Não sei quando tudo isso começou, se foi com a Revolução Industrial ou com a “invenção” do ser humano, neste ou naquele momento da história, o certo é que vem de longe o racha entre o bicho homem e tudo o que o envolve. Note, que nem bicho aceitamos ser. Quando falamos dos animais, estamos nos referindo aos outros, claro, os inferiores. Quanto à Terra, sim, ela foi nos entregue prontinha… para ser “melhorada”.
Essa visão, no entanto, há muito não se sustenta. E nem é preciso citar aqui as grandes catástrofes que vêm abalando o mundo, às quais muitos ainda teimam em reagir estudando mais maneiras de domar o planeta. Tampouco vale as agruras individuais ou que afetam grupos menores ou menos visíveis no cotidiano.
Basta um olhar mais apurado pela janela – de casa, do escritório ou do carro para saber que há algo fora do lugar. Há os que não querem ver, sim, os que se acham os domadores das forças naturais, mas, por outro lado, existe muita gente engajada na construção de um mundo realmente sustentável.
E não! Não se apegue ao uso marqueteiro da palavra. Nas minhas andanças por esse Brasil afora, tive a oportunidade de ver e conviver com pessoas – de doutor a agricultor, a burocrata, experimentando do mundo novo que emerge.
Novo? Sim. Uma, porque entender a nós mesmos como seres nativos do planeta e parte dele não coube às gerações da nossa época, pelo menos massivamente; outra, porque não se trata de volta ao passado, mas de um passo adiante.
Ninguém que eu conheça quer voltar às cavernas. É exatamente o contrário: os adeptos desse novo olhar, ou pelo menos boa parte deles, têm tudo a favor de tecnologia, do conforto, do bem-bom da vida contemporânea.
O que se quer é mostrar que é possível – e nada doloroso – ter e fazer tudo que se tem e faz hoje, sem destruir tudo em volta e se destruir, consequentemente. Algumas perguntinhas simples podem ilustrar tudo isso:
– As ruas precisam ser cobertas? Sim, é inimaginável patinar na lama em uma cidade como São Paulo, por exemplo. Mas elas têm que ser impermeáveis?
– As cidades são feitas para os carros ou para as pessoas? Pessoas de carro ou pessoas? Por que o protagonismo é dos carros e, em muitos casos, pedestres são tratados como intrusos?
– O copo onde se toma o suco tem que ser descartável? Se sim, o que impede que os insumos sejam biodegradáveis?
– Quantas embalagens são necessárias para um único produto?
E assim finalizo, porque as respostas que tenho são minhas, as perguntas não, são universais. Cabe a cada um fazer a si mesmo essas e todas as que lhes vier à telha e, assim, descobrir em que mundo se encaixa.
* Jornalista