Feras do Saldanha





Ao contrário do que é comumente revelado pelo mundo do futebol, João Saldanha não foi dispensado do comando da seleção brasileira por se recusar a convocar o atacante Dadá Maravilha – um pedido pessoal do então presidente Garrastazu Médici.

Saldanha saiu (17 de março de 1970, apenas três meses antes do início da Copa do México) por uma decisão única e exclusiva de João Havelange, então presidente da CBD (CBF dos dias de hoje), por divergências com o treinador, já que o mesmo havia conseguido 100% de aproveitamento nos seis jogos das eliminatórias e sua equipe, de tão boa, era chamada de “Feras do Saldanha”.

Clara ciumeira latente do dirigente, que precisava, urgentemente, de “luzes” favoráveis e diretas desde a sua péssima gestão, quando o Brasil fez papel ridículo no então último mundial de 1966, na Inglaterra.

É bom dizer que o regime militar da época usou a velha tática de trazer o inimigo para seu lado da trincheira. Todos sabiam que João Saldanha era do Partido Comunista e, portanto, opositor declarado do regime ditatorial vigente.

Como comentarista de televisão e de rádio, era um contumaz critico da seleção. A CBD e os militares sabiam, também, que Saldanha era respeitado internacionalmente e possuía, principalmente, competência para colocar em prática tudo que dizia em seus comentários, daí ser convidado para treinar a seleção.

Sua demissão, portanto, não era interesse para o governo militar, pois o time brasileiro, com ele, ganhou autoestima e a confiança do torcedor, e isso interessava ao regime. Aquela máxima vinda do Império Romano, “pão e circo”, estava mais que atual.

Antonio do Passo, que posava de dirigente e administrador do futebol brasileiro, logo abaixo de Havelange, tratou de “fritar” o treinador com declarações, insinuações e plantando notícias, criando o clima e a justificativa para a sua demissão.

Zagalo aceitou (após o treinador Dino Sani rejeitar) assumir as então “ex-feras do Saldanha”, e, rapidamente, fez o que o general Médici queria, convocando o atacante do Atlético de Minas, Dario.

Mudou dois jogadores na equipe que vinha atuando, entrando Clodoaldo e Rivelino, e o Brasil ganhou a Copa, vencendo todos os jogos. Todavia, a espinha dorsal, o jeitão de jogar e, principalmente, a confiança e o apoio da torcida, se devem a João Saldanha.

Sem dúvida nenhuma, injustamente, é muito pouco lembrado pelos que se dizem conhecedores do futebol, que insistem em cultuar sempre Zagalo, em muitas vezes, exageradamente.

A foto mostra o Brasil no Maracanã, em 1969, antes de vencer a Venezuela por 6 a 0. Carlos Alberto, Felix, Djalma Dias, Joel, Piazza e Rildo. Agachados: Mário Américo, Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé, Edu e Nocaute Jack. Grandes momentos com as histórias do sempre empolgante e nostálgico futebol.

NOTA: As fotos são do arquivo pessoal do autor, que data de 50 anos. Ele, como colecionador e historiador do futebol, mantém um acervo não somente de fotos, mas de figurinhas, álbuns, revistas, recortes e dados importantes e registros inéditos e curiosos do futebol, sem nenhuma relação como os sites que proliferam sobre o assunto na rede de computadores da atualidade