José Renato Nalini *
O dia reservado aos pais não chega a ser tão celebrado como o Dia das Mães. O próprio exclamar “odiados pais”, sem separar os três verbetes, dá margem a indesejável conteúdo. Pai tem de ser amado, não odiado. Em regra, no decorrer de sua existência, ele passa por todos os tons de sentimento.
Quando o filho é pequeno, o pai é a força, a energia, a segurança. Os ombros que carregam a cria. Leva ao colo o seu fruto e quando a criança está no alto, sente-se protegida e privilegiada.
O tempo vai passando e a criança é um adolescente quase sempre rebelde. Agora pensa que já sabe tudo o que é preciso e não admite ordens paternas. Disciplina, horário, vedações ou recomendações, tudo cheira a autoritarismo.
Não é raro seja a mãe o para-raios, a intercessora, aquela que tudo compreende e tudo perdoa. O pai é a segunda instância, quase sempre irrecorrível. Absorve todo o inconformismo se quiser que a sua orientação prevaleça.
Difícil exercer uma paternidade responsável nesta era em que somos manipulados pelos algoritmos e os pais não sabem o que fazer para manter um parâmetro em relação a filhos que são nativos digitais e são nutridos, diuturnamente, pelas redes sociais.
Mais grave ainda, há pais desempregados. Os filhos são vítimas do consumismo, de um poderoso marketing que faz com que a sofisticação se converta em item de primeiríssima necessidade.
Como chegar em casa, depois de um dia em busca de trabalho, sem poder oferecer aos alimentandos aquilo que é considerado o mínimo existencial?
Pais ainda são considerados os provedores, os responsáveis pelo sustento, os pilares sobre os quais se assenta o lar, ou o que restou dele, para milhões de miseráveis neste Brasil tão rico, mas tão desigual.
Os privilegiados filhos que têm pais capazes de suprir suas carências, têm de ser gratos à Providência e honrar seus genitores. Os que já perderam seus pais, talvez os valorizem até mais do que os não órfãos.
O pai, seja como for, é sempre um herói. Trouxe ao mundo, na parceria com a mãe, uma nova experiência vital. Sente-se copartícipe do milagre da criação. Salvem os pais, todos os pais, neste desafiador 2021.
* Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022.