Tatuí possui alguns patrimônios reais, muito peculiares, cujo maior – sem dúvida – é o Conservatório. É hoje e assim será para sempre, até porque a cidade nunca deixará de ser a “Capital da Música”, sua maior virtude.
Quando se trata sobre “patrimônio”, há ampla gama de qualidades, embora, em geral, predomine-se a ideia de algo concreto, “estrutural”, como um edifício histórico, por exemplo. Nestes casos, busca-se o chamado tombamento, para a preservação desses espaços.
Um “bem cultural”, por sua vez, amplia a plêiade das virtudes, envolvendo patrimônios materiais “e” imateriais, marcados por aspectos históricos, artísticos, ambientais e turísticos. Neste sentido, em outro exemplo, o CDMCC carrega várias virtudes ao mesmo tempo.
Não por acaso, acabou sendo a maior justificativa para Tatuí se tornar município de interesse turístico (MIT) do estado de São Paulo. Grande conquista – que, aliás, por justiça, deveria ser muito bem lembrada nestas eleições quanto a quem, de fato, trabalhou por esse grande reconhecimento.
Para tanto, nem é difícil: basta uma “busca” no portal de notícias do jornal O Progresso com a palavra “MIT” e lá aparecerão diversas reportagens, nas quais alguns nomes serão recorrentes, justamente os dessas pessoas que trabalharam (sem salário, ressalte-se) em favor do título estadual.
Da mesma forma, a Feira do Doce se tornou outro patrimônio tatuiano, fruto (saboroso) do trabalho insistente e nada leve de uma série de pessoas – dentro e fora da política, desta e da gestão anterior – que acabou por “criar” o maior atrativo turístico daquela que veio a ser conhecida como a “Terra dos Doces Caseiros”.
No entanto, poucos patrimônios conseguem abraçar todas as possíveis virtudes oportunas a quaisquer localidades quanto a Estação Ferroviária de Tatuí. Por este motivo, é de suma importância evidenciar esta recente conquista.
O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado), órgão da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do governo de São Paulo, acabou de aprovar, na tarde de segunda-feira, 26, o tombamento do conjunto da Estação Ferroviária.
De acordo com o Condephaat, trata-se de importante ramal remanescente de uma das principais ferrovias paulistas, a antiga Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), ligação com a malha viária do país.
O espaço foi tombado como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico, artístico, turístico e ambiental.
Conforme resolução do órgão, o perímetro onde estão o prédio da estação da antiga Estrada de Ferro Sorocaba, o leito ferroviário, o largo do local, os armazéns de carga e a vila ferroviária da EFS devem ser preservados.
Segundo o conselho estadual, o complexo é representativo da expansão ferroviária pelo estado vinculada ao cultivo do algodão e, posteriormente, ao café.
Para o conselho, as estações ferroviárias tiveram “papel importante no desenvolvimento e fundação de cidades e, hoje, são importantes para a valorização da nossa história”.
“O conjunto da estação de Tatuí pertenceu à antiga estrada de ferro – inaugurada em 1875, entre São Paulo e Iperó – que se tornou uma das primeiras rodovias paulistas ao impulsionar a ocupação de terras ao longo do vale do rio Paranapanema até a foz do rio Paraná, forjando outros processos sociais, econômicos e culturais nas regiões que atravessou”, completa o órgão.
O conselho salienta: “O conjunto da estação evoca o contexto político e econômico do período no qual foi implantado, representando as relações existentes nos períodos colonial, imperial e correspondente à primeira república brasileira, em 1889 a 1930”.
Quando um imóvel é tombado, os projetos de intervenções no local devem ser analisados previamente pelo Condephat, evitando-se que o bem seja descaracterizado ou sofra intervenções a trazer problemas de estrutura ou incompatibilidade de materiais.
O presidente do Condephat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí), Rogério Vianna, informa que a estação ainda não era tombada em âmbito municipal. “Nosso foco sempre foi conseguir o tombamento estadual. A cidade somente fazia o zelo do prédio e do complexo”, explicou.
“Este tombamento é de extrema importância, e mostra que estamos inseridos em um importante momento histórico do estado de São Paulo”, concluiu Vianna.
Além do tombamento aprovado pelo estado, a prefeitura está aguardando aprovação do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) para iniciar as obras de restauração da Estação Ferroviária.
A intenção é transformar o prédio histórico no novo Centro Cultural. O processo aguarda análise da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), autarquia federal responsável pela regulação das atividades de exploração da infraestrutura ferroviária e rodoviária federal e de prestação de serviços de transporte terrestre.
De acordo com o secretário municipal do Esporte, Cultura, Turismo, Lazer e Juventude, Cassiano Sinisgalli, a concessão de uso do prédio já está autorizada pela Rumo Malha Sul S.A., concessionária que detém o direito de uso do imóvel. Assim, a prefeitura busca a autorização do DNIT.
O secretário antecipou a intenção de fazer do local uma estação cultural, mostrando a história da ferrovia em Tatuí, além de contar com um balcão receptivo e uma unidade de PIT (ponto de informações turísticas).
Segundo ele, a ideia é ressaltar as características do imóvel e utilizá-lo como espaço de lazer em atividades noturnas, incentivando a interação da comunidade com o prédio histórico.
O município espera investir de R$ 500 mil a R$ 1 milhão. O custo poderá ser dividido, a partir de recursos de parcerias com a iniciativa privada, do governo estadual (por repasse do MIT) e da própria prefeitura.
O projeto será elaborado, depois segue para aprovação dos conselhos de patrimônio de Tatuí e de São Paulo e, então, chega ao Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos), para a liberação do recurso.
Sinisgalli lembrou que a pasta está seguindo o Plano de Desenvolvimento Turístico, no sentido de transformar a cidade em estância turística.
A “obrigação” a que todos os políticos deveriam se comprometer, apontada no título, além da busca pela condição de estância, seria exatamente com a manutenção dos privilegiados patrimônios da Cidade Ternura, sejam materiais ou imateriais, “criados” ou “naturais”, “antigos” ou “novos”.
Em outras palavras, não importa “quem fez” ou “agiu” pelos patrimônios locais, senão apenas o reconhecimento do que Tatuí tem de bom e funciona bem.
Por este aspecto, pouco se tem falado em riqueza cultural nestas eleições, mas isto, em absoluto, implica em que os eleitores devem manter ouvidos moucos.
Pelo contrário, precisam estar muito atentos, cientes de que, agora, com o voto – como sempre – determinarão o futuro da cidade também com relação a suas maiores riquezas, que precisam ser preservadas, sem prazo para acabar, diferentemente dos mandatos. São maiores que a política do momento, portanto.