Titus Edge *
Vindo do interior da Escócia para assumir a chefia de uma escola britânica em São Paulo, não foi surpresa para mim que as temperaturas, a topografia e o ritmo de vida nas extremidades do norte da Grã-Bretanha contrastassem fortemente com os da maior cidade da América do Sul.
No entanto, como educador, sempre fico buscando as semelhanças entre as escolas em todo o mundo. Por mais diferentes que possam parecer à primeira vista, os padrões logo emergem.
Um paralelo que eu não esperava encontrar quando fui nomeado para o cargo de diretor da St. Paul’s School, em outubro de 2019, era que as escolas na Grã-Bretanha e no Brasil seriam fechadas para os alunos por conta da pandemia do novo coronavírus.
Assim como em meu último semestre na Grã-Bretanha, meu primeiro semestre no Brasil foi uma existência solitária em meio a salas de aula e corredores, campos e refeitório vazios.
Os professores de ambos os países enfrentam o desafio do ensino online com energia e criatividade, os pais adaptaram suas vidas à medida que suas casas se tornaram espaços de ensino e os alunos tiveram que ajustar seus hábitos de aprendizagem para se adequarem ao mundo virtual.
No começo, foi tudo um tanto irreal. Alguns saudaram o ensino online como o novo futuro brilhante para a educação. Para outros, foi um expediente do momento e as limitações do currículo online foram aceitas como inevitável, mas temporária, à medida que lutamos contra o vírus.
Sete meses depois e ninguém mais tem a fantasia de que as crianças podem aprender mais rápida ou eficazmente online, se comparado ao ensino na sala de aula.
Ninguém mais pode negar o custo emocional e físico que o fechamento de escolas tem causado às crianças. Passar hora após hora em uma tela, fazendo uma quantidade limitada de exercícios físicos, isolando-se das realidades de interação física e social – tudo isso deixará cicatrizes em uma geração já atingida por uma cultura de mídia social generalizada.
Por essa razão, enquanto o mundo tropeça para sair da quarentena e dá alguns passos em falso ao longo do caminho, a reabertura das escolas vem sendo priorizada pela maioria dos governos.
Em São Paulo, porém, as escolas continuam fechadas e a data prevista para uma reabertura parcial foi adiada mais uma vez, desta vez para novembro. Como o país enfrenta um desafio extremo no enfrentamento da pandemia, não há dúvida de que as autoridades locais enfrentam uma escolha difícil.
Como um convidado neste país, não é minha função dizer aos representantes eleitos como fazer seu trabalho ou julgar aqueles que têm que tomar decisões difíceis das quais dependem vidas.
Mas também estou ciente de que nenhum plano de reabertura de escolas está isento de riscos, e de que os danos que esta doença pode infligir a indivíduos e comunidades não devem ser subestimados.
Ao traçar uma saída para essa situação, é importante considerar também o custo final de manter a atual proibição de reabertura das escolas. Ao manter as crianças longe de suas salas de aula, não estamos apenas atrapalhando seu progresso acadêmico, mas negando-lhes a oportunidade de socializar, desenvolver e crescer juntos em uma comunidade física de aprendizagem.
As realidades sedentárias da vida online não contribuem em nada para desenvolver nossos jovens a serem saudáveis e ativos. O custo para a saúde mental de uma geração que não teve a oportunidade de se reunir e absorver toda a amplitude das experiências da infância deve ser ponderado cuidadosamente contra a ameaça representada pela pandemia.
A maioria das evidências disponíveis sugere que as crianças em idade escolar correm, no mínimo, o risco de contrair ou transmitir a Covid-19. Mas, em um momento em que shopping, bares, restaurantes, salões de beleza, academias e praias estão reabrindo para todas as idades, nossas escolas seguem fechadas e vazias.
Mas nossos filhos não devem ser educados para acreditar que o mundo pode se tornar livre de riscos. Eles precisam entender que os riscos requerem gerenciamento e que há uma diferença entre tomar medidas cuidadosas para alcançar um resultado positivo, por um lado, e ser imprudente, por outro.
Tais medidas devem incluir verificações regulares de temperatura, estações de higienização das mãos, sistemas unidirecionais, salas de aula ventiladas e distanciamento social sempre que possível.
Os que correm maior risco – funcionários e alunos – podem precisar continuar online por enquanto, mas o custo social de não socializar nossos filhos, com a segurança e o mais rápido possível, não deve ser subestimado.
Um programa de reabertura das escolas pode ser cauteloso e gradual, necessitando de ajustes ocasionais ao longo do caminho. Ao tentar derrotar uma emergência de saúde a curto prazo, devemos estar atentos ao custo disso para o desenvolvimento educacional, físico, social, emocional e mental de nossos jovens a longo prazo.
* Diretor da St. Paul’s School, em São Paulo