Professores e pais de alunos, basicamente, têm “medo” do retorno das aulas presenciais. Não por qualquer aversão ao ensino, obviamente, senão pelo receio de contágio. Em Tatuí, no final de semana anterior ao reinício, a Justiça do Trabalho chegou a conceder liminar atendendo a pedido de profissionais da Educação.
Por meio do Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Municipais, a ação buscava impedir a retomada, foi aceita no sábado, 8, e derrubada no domingo, 9, permitindo a volta presencial às escolas a partir do dia 10.
Inicialmente, os alunos do ensino fundamental 1 e 2 e da EJA (Educação de Jovens e Adultos) puderam voltar ao estudo presencial e, em sequência, já nesta segunda-feira, 17, ocorreu a retomada das pré-escolas e, para o dia 31, segue programada a volta das atividades nas creches municipais.
As aulas presenciais, afinal, retornaram após 383 dias, suspensas que estavam desde 23 de março de 2020, devido à pandemia.
A O Progresso, o vice-prefeito e secretário municipal da Educação, Miguel Lopes Cardoso Júnior, informou que as datas de retorno das atividades presenciais são diferentes porque os alunos mais novos requerem cuidados redobrados.
Essa percepção também é resultado de preparo para o restabelecimento dos serviços com o máximo de precauções possível.
Para tanto, mais de 1.400 profissionais da Educação participaram, entre 26 e 30 de abril, de uma capacitação sobre os protocolos de biossegurança, com enfoque, também, em como abordar e diagnosticar psicológica e emocionalmente os alunos.
Conforme a prefeitura, todas as unidades da rede municipal receberam o “Protocolo de Retorno às Aulas Presenciais” – indicado por órgãos de saúde e pela secretaria municipal da área -, com as orientações necessárias para a volta às aulas com segurança.
O órgão municipal também informou ter entregado os materiais de exigência do protocolo nas escolas, entre os quais: tapete sanitizante, lixeira com pedal, fita zebrada, máscara “face shield”, totens para álcool em gel e frascos de álcool em gel.
De acordo com o protocolo, todas as escolas da rede municipal de ensino ainda devem respeitar o limite percentual máximo de alunos, em conformidade com o Plano São Paulo.
No entanto, Cardoso ressalta que a presença dos estudantes nas escolas ainda é opcional, até porque as aulas online seguem pelo programa “Escolariza” (www.escolariza.com.br), a plataforma digital com todo o conteúdo didático atualmente utilizado.
Na semana anterior ao retorno, o secretário contou que a pasta promovera reuniões com os pais dos estudantes, entre os quais uma parcela desejava o retorno e outra, não. Segundo Cardoso, ainda não há uma estimativa de alunos presentes na retomada.
“É muito regionalizado. Há creches em que 35% dos pais optaram por voltar e 65%, não. Em outros locais, quase 90% dos responsáveis preferem retornar”, indica.
Para Cardoso, a decisão da volta presencial é “polêmica e de muita responsabilidade, mas que fora pensada e planejada com muito carinho e respeito”.
Por sua vez, na semana de reativação das atividades, o jornal O Progresso promoveu enquete em que abordou justamente a opinião dos pais e responsáveis sobre as aulas presenciais. O resultado foi que 74% deles ainda não se sentiam seguros.
Por certo, o grande receio indica isso mesmo: “receio”. Não implica em indisposição, tampouco em desaprovação, sobretudo porque todos – autoridades, pais e professores – têm consciência acerca da necessidade do ensino e, ainda, do suporte garantido pelas escolas tanto em termos de segurança alimentar quanto emocional.
Sucede daí o quase consenso sobre a importância de as crianças e jovens voltarem a ter aulas nas unidades de ensino – ainda que parcialmente, por enquanto.
O receio, não obstante, é plenamente justificável, mais ainda pela consciência de quem não compactua com o negacionismo quanto à pandemia.
Este contingente mais lúcido da população (cada vez maior, pelo verdadeiro bem do Brasil!) sabe bem identificar seus “pequenos” e jovens como potenciais vetores da Covid-19 para dentro de suas casas. (E esse vírus está matando muito, sim, senhores e senhoras).
Problema, por conseguinte, é não haver solução ao dilema – salvo a vacinação em massa, a qual, pela lentidão, só deve acabar com a insegurança dos pais e professores, por “completo”, em 2022.
Com o propósito de amenizar a apreensão, O Progresso publica na edição deste final de semana artigo da psicopedagoga especialista em gestão escolar e educação especial Ana Regina Caminha Braga.
Basicamente, a especialista indica uma série de atitudes fundamentais para a mínima segurança dos alunos e, consequentemente, dos pais e profissionais da Educação.
Entre estas, ela destaca: acostumar a criança a permanecer de máscara por tempo prolongado já dentro de casa, para que consiga fazer o mesmo durante o período na escola; lembrar que o lanche, brinquedos e materiais escolares são individuais e não devem ser compartilhados; e alertar diariamente sobre a importância do distanciamento social, para que evitem abraços, beijos e conversas próximas.
Ainda: ensinar o cumprimento com o cotovelo, para minimizar o toque; criar o hábito de lavar as mãos e passar álcool em gel periodicamente; e, se for necessário, buscar ferramentas lúdicas na internet para auxiliar no preparo das crianças, como materiais de Maurício de Souza e Ziraldo.
Esses procedimentos, mais os protocolos do Estado e as novas medidas do município, implementadas com ênfase na capacitação dos profissionais da área, certamente podem contribuir em muito com a prevenção ao contágio. Contudo, não eliminam o perigo por completo.
Daí a consciência e obrigação de os pais se manterem redobradamente atentos, contribuindo ativamente com as medidas de prevenção anunciadas pelo poder público.
Além disso, nada garante que não virá por aí uma terceira onda de contaminações, até porque, com a escusa de sermos repetitivos, somente a vacinação feito tsunami no braço da população poderia impor-lhe barreira realmente efetiva – o que não acontece. Na verdade, nesta corrida, o vírus está surfando com muito mais peripécias e celeridade.
Se isto realmente redundar em novos maremotos de óbitos e mais superlotação em hospitais, os pais não podem deixar de escutar o sinal (de alerta) e correr com seus filhos para dentro de casa.