Bayard Galvão *
Relutei em escrever este texto, pois bem sei da dor de tocar em alguns aspectos existenciais que, certamente, são origens de sofrimentos similares ou iguais em todo o planeta.
Permita-me alguns detalhismos no que se refere ao título: coloquei a palavra “cura” tanto na sua etimologia (“ato de cuidar”) quanto no sentido cotidiano (resolver as causas de uma doença); usando também a palavra “pandemia” (“que afeta todos povos”); assim como valendo comentar que a palavra “doença” vem de “dor”, portanto, aquilo que a provoca. Ainda, a ideia de “despertar” viria do conceito de acordar o que estava dormindo.
Faz-se relevante lembrar uma regra para todos os desafios do viver: dedicação para atingir determinado objetivo (seja evitar uma doença, erradicá-la ou curá-la); e estar pronto, dentro do possível, para o fracasso.
Postas as ideias acima, peço tolerância por tocar de maneira direta em cortes e feridas existenciais comuns afastadas pela maioria das pessoas nos seus cotidianos.
A Covid-19 despertou dois conjuntos de medos ou fobias, e deixou apenas mais claro dois outros: (a) medo da própria morte (seja por qual razão for); (b) medo do fim de alguém (seja por amá-la, depender dela e/ou sentir alguma culpa na eventualidade dela morrer); (c) medo do sofrimento que precederia a morte e (d) preocupações econômicas, respectivamente. Neste texto, falarei apenas dos dois primeiros.
Portanto, as curas seriam aprendizagens que levariam o indivíduo a lidar bem com a própria morte e a do outro. Estes remédios ou vacinas são procurados-criados desde o início da humanidade, tanto pensando para onde iremos após chegar o nosso fim, como refletindo acerca de como superar as dores de perder alguém para a morte, neste caso. Cada religião, da sua maneira, respondeu a estes sofrimentos, como filósofos, poetas, crianças e os diferentes artistas.
Não há a maneira correta de lidar com a morte, cada um precisa criar ou descobrir a sua; e tal qual como um remédio para dor de cabeça que funciona com algumas pessoas e não com outras, o mesmo vale para reflexões acerca da finitude de todos.
Para lhe auxiliar a criar o seu remédio sobre a sua morte, algumas perguntas são válidas: qual ou quais os problemas de você morrer? Busque dar notas de 0-10 para cada uma destas dores.
Sobre o remédio ou vacina para a morte de alguém, seja uma filha, um pai, uma avó, seu cônjuge ou amigo, tente fazer a mesma pergunta acerca de qual ou quais seriam as dores e respectivas notas.
Postas as dores acima colocadas, como você pode aprender a lidar bem com cada uma delas?
O meu avô me disse certa vez: “todos sofrimentos que você tiver, algum pensador já os teve e escreveu bem sobre como lidar com ele, busque-os e estude-os.”
Não sei a que conclusão cada um chegará acerca destes universais aspectos existenciais, dignos de medos e fobias, mas quem aprender a lidar de maneira leve sobre o fim, dentro do possível, até poderá ter medos, mas não será mais refém do coronavírus, e nem tampouco de qualquer outra doença, própria ou de qualquer pessoa.
E sim, criar ou descobrir as próprias respostas é uma tarefa de importância existencial para quem tomá-la em suas mãos, valendo pedir ajuda em caso de necessidade, seja para as religiões, pais, mães, avós, músicos, artistas, filósofos e/ou para profissionais que lidam com estes sofrimentos no seu dia a dia.
* Psicólogo clínico, hipnoterapeuta e palestrante. Especialista em psicoterapia breve, hipnoterapia e psiconcologia.