Comprometimento





Corretamente, a valorização dos professores é apontada como fundamental ao efetivo desenvolvimento do país, considerando-se o ensino como a “base” do conhecimento formal, sem o qual não há progresso em nada, seja na ciência, na economia, na política, na arte. Em resumo, em tudo aquilo que, verdadeiramente, resulta em favor da “justiça social”.

Junto à educação familiar, a formal ainda contribui como a real formação do chamado “cidadão”, aquele que, em tese, tem consciência de seu papel na sociedade, não alienado quanto a direitos – aparentemente, cada vez mais valorizados – e deveres – explicitamente em franca desvalorização.

Por consequência, a profissão de educador é a mais importante de todas, pois forma as demais, baseadas no conhecimento transmitido pelos mestres. Deveria ser, portanto, “a profissão das profissões”.

Deveria, porque, na realidade, não é. Tem sido, sistematicamente, menosprezada pelo poder público há décadas, a tal ponto em que, sem hipocrisia, quem pode paga para estudar os filhos em estabelecimentos privados, garantindo-lhes “melhor educação”.

Ideal seria que, ao invés de políticas retóricas e assistencialistas – do tipo que distribuem esmolas acomodadas em bolsas das mais variadas naturezas -, a educação pública fosse a mais eficaz, assim garantindo oportunidades iguais de sucesso no futuro a filhos de ricos e pobres – sectarizando-se o exemplo.

Mas, não. Assim, como na Saúde, o serviço público mantém-se muito distante do particular, prejudicando, sobretudo, os beneficiados pelos programas sociais. Na prática, o poder público diz o seguinte ao “assistencializado”: “Você não terá tão boa educação para seus filhos, mas, em compensação, toma aqui uma Bolsinha Família. Gaste com sabedoria!”.

Uma das formas de se resgatar a importância devida à educação seria, exatamente, a valorização dos professores por meio de salários acima da média das demais profissões -–até por ser esta “a” profissão mais importante.

Seria ótimo, se não fosse utopia e algo do desinteresse de toda figura pública mal intencionada, cuja proporção dispensa comentários. Porém, isto não é novidade. O estranho é quando o próprio professor parece não saber o valor que tem.

O Concurso Artístico e Literário de Natal neste ano, promovido pelo jornal O Progresso, evidenciou esta realidade de maneira explícita. Nunca se viu tanto descaso por parte de tantos educadores, ao mesmo tempo em que outros mestres mostraram-se dignos de comovente reconhecimento.

Se todos ganham muito menos do que deveriam, por que alguns são tão mais conscientes e empenhados que outros? Talvez porque, a despeito do salário, ainda há – graças a Deus! – inúmeros profissionais que gostam do que fazem, que se preocupam com a qualidade do trabalho e, neste caso, que atuam na prática e com amor pelo futuro das crianças – o futuro do mundo, por consequência.

Óbvio que ninguém é obrigado a nada, tampouco a forçar estudantes a participarem de concursos, mas isto passa muito ao largo do fato de “tirar” dos estudantes a oportunidade de integrar uma competição que, no mínimo, os leva a passar um tempo desenhando ou escrevendo, sendo estimulados, portanto, a práticas francamente positivas.

E por que impedir a participação? Simplesmente por descaso, o qual começa pelo desinteresse em ler um convite entregue diretamente em cada unidade de ensino. Uma ou outra unidade, inclusive, após abordagens telefônicas, optou por responder que não foi convidada…

As observações não lisonjeiras, aqui marcadas, não são por conta de interpretação de algum tipo de desaforo para com o jornal, mas de sincero incômodo quanto ao descomprometimento com o mister do ensino, com a formação educacional das crianças.

Por outro lado, é fantástico – e motivo de enorme esperança – presenciar a atitude de algumas escolas e educadores que se empenham com afinco e boa vontade, demonstrando consciência do papel que possuem: de mestres a nortear o futuro de crianças.

Não apenas informam sobre as possibilidades de participação em iniciativas além das atividades de classe, mas orientam, corrigem e, em alguns casos, até acompanham os estudantes quando premiados. Isso é ser mestre! Mais: num país onde a Educação não é prioridade, onde, então, “não se ganha para isso” (para fazer mais, para se doar, para se superar), esses profissionais são verdadeiros heróis. Com certeza, ficarão marcados na vida de todos os seus alunos como referência, como exemplo.

Uma das unidades de ensino vale como mostra de superação e de educadores por excelência: a Escola Municipal de Ensino Fundamental “Firmo Antônio de Camargo Del Fiol”, que teve a aluna Luciana de Fátima Rodrigues vencedora em redação, orientada pela professora Alessandra Camargo.

De acordo com Alessandra, o concurso torna-se um evento escolar, por envolver toda a equipe das unidades. Além dos professores, reúne a direção e a coordenação pedagógica.

“Todos se empenham para que haja mais incentivo, e participam da mesma forma, com a diferença de que um está sempre ajudando o outro”, declarou a professora.

Outro belo exemplo é o da estudante Larissa Kirshner de Moraes, de 9 anos, da Emef “Accácio Vieira de Camargo”, a qual, após ter ganhado duas edições do concurso, em desenho, passou a dedicar-se à arte! Que significa isto? Talvez, não muito; talvez, a mudança de um futuro para melhor, estimulado pela direção da escola, pelos professores e pela família!

A escola também teve outro aluno vencedor, Davi Camargo Batista, orientado pela professora Maria Eliane – prova da diferença que faz o empenho dos educadores.

“A comunidade escolar em geral se envolve. Quando o aluno ganha, todo mundo se sente vencedor. Quando dois ganham, como é o nosso caso, a escola toda vibra. Todos somos muito comprometidos com o ensino”, contou a diretora Miriam Lopes de Oliveira Rodrigues.

Melhor presente de Natal que isto? Nenhum, porque não há nada melhor que a alegria, e é isto que sentimos quando testemunhamos acontecimentos como esses. Melhor ainda quando compartilhamos a alegria com patrocinadores imbuídos das mesmas boas intenções.

Que o diga Aristides Ferreira Filho, do Palácio dos Sorvetes: “É preciso conhecer a pessoa, para que ela veja que você a está estimulando e não fazendo um favor. Então, o prêmio é a parte mais linda, porque gera um reconhecimento e um retorno”.

Depois de Aristides, nada mais a acrescentar, apenas a agradecer a todos que colaboraram e convidar os leitores a acompanharem o resultado do certame em caderno especial nesta edição. Feliz Natal a todos!