Da reportagem
De forma semelhante a milhares de jovens brasileiros – incluindo muitos tatuianos -, Higor Werneck Xisto, desde a infância, tem o sonho de tornar-se jogador profissional de futebol. No entanto, foram os estudos que o levaram aos Estados Unidos e mantêm o sonho dele vivo.
Atualmente com 23 anos, Werneck foi aprovado e ganhou bolsa de estudos da University of Northwestern Ohio (Universidade do Noroeste de Ohio), situada em Lima, Ohio (EUA), para estudar e participar da Liga Naia (liga universitária), tendo deixado o Brasil em agosto de 2021.
O início da caminhada do jovem em busca do sonho foi em um projeto social na Fundação Manoel Guedes, onde residiu na infância. Pouco depois, ele destacou-se, sendo levado ao projeto “Sou Aleta do XI”, da Associação Atlética XI de Agosto. Lá, foi treinado por Jorge Willian e por Luís Carlos de Oliveira, o Bulldog.
“Werneck conciliava os treinos de futebol de campo com os de futsal, no qual aprimorava a técnica, além de conquistar títulos e premiações individuais, de artilheiro e de melhor jogador, nos campeonatos no município e na região”, afirmou Jorge William, responsável por levá-lo ao “Égua Vermelha”.
Não demorou muito para Werneck deixar Tatuí e seguir em busca do sonho. O então meio-campista teve passagens por Grêmio Osasco Audax, São Caetano, São Bernardo, Água Santa e São Bento, além do São Carlos, clube que defendeu em duas edições da Copa São Paulo de Futebol Júnior, considerada “a principal competição de futebol de base do país”, em 2018 e 2019, quando foi titular.
Pela equipe de São Carlos, o tatuiano também disputou o Campeonato Paulista Sub-20, em 2019, sorteada no mesmo grupo de São Paulo e Palmeiras. “Joguei contra o Gabriel Sara e Pablo Maia, pelo lado do São Paulo, e, pelo lado do Palmeiras, com o Patrick de Paula (atualmente no Botafogo) e o Gabriel Menino (já convocado à seleção brasileira)”, contou.
Contudo, durante a jornada, o jovem enfrentou uma série de adversidades, sendo uma das principais a de estar sempre longe de casa, desde 2015, residindo em alojamentos com pouca estrutura. “Em alguns deles, tínhamos até dificuldades para comer bem”, lembra.
Entre as inúmeras dificuldades para continuar em busca do sonho, antes de conseguir uma vaga em alojamento, por mais de dois meses, Werneck emprestou um colchão para dormir no chão da casa de um amigo em São Paulo, tendo de acordar, diariamente, às 5h para pegar metrô, trem e ônibus, além de 20 minutos de caminhada, para chegar aos treinos.
“Além disso, existem jogadores com empresário que recebiam prioridade em certas situações. Mas, quem me conhece sabe: nunca reclamei! Sempre fui grato a Deus por ter condições de pelo menos estar lá”, sustenta.
Apesar disso, a principal dificuldade de Werneck não foi devido ao futebol. Em 2014, aos 13 anos, o então adolescente perdeu a mãe, Edivani Leme Werneck, que sempre o apoiou, ao lado do pai, Carlos Xisto.
Conforme o tatuiano, a irmã mais velha, Karen Werneck, foi uma das principais razões de ele não ter desistido de tornar-se atleta. Quando eles perderam a mãe, Karen estava na faculdade, cursando psicologia.
“Mesmo assim, ela não desistiu e se formou, cuidando de mim e da irmã mais nova (Lavínia Werneck Xisto). Agora, a Lavínia me apoia muito. Está com nove anos e é como se fosse minha filha”, complementa o jovem.
Além da família, ele conta que sempre recebeu apoio de Jorge William, de Bulldog e outras pessoas do XI de Agosto “no momento mais difícil da vida”. O tatuiano ainda destaca o apoio que recebeu dos empresários Gilberto Santos e Rodrigo Kemparsk, em São Paulo, que o ajudaram financeiramente e com um local para morar.
Para rumar aos Estados Unidos, Werneck foi indicado para uma agência de intercâmbio brasileira, a qual enviou o currículo e um vídeo dele para várias universidades norte-americanas.
O tatuiano recebeu propostas e foi contatado por alguns técnicos, mas, após conversar com Tyler Brock (atual treinador dele), decidiu ir para Ohio.
Ao deixar o país, além da possibilidade de tornar-se fluente na língua inglesa, o tatuiano cursa administração de empresas e tem possibilidade de formar-se em outra área, na qual pretende especializar-se em gestão desportiva.
Ele considera que a universidade possui “uma estrutura impecável e oportunidade de network” que dificilmente teria no Brasil. Lá, o tatuiano ainda pode montar a própria programação na universidade com os treinos de futebol.
“Atualmente, tenho aulas diariamente e dois treinos diários com o time. Muitas vezes, um dos períodos é na academia e o outro, no campo. É uma rotina bem puxada, tem que conciliar tudo muito bem”, observa.
As adaptações na vida de Werneck nos Estados Unidos também aconteceram dentro de campo. Em um time com jogadores de mais de 15 nacionalidades diferentes, com o treinador Brock, o jovem deixou o meio-campo e passou a atuar como lateral-esquerdo.
Pela universidade, o tatuiano teve um bom desempenho na Liga Naia no ano passado e, no mês passado, assinou contrato para jogar a USL League 2.
Ele pretende, em breve, disputar a USL League 1, o que o aproxima da possibilidade de chegar à MLS (Major League Soccer) – principal campeonato dos Estados Unidos que conta com jogadores de renome internacional.
“Penso em seguir a carreira de jogador profissional, mas, caso não dê certo, sei que tomei a decisão correta de estudar também. Então, vou estar formado e poder decidir uma área boa para trabalhar”, finaliza Werneck.