Da redação
“Carlinhos”, também chamado de “Carlão”, conhecido por permanecer parte do dia na esquina entre as ruas 15 de Novembro e Coronel Aureliano de Camargo, pedindo moedas, comemorou mais um ano de vida neste dia 11.
No dia do aniversário, os voluntários da instituição beneficente “Nós Por Eles” organizaram-se para proporcionar uma festa surpresa para dele. A comemoração teve direito a bolo, em formato de um coração, além de salgados e refrigerantes doados por um bufê infantil.
Devido à pandemia, a festa de Carlinhos teve número de convidados restrito, todos utilizando máscaras de proteção. “Não pudemos nos sentar para comer com ele, porém, não deixamos que essa data especial passasse em branco”, informou Jéssica Leme, fundadora e diretora do projeto.
Este foi o segundo ano consecutivo em que Carlinhos ganhou festa de aniversário oferecida pelo Nós Por Eles. Na oportunidade, os voluntários fizeram um piquenique na calçada. Segundo Jéssica, foi o dia no qual viu Carlinhos mais feliz.
“Ele ficou encantando com o primeiro aniversário. Nós nos sentamos no chão, bebemos, comemos e cantamos parabéns para ele. Comemoramos o aniversário, e acredito que isso ficou muito marcado nele”, relembrou.
“Neste ano, com um mês de antecedência, o ‘Carlão’ começou a falar quando seria o aniversário dele, e nós já entendemos que gostaria de uma comemoração. Nossos voluntários são sempre muito dispostos a ajudar”, complementou a diretora.
De acordo com Jéssica, apesar de ter confessado aos voluntários da instituição que adora festas e o dia no qual celebra aniversário, Carlinhos nunca revelou quantos anos comemoraria, tampouco o nome completo dele.
O Nós Por Eles começou a realizar ações solidários há cerca de quatro anos. A fundadora do projeto conta que Carlinhos era bastante “desconfiado” e, na primeira vez em que foi oferecido marmita para ele, “bateu o pé” e não aceitou a comida.
No entanto, Carlinhos conhecia uma das voluntárias da instituição beneficente, porque ela trabalhava próxima ao local em que ele costuma pedir moedas. Certo dia, ela ofereceu a ele uma das marmitas preparadas pelos voluntários. “Foi o primeiro dia que o Carlão pegou a nossa marmita”, contou Jéssica.
Para ela, apesar de outras pessoas já terem conversado com Carlinhos, ele aceitou a marmita da voluntária porque costumava vê-la diariamente e confiava nela.
“Posteriormente, ele nos contou que haviam dado iogurte com laxante para ele e, por conta disso, passou a não aceitar comida de pessoas que não conhecia”, expôs a diretora.
Conforme Jéssica, no dia seguinte, Carlinhos fez questão de agradecer e afirmar que fazia muito tempo que ele não comia algo tão gostoso. Na sequência, ao invés, de pedir moedas à voluntária, ele passou a perguntar quando seriam entregues mais marmitas.
“Faça chuva ou faça sol, nós entregamos as marmitas todas as quintas-feiras. O Carlão desenvolveu uma confiança e começou a aceitar as marmitas de todos os nossos voluntários”, afirmou a diretora.
Segundo ela, “Carlinhos possui problemas psicológicos relacionados à família dele, no entanto, é lúcido, não bebe, não fuma e está na rua porque realmente precisa de ajuda”.
“Às vezes, vemos que a pessoa já se acostumou com aquela situação. Contudo, sempre falo aos meus voluntários que a marmita não é a nossa finalidade, ela é o nosso meio. É a única rota que temos de chegar até eles”, apontou.
“É através do alimento que nós conseguimos conversar, entender um pouco da história, se aproximar, ouvir, abraçar e, posteriormente, tentar ajudá-los. Nessa situação, não adianta apenas querer ajudar, eles têm de aceitar serem auxiliados e, para isso, têm de confiar em nós”, finaliza Jéssica.