RAUL VALLERINE
Qualquer mulher que entenda os problemas de cuidar de uma casa está muito perto de entender os de cuidar de um país.
Margaret Thatcher
Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma progressão no debate público em torno das questões femininas.
Temas como assédio, aborto, maternidade e carreira, vem sendo discutidos amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político. A luta pelo direito das mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Mas e na política, ainda temos um espaço fechado entre os homens? Não, isso vem mudando, e a participação política das mulheres é prova disso, seja como eleitoras, desde a década de 1930, seja como candidatas a cargos públicos, mas tal mudança ocorre a passos lentos.
Muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas.
Isso acontece devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reflete, até hoje, no nosso cenário de baixa representatividade feminina no governo.
O Brasil é um dos piores países em termos de representatividade política feminina, ocupando o terceiro lugar na América Latina em menor representação parlamentar de mulheres.
No ranking, a nossa taxa é de aproximadamente 10 pontos percentuais a menos que a média global e está praticamente estabilizada desde a década de 1940.
Isso indica que além de estarmos atrás de muitos países em relação à representatividade feminina, poucos avanços têm se apresentado nas últimas décadas.
Esse cenário observa-se em todas as esferas do poder do Estado. Desde as câmaras dos vereadores até o Senado Federal, essa taxa de representatividade ainda permanece muito baixa, mesmo em um cenário no qual 51% dos eleitores são mulheres.
Há dados de 2016, mostrando como o número de mulheres na política é baixo no Brasil. Naquele ano, apenas um cargo de governo estadual era ocupado por mulher, hoje a situação não mudou e o único estado governado por uma mulher é o Rio Grande do Norte.
Diante desse quadro, percebe-se que as mulheres não têm alcançado as esferas de poder do Estado de maneira igualitária, o que as deixa à margem dos processos de elaboração das políticas públicas. Ou seja, as mulheres não se encontram devidamente representadas nesse sistema político vigente.
Embora existam cotas eleitorais de lei que assegura uma porcentagem mínima de 30% e máxima de 70% a participação de determinado gênero em qualquer processo eleitoral vigente.
Esse mecanismo pouco tem contribuído para melhorar a atuação e a chegada das mulheres aos cargos do governo brasileiro. Como dissemos anteriormente, o percentual de mulheres no poder permanece quase o mesmo desde 1940.
Além disso, muitas das candidatas que se inscrevem na lista de cotas partidárias são consideradas candidatas laranjas, ou seja, são mulheres que não têm interesse em pleitear um cargo político, estão ali só para cumprir o coeficiente necessário que os partidos devem ter para serem considerados legais no processo eleitoral. Algumas nem chegam a fazer campanha política e também não obtém votos qualificados.
Dessa forma, a aplicação das cotas vem sendo questionada em relação a sua eficácia no Brasil, pois confere a responsabilidade dos partidos para a promoção da paridade de gênero, mas não tem alcançado uma participação igualitária nos partidos.
Por um lado, acredita-se que a ausência de mulheres nos cargos de poder não propicia um debate adequado em torno de questões fundamentais, como saúde e segurança pública.
Entende-se que a presença de mulheres na política proporcionará um maior diálogo e um pensar mais abrangente em torno de questões que estejam relacionadas às pautas femininas.
Assim, bom governante é aquele que tem compromisso com a democracia e com a coletividade, seja homem ou mulher.