiores do mundo. “Agora, conseguimos o cadastro, e não tenho dúvida de que somos o primeiro dessa lista”, declarou o prefeito.
A mesma lei do ranqueamento fixou o número de cada tipologia, sendo 70 estâncias e 140 MITs. As análises de mérito dos pleitos são feitas por um grupo de técnicos.
No caso das estâncias, é necessário que o município seja destino já consolidado, com turismo efetivo de fluxo permanente de visitantes, além de possuir atrativos turísticos de uso público e caráter permanente, sejam eles naturais, culturais ou artificiais.
O projeto ainda precisa de estudos da demanda turística da região, inventário feito pela prefeitura, atrativos turísticos, equipamentos e serviços turísticos e infraestrutura de apoio à área.
Pelo MIT, Tatuí obtém a nota 65,75. No primeiro lugar do ranqueamento, figura a cidade de Paraibuna (78,5), seguida por São Bernardo do Campo (78) e Araraquara (77,25). No triênio 2022/2024, Ubatuba, Atibaia e Peruíbe são as primeiras colocadas em estâncias.
Ainda no encontro, o diretor do Departamento de Cultura, Rogério Vianna, frisou a importância da entrega do terceiro equipamento cultural da cidade com prédio próprio.
E explicou que o conjunto é parte integrante do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, sendo que a reserva técnica dos equipamentos será administrada pelo órgão cultural.
O secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo e Lazer, Douglas Dalmatti Alves Lima (“Buko”), afirmou que Tatuí já recebeu quase R$ 3 milhões do estado por meio de recursos do Dadetur. Desta forma, sustentou que os aportes são fundamentais para impulsionar o desenvolvimento da cultura e do turismo locais. Segundo ele, esses recursos têm sido investidos em projetos e iniciativas que visam promover o potencial turístico da cidade, além de valorizar a história e atrair visitantes, contribuindo, assim, para o crescimento econômico e social.
Durante a cerimônia de entrega do Conjunto Cultural, Lucena e Cardoso Júnior receberam uma réplica do Memorial do Rugby 1928, produzida pela empresa ITK Soluções. O objeto foi feito com a madeira existente na estrutura pré-moldada do edifício.
Em seguida, foram entregues certificados de reconhecimento aos filhos do jornalista Renato Ferreira de Camargo (patrono do MIS), Christian Pereira de Camargo e Renato Pereira de Camargo.
Christian contou que o pai dele dedicou-se mais de duas décadas a pesquisas históricas. Desta forma, disse desconhecer algum tatuiano que tenha se empenhado para que a história local fosse preservada, não apenas em registros históricos, mas na pesquisa de dados e informações.
“Ele se deslocou muitas vezes para São Paulo, Sorocaba e Itapetininga, visitando museus, bibliotecas e igrejas, sempre atrás de informações corretas. Também conversava com as pessoas mais antigas de Tatuí e ganhou admiração regional”, contou.
Tanta dedicação rendeu a Camargo o convite para integrar a Academia Sorocabana de Letras e ser membro-fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga (IHGGI).
“O sonho dele era reunir material para podermos ter um MIS. O seu legado serviu de inspiração para esse momento que vivemos. Eu e minha família estamos muito felizes e ansiosos de poder ter naquele espaço um local de pesquisa da nossa memória”, relatou Christian.
A filha de Gualter Nunes, Vilma Ramos Nunes, e a bisneta de Pedro Rocha – que foi um dos administradores do matadouro municipal, local que hoje abriga o Conjunto Cultural – também foram homenageadas.
Vilma disse ter ficado emocionada com a homenagem ao pai. E afirmou a importância de salvaguardar o Rugby 1928, em razão de ele ter sido muito utilizado pelo médico para cuidar de pessoas.
Ela ainda lembrou que, quando Nunes visitava os pacientes, ela e as amigas iam juntas para passearem no veículo. “Estou muito feliz com essa homenagem feita ao meu pai”, concluiu.
O complexo foi construído por meio de três convênios entre a prefeitura e o governo do estado de São Paulo. Na primeira fase, o valor destinado pelo estado foi de R$ 373.874,1; na fase dois, o MIS recebeu mais R$ 361.108,44; e, por fim, para a terceira etapa, que contemplou o Memorial do Rugby 1928, foram disponibilizados R$ 615.073,96.
A revitalização do prédio do primeiro matadouro municipal (datado de 1859) começou no final de outubro de 2017. Em outubro do ano passado, os membros do Comtur estiveram no local para obter informações que possibilitaram a atualização do andamento do plano museológico do museu.
Para a expografia do MIS, a prefeitura está buscando parceiros. A ideia é receber colaborações em etapas que vão desde a produção até a instalação do projeto museológico. Uma vez finalizado, o trabalho permitirá ao MIS abrigar o acervo cultural em seu interior.
Expografia
Vianna contou que, com a inauguração do prédio, a próxima etapa é a conclusão da expografia do complexo. Nessa fase, o museu receberá a montagem de todo o acervo material do interior dele.
Para a expografia do MIS, Vianna explicou que a prefeitura está buscando parceiros. A ideia é receber colaborações em etapas que vão desde a produção até a instalação do projeto museológico. Uma vez finalizado, o trabalho permitirá ao MIS abrigar o acervo cultural.
No entanto, segundo ele, esse processo está a cargo da Arquiprom, que realiza projetos de design e comunicação visual, planejamento, supervisão, produção de museus, exposições, sinalização e estandes. A empresa trabalha em parceria com o escritório Narrativa Um, desenvolvendo projetos e pesquisas históricas.
Para a etapa final, Vianna salientou que ainda será necessário angariar um recurso de R$ 400 mil. Segundo o diretor, o município já captou parte do valor pretendido, sendo possível a realização da fase de pré-produção, da pesquisa e dos projetos museológico, expográfico e de comunicação visual.
Esta fase do projeto foi executada por meio da Lei Rouanet, criada em 1991 e que institucionalizou o incentivo à cultura, por meio da criação do Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura), de responsabilidade do MinC (Ministério da Cultura). A etapa recebeu patrocínio das empresas Sorocaba Refrescos, Coop (Cooperativa de Consumo), Fadel Transportadora e Itaú Cultural.
Em abril do ano passado, representantes da Arquiprom e Narrativa Um apresentaram uma atualização do plano museológico do MIS.
Na ocasião, a arquiteta da Arquiprom, Silvia Landa, mostrou o projeto da expografia, começando pelas perspectivas externas do local. Conforme a apresentação, o espaço terá a história do local contada por meio do “roteiro”: “De Matadouro a Museu – Os Significados de uma Edificação”, além da recepção dividida por uma cortina de teatro que dará acesso à sala “Memorialistas”.
Nesse espaço, acontece a introdução ao MIS, falando da importância dos homenageados. A ideia, segundo a proposta, é contar a história com o acervo doado pelas famílias deles, com vídeos e fotos, produzindo uma entrada para o MIS.
Conforme foi apresentado, a entrada do museu contará com um painel intitulado: “Entre o Ancestral e o Contemporâneo”. Nele, os visitantes terão informações das origens europeia, africanas e das Américas, por meio dos indígenas.
A partir daí, terão acesso à linha do tempo do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, desde a atualidade até a criação, unificada a cultura nacional.
Haverá, na sala maior, um módulo triangular ao centro, dividida em três eixos: “Diálogos entre o Cururu, Hip-Hop e Fandango”, “Bailes e Baladas” e “Festas e Músicas nas Praças e nas Ruas”.
Em outra sala, o tema será “A Era das Comunicações em Massa”, com foco no teatro, telenovelas (focada na trajetória da atriz tatuiana Vera Holtz), rádio e televisão, com destaque para Maurício Loureiro Gama e Toninho Del Fiol, e um módulo focando “A Rádio de Tatuí”.
O espaço “A Alma do Instrumento” apresentará a luteria da Capital da Música, incluindo uma bancada com as ferramentas para a construção de um instrumento.
E, por fim, a última sala do MIS será a “Produção Fonografia”, com sistema que simula uma mixagem fonográfica básica, por meio de software específico que permite selecionar, dentro de cinco possíveis, uma opção pela qual o usuário fará a mixagem e poderá, em um arquivo de áudio, enviá-la por e-mail como lembrança da visita realizada.
De acordo com Vianna, a elaboração da expografia do espaço está em andamento. O diretor contou já existir um projeto aprovado para a finalização dessa etapa. E esclareceu que o complexo será uma extensão do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, uma vez que o veículo a ser exposto, o Rugby 1928, faz parte do acervo do PS.
Renato F. de Camargo
Patrono do MIS, Renato Ferreira de Camargo nasceu em Tatuí no dia 29 de novembro de 1938, filho de Francisco Rozendo de Camargo e Georgina
Ferreira de Camargo e irmão de Roberto, Ruth e Rachel.
Ele foi casado com Eunice Pereira de Camargo, com que teve dois filhos: Christian Pereira de Camargo e Renato Pereira de Camargo.
Com uma sólida trajetória profissional, foi investigador de polícia até aposentar-se em 1991, atuando como investigador-chefe da Divisão de Sindicâncias da Corregedoria de Polícia Civil.
Além disso, era bacharel em ciências jurídicas e sociais, pela Fundação Karnig Bazarian (FKB), e em comunicação, com habilitação em jornalismo, pela Universidade de Sorocaba (Uniso).
Também era reconhecido pelo profundo interesse pela história e cultura de Tatuí, sendo autor de diversas obras e membro de instituições culturais. Escreveu os livros: “Memórias de Tatuí”, “Achegas para a História Tatuiense” e “Ilustres Cidadãos”, além de ter participado de pesquisas para a preservação da memória local.
Além da atuação profissional e acadêmica, Camargo foi um membro ativo da comunidade, na qual se envolveu em atividades filantrópicas, entidades sociais e maçonaria.
Recebeu diversas honrarias, incluindo o título de “cidadão emérito”, pela Câmara Municipal de Tatuí, e a mais alta condecoração da Maçonaria Paulista, o mérito “Gonçalves Ledo”.
“O legado dele como pesquisador, escritor e membro ativo da sociedade tatuiana permanece vivo, sendo uma marca indelével na preservação da história e da cultura local”, reforçou a assessoria de comunicação da prefeitura, em nota à imprensa. Ele faleceu em 20 de novembro de 2012.
Gualter Nunes
Conhecido como “o médico da pobreza”, doutor Gualter Nunes nasceu no dia 18 de maio de 1889, na cidade do Rio de Janeiro. Foi um profissional renomado e humanitário, que dedicou a vida ao serviço médico e à ajuda aos menos favorecidos. Ele faleceu em 4 de março de 1970, em Tatuí.
Pedro Rocha
Nascido em Tatuí, no dia 6 de março de 1900. Pedro Rocha se casou com Antônia Orsi Rocha em 31 de maio de 1923. Em meados de 1918, já residia nas casas próximas ao matadouro – local onde hoje está instalado o Complexo Cultural.
Ele trabalhou no local, tendo conquistado, por mérito formalizado em decreto municipal do então prefeito Alberto dos Santos, a responsabilidade da administração do local.
A condecoração foi destinada a ele em razão de ser “uma pessoa muito exigente com a limpeza e que prezava pela qualidade dos animais”, respeitando as normas sanitaristas da época. Rocha trabalhou no matadouro até a aposentadoria. Faleceu em 12 de junho de 1973.
Rugby 1928
O veículo, que pertenceu a Gualter Nunes, é considerado um raro modelo M-2, carroceria 6012, da Durant Motors (fabricado em New Jersey, nos Estados
Unidos). Segundo registros, existem apenas três modelos do veículo no Brasil. O de Nunes é um deles.
O Rugby se tornou parte do acervo do Museu Histórico “Paulo Setúbal” por meio de doação feita por Paulo Ribeiro, Nilzo Vanni, José de Castro Freire e outros, conforme documentação preservada no próprio museu.
A neta do médico, Marisa Nunes Bassoi, também contribuiu com uma declaração, destacando a raridade do veículo.
Por muitos anos, o carro esteve exposto publicamente na praça Manoel Guedes (Praça do Museu). No entanto, devido à falta de manutenção, foi removido do local nos anos 1990, ficando sem cuidados e sofrendo danos ao longo do tempo.
Em maio de 2017, a prefeitura concedeu o carro histórico ao clube Antigomobilismo, de Tatuí,
para ser restaurado e preservado. Todo o trabalho de pesquisa e restauração foi feito com a ajuda de voluntários e empresas, entre eles, Afonso Fiusa (A Fiusa Restaurações), Tintas Pig, Axalta, Pupo Garagem, e o apoio da família Setúbal.