A música faz parte da história de Tatuí desde seus primeiros tempos. Músicos amadores e profissionais, bandas de música, sambistas, orquestras, conjuntos musicais, seresteiros, violeiros, cururueiros ou roqueiros… Todos os gêneros musicais sempre tiveram lugar entre os tatuianos.
Os músicos são inúmeros. Os seresteiros tatuianos, então, sempre foram um sucesso. Alguns deles estão eternizados em esculturas elaboradas pelo artista plástico Cláudio Camargo na Praça do Museu (praça Manoel Guedes). São eles: Ditinho Rolim, João do Irineu, Noel Rudi, Osmil Martins, José Fiuza e Paulo Ribeiro.
Nas reuniões dos seresteiros, havia música e muita comida. Além, é claro, de aperitivos… Só para limpar a garganta ou para dar mais ritmo, ou porque estava calor ou porque estava quente… Sempre havia uma justificativa.
Quase sempre o cozinheiro escolhido era o Noel Rudi. Ele, além de exímio e virtuoso músico, era um cozinheiro de mão cheia. Sua especialidade era o arroz com suã, considerado extremamente saboroso por todos que tiveram o prazer de apreciar.
A receita havia aprendido com sua avó. Escolhendo a melhor parte do suã, assim como grandes nacos de pernil, Noel primeiramente fritava a carne em uma enorme panela, com algum tempero que, com muita paciência, ia dourando, dourando, fazendo com que pedaços da carne se soltassem e, junto com a gordura, quase que grudava no fundo e nas paredes da panela, com um aroma incrivelmente delicioso e deixando uma cor marrom. Quando percebia que estava no ponto, juntava o arroz, que fritava junto com a carne e, então, colocava a água necessária para cozinhar.
Ah, as pessoas que passavam ao longe, sentiam-se atraídas pelo cheiro maravilhoso que exalava daquela panela. Irresistível. Noel não economizava nem alho e nem cebolas. Ao juntar a água ao arroz e à carne, tudo ficava com uma cor meio marrom, meio dourada, resultado da fritura da carne. Ao final, polvilhava com cheiro-verde e… Ah, com licença, não paro de salivar, só de pensar!!!
O sucesso era garantido. Muito bom. Bom demais.
Porém, certo dia, comentaram com o Cláudio Polenta a respeito do maravilhoso arroz com suã preparado pelo Noel. Polenta não se conformou e afirmou que o arroz com frango que ele fazia era melhor ainda. E convidou os seresteiros para provar.
Marcou um final de semana em sua chácara no bairro da Americana. A turma toda foi por lá… Os seresteiros, seu Paulinho Ribeiro, Hélio Portela, dentre muitos outros. O Polenta tinha um belo método na cozinha. Uma técnica que também contava com uísque escocês da melhor qualidade, cerveja e caipirinha.
Polenta colocou o tempero na panela, junto com um pouco de unto, que foi buscar em um sítio de conhecidos. O seu segredo era esse: fazer o arroz com frango usando a gordura de porco. A cada mexida na panela, um gole de uísque. Quando o calor incomodava, um copo de cerveja. Quando a gordura estava no ponto, juntou o arroz, fritou, colocou cebola, fritou mais um pouco e, por fim, a água para cozinhar.
A expectativa era grande. Alguns já estavam com bastante fome, e a coisa estava demorando um pouco. Mas estava no final. O aroma do unto prevalecia. Para arrematar, Polenta jogou cheiro-verde sobre o arroz quase pronto, fechou a tampa mais um pouco e disse a todos que pegassem prato e talheres, que estava tudo pronto.
Os músicos até pararam de tocar. Todos estavam com fome, e o cheiro era realmente muito bom. Todos estavam dispostos a dar nota dez pela comida. Mas, quando Hélio Portela abriu a geladeira para pegar mais uma cerveja, levou um susto:
– Polenta! Você esqueceu de colocar o frango! – quase gritando, exclamou.
Pois foi assim mesmo. Ele “apenas” esqueceu de colocar o frango em seu arroz com frango! Ficou assim: uma panela enorme, com muito arroz, temperos, cor etc., mas sem frango! Apesar do fiasco, os músicos continuaram a tocar, para a alegria de todos.