Na manhã desta terça-feira, 3, o Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e os funcionários do campo de provas da Ford, na rodovia Antonio Romano Schincariol, realizaram nova manifestação em frente à empresa.
Aproximadamente 250 funcionários da unidade estão em greve desde segunda-feira, 2. O sindicato da categoria reivindica pacote de benefícios para os trabalhadores, após anúncio de demissão por reestruturação dos serviços da montadora.
O presidente do sindicato, Ronaldo José da Mota, afirma que a empresa está realizando demissões sem compensação aos funcionários. Ele disse que o sindicato tentou negociar a redução na demissão, mas, “como não houve entendimento, agora revindica os direitos do demitidos”.
Cerca de 10% dos trabalhadores (20 a 25 pessoas) foram dispensados. O estado de greve havia sido anunciado, na sexta-feira, 30 de agosto, caso as reivindicações não fossem atendidas.
Segundo ele, a Ford vem passando por um momento de reformulação em todo o país. Contudo, em outras localidades, as demissões teriam ocorrido por meio de PDV (pedidos de demissão voluntária), ou acompanhadas de pacote de benefícios aos demitidos, negociado junto aos sindicatos. “Diferente do que está ocorrendo em Tatuí”, acentua Mota.
“Quando a Ford dispensa, ela dá um incentivo. Inclusive, em São Bernardo, estão dando em torno de dois salários por ano trabalhado. Aqui, sempre teve, mas agora estão falando que vão dispensar sem incentivo nenhum, só vai ter a verba rescisória”, afirmou o presidente.
Mota alega que, por conta desta diferença, “a empresa está “discriminando” os trabalhadores da unidade de Tatuí. “É uma discriminação o que a Ford está fazendo, porque, em todas as plantas que ela dispensou funcionários, tem um pacote de benefícios, e aqui eles não querer dar”, argumentou.
Ainda segundo Mota, outra preocupação do sindicato é o anúncio de uma reestruturação dos mensalistas, horistas e dos funcionários do setor administrativo.
“Se ocorrer um número expressivo como o desta primeira demanda, acredito que a Ford vai fechar, porque não vai ter funcionário suficiente para manter o campo de provas”, sustentou.
Ainda conforme o presidente, além dos 250 funcionários, a Ford mantém contratação por meio de duas empresas terceirizadas.
Ele aponta que a empresa sustenta que não deve fechar o campo de provas em Tatuí, mas pondera: “Estamos brigando para que a Ford, a partir de agora, seja mais transparente com o sindicato. Se ela quer eliminar o campo de provas aqui da Ford e terceirizar todo o serviço, então que jogue limpo. Mas, não é isso que eles falam”.
De acordo com o sindicalista, desde o início da greve, não houve mais contato dos representantes da empresa com o sindicato da categoria, e um pedido de conciliação deve ser enviado ao Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, de Campinas.
“Estamos entrando com um pedido de conciliação para ver se a Ford vai lá e a gente consegue negociar. A demissão não vai ter como: ela já anunciou as demissões. Mas, estamos discutindo qual é a forma do desligamento deste pessoal, o critério que eles vão ter que ter para estar pagando as pessoas demitidas”, reforçou.
“Vamos ficar aqui o dia todo (terça-feira) para ver se tem algum interesse da Ford em abrir negociação. Em paralelo, está tendo uma conversa da Federação dos Metalúrgicos com a alta direção da Ford. Vamos ver se sai alguma coisa para a gente passar para o pessoal; se não sair, o tribunal que decida”, completou.
Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Ford confirmou que fará readequação no quadro de funcionários do campo de provas, “como parte do amplo processo de reestruturação organizacional feito pela montadora nos últimos meses”.
Em encontro com o governador João Doria, no dia 21 de fevereiro deste ano, a direção da Ford Motor Company Brasil garantiu que o campo de provas de Tatuí não seria afetado pelo fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP).
O encerramento das atividades havia sido anunciado, como parte da reestruturação global da montadora. Contudo, durante a reunião, que aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, o governo do estado se comprometeu a ajudar na busca de um comprador para o polo.
Em contrapartida, a montadora aceitou manter os 1.200 funcionários na sede administrativa do ABC paulista e não fazer mudanças ou cortes de empregos nas unidades de Taubaté, Tatuí e Barueri. O acordo foi feito entre Doria e o CEO da Ford América do Sul, Lyle Watters.
Já nesta terça-feira, 3, após quase sete meses de expectativa, o governador anunciou que o Grupo Caoa vai comprar a unidade da Ford de São Bernardo do Campo.
O presidente da Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, e o presidente da Ford participaram de entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes e deram detalhes da negociação.
Conforme anunciado pelo governo do estado, a operação da compra será feita em duas etapas. A primeira irá durar de 35 a 45 dias e é conhecida como “due diligence” – termo utilizado no âmbito de aquisições corporativas que se refere ao processo de análise das informações sobre a empresa à venda. Com os resultados, a compra da fábrica da Ford pelo Grupo Caoa será oficializada em seguida.
Após o período de análise, será possível dizer qual veículo a unidade de São Bernardo do Campo poderá passar a fabricar pelo Grupo Caoa, além da continuidade da produção de caminhões, já garantida.
Ainda segundo anunciado na coletiva de imprensa, com o acordo, a Caoa manterá, em um primeiro momento, os cerca de 850 empregos ligados à unidade do ABC paulista.
Ford em Tatuí
O campo de provas da Ford em Tatuí é considerado um dos mais modernos do mundo e funciona desde 1978, com instalações completas para o desenvolvimento e teste de automóveis, utilitários e caminhões, em uma área de 4,66 milhões de metros quadrados.
Conforme divulgado pela multinacional, as instalações contam com áreas administrativas, laboratórios, oficinas para a construção e montagem de protótipos, testes especiais e 50 quilômetros de pistas, que englobam áreas específicas para o desenvolvimento de carros e caminhões, e também uma engenharia experimental de motores.
O campo é equipado para a realização de testes de desempenho e consumo de combustível, freios, barreira de impacto (“crash-test”), penetração de água e poeira, câmara fria, cabines de névoa salina, arrefecimento, nível sonoro interno e externo, emissões, evaporação, durabilidade, construção de protótipos, dinâmica veicular, calibração e desenvolvimento de motores, entre outros.
As pistas de testes simulam as diferentes condições de ruas e estradas da América do Sul, rampas com diferentes ângulos de inclinação e estradas de terra dos mais diferentes tipos.
Além disso, o Laboratório de Emissões é o único da Ford na América do Sul que atua conforme a norma internacional de qualidade ISO 17025, que permite certificar veículos exportados sem que os órgãos governamentais estrangeiros precisem acompanhar os testes.