Da reportagem
A morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, em uma unidade da rede de supermercados Carrefour, em Porto Alegre (RS), na quinta-feira da semana passada, 19, véspera do Dia da Consciência Negra (celebrado anualmente em 20 de novembro), repercutiu na sessão ordinária da Câmara de Tatuí na noite de segunda-feira, 23.
Após a leitura dos documentos protocolados para a reunião, Eduardo Dade Sallum (PT) solicitou a inclusão da moção de repúdio 459/20 ao Carrefour, “pelas reincidentes demonstrações de racismo, intolerância e descaso com a vida, praticadas por gestores e funcionários”.
Posteriormente, o vereador subiu à tribuna e declarou que, “apesar do desentendimento de Freitas com uma funcionária, nada justifica que dois seguranças que atuam no estabelecimento o espancassem, além de pessoas que presenciaram as agressões serem impedidas de intervir na situação”.
Sallum se disse “envergonhado” pela situação e citou diversas situações nas quais teriam ocorrido racismo e intolerância por parte de gestores e funcionários em diversas unidades do Carrefour no país. “Se fosse uma vez, podiam dizer que foi um ‘ponto fora da curva’ ou um caso isolado”, afirmou.
A moção de repúdio foi colocada em votação no plenário, de forma separada das outras matérias apresentadas, sendo aprovada por 11 votos favoráveis e uma abstenção, do parlamentar Rodnei Rocha (PSL).
Rocha garantiu repudiar a tragédia ocorrida na capital gaúcha, no entanto, argumentou que o assassinato da estudante de medicina veterinária Julia Rosenberg Pearson, uma jovem branca de 21 anos, em São Sebastião (SP), no dia 6 de julho, não teve a mesma repercussão da morte de Freitas.
“Vocês viram alguma comoção pela morte dessa garota? Viram alguém fazer uma mobilização para quebrar supermercados por causa da morte dela? Isso, para mim, não é igualdade”, disse.
“Que culpa tem o Carrefour? Se eu contratar uma pessoa e, no primeiro dia, ela matar alguém, que culpa eu tenho”, questionou o vereador.
De acordo com Rocha, ele “luta em prol das pessoas com deficiência, pois a situação delas é a mais precária”, citando a filha dele, que possui deficiência.
“Eu queria que a minha filha fosse negra, mas que ela conseguisse andar, tomar as próprias decisões e curtir a vida sem as limitações que possui”, finalizou o parlamentar.