Por meio do Departamento de Trabalho e Desenvolvimento Social, a prefeitura está trabalhando na criação do “Abrace – Irmãos de Rua”, conforme informou a prefeita Maria José Vieira de Camargo.
De acordo com a prefeita, a nova versão do projeto social deve manter os moldes iniciais, do “Abrace Tatuí”, e contar com a ajuda de voluntários. Contudo, desta vez, deverá ajudar a Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José, visando à reforma de um novo prédio para abrigar a entidade assistencial.
“A nossa Casa de Apoio aos Irmãos de Rua está em uma condição difícil, em um espaço pequeno e sem dignidade. Como fizemos o ‘Abrace a Santa Casa’, vamos fazer também um ‘Abrace Irmãos de Rua’, e vamos deixá-los em um espaço adequado e bonito”, comentou Maria José.
No final do mês de dezembro, a prefeitura assinou um termo de comodato que permite 20 anos de concessão do prédio do antigo Lar do Bom Menino, situado no Vale da Lua. O espaço, que estava desativado desde 2017, deve passar por reforma e se tornar a nova sede da “São José”.
Para a revitalização, a proposta, assim como em todas as versões do “Abrace”, é unir voluntários e empresários patrocinadores e levantar recursos que possam ser investidos na renovação da rede elétrica, pinturas e readequação dos espaços, com reformas e mobiliários.
“’O Abrace a Santa Casa’ já deu muito certo. Agora, vamos unir o povo tatuiano para ajudar nossos irmãos de rua”, ressaltou Maria José.
Conforme Alessandro Bosso, secretário municipal responsável pelo Departamento de Desenvolvimento Social, as ações já iniciaram com a assinatura do termo de comodato, mas o projeto completo ainda está sendo definido.
“Já pegamos as chaves do prédio e, a partir de agora, vamos fazer a planta e o projeto de reforma da casa para, então, apresentá-lo aos empresários e buscar patrocínio”, acentuou.
A intenção é alcançar recursos e finalizar a obra ainda no primeiro semestre. Com a reforma do espaço, será possível acomodar pelo menos 50 pessoas. Atualmente, o serviço de acolhimento, atende em torno de 40 pessoas residindo na casa. A média mensal de moradores transitórios é de 120.
A Casa de Apoio ao Irmão de Rua São José foi fundada em 16 de fevereiro de 2000 e abriga moradores recolhidos por voluntários e pelo serviço de assistência social nas ruas da cidade, ou que foram levados para continuar tratamentos médicos após receberem alta em hospital.
Muitos deles, sem perspectiva de vida e abandonados pela família devido à dependência do álcool, cigarro e drogas ilícitas, permanecem por lá; outros vão apenas fazer as refeições e tomar banho.
“A média de serviço de acolhimento é de seis meses e o serviço de passagem, de até três meses. Trabalhamos com essas duas questões, mas tem pessoas que moram lá há mais de dez anos”, comentou o secretário.
A Casa oferece café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e ceia, pouco antes do horário de dormir. Entretanto, segundo Bosso, no novo prédio, a meta é oferecer novos serviços, como cursos de capacitação profissional, tratamentos alternativos para dependentes químicos e a implantação de um projeto de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.
“Queremos reestruturar os serviços da casa. A ideia é tomar algumas medidas que poderão trazê-las para dentro da política social verdadeira, que é muito mais abrangente do que apenas dar abrigo e comida às pessoas. Queremos dar dignidade a elas”, salientou o secretário.
Ainda segundo Bosso, a mudança da sede da Casa de Apoio é urgente, já que a entidade corre risco de ficar sem abrigo nos próximos meses. Ele conta que o contrato de locação do espaço ocupado pela Casa está vencido e os proprietários do imóvel já sinalizaram não ter interesse em renová-lo.
“Eles ainda não entraram com a reintegração. Não tem prazo para a saída deles, mas pode ser que, de uma hora para outra, eles peçam o prédio. Por isso que a gente está trabalhando com o ‘Abrace’ para a hora que ocorrer isso a gente já tenha uma casa nova”, afirmou.
Bosso ressalta que o serviço social é estruturado para atender às pessoas em situação de vulnerabilidade e subdividido em uma política que vai desde a atenção básica até serviços de alta complexidade.
“Nós tentamos trabalhar com as pessoas na assistência básica, com os serviços oferecidos pelo Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Se falhar ali, a pessoa vai para a média complexidade e passa a ser atendida pelo Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social). A intenção é resolver o problema. Então, elas só vão para acolhimento quando o vínculo com a família se rompeu de fato”, explicou.
O serviço de abordagem dos moradores de rua é realizado por meio do Creas. O órgão, que faz parte da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social, conta com um psicólogo, uma assistente social e um ex-morador de rua, que auxilia os profissionais.
“Se a pessoa tem família, primeiro, tentamos realizar um trabalho de reinserção; se não, ele vai para a Casa de Apoio”, contou.
O secretário ainda ressalta que as pessoas que estão em trânsito recebem ajuda para chegar ao destino desejado, ou, pelo menos, próximo dele.
“Transportamos a pessoa para a cidade mais próxima e avisamos a assistência da cidade que irá recebê-lo, para que isso seja feito de forma humanizada. De lá, a pessoa vai seguindo o caminho por trechos”, explicou.
Em agosto do ano passado, Bosso assinou um protocolo de atendimento às pessoas em situação de rua da Região Metropolitana de Sorocaba, que visa à integração no atendimento entre os municípios da RMS.
“O objetivo é possibilitar condições de acolhida na rede socioassistencial, contribuindo para a construção, ou reconstrução, de novos projetos de vida, respeitando as escolhas dos usuários do serviço e as especificidades de atendimento, para restauração e preservação da integralidade e autonomia da população em situação de rua, além da promoção para reinserção familiar e/ou comunitária”, explica o secretário.
Ele acrescenta que, considerando que diferentes motivos levam as pessoas à situação de rua e que, uma vez estando nela, cada pessoa vive uma realidade, “o trabalho frente a essa questão social é complexo e demanda de ações articuladas entre as políticas intersetoriais”.
“Com a assinatura deste protocolo, o encaminhamento das pessoas de rua que não são do município de Tatuí são referenciadas a outros municípios pertencentes à RMS com mais responsabilidade, para garantir a dignidade humana dessas pessoas”, completou.
A prefeita destaca que, com os serviços do departamento de assistência, o número de pessoas em situação de rua foi reduzido nos últimos anos, mas acrescenta ser difícil zerar a contagem, já que existem moradores que não querem sair das ruas, além dos transitórios – que estão na cidade só de passagem.
“Mesmo com a atenção do nosso secretário, que não deixa as pessoas sem assistência nem por um minuto, tem uns que a gente não consegue tirar da rua. Acho que tem uns 20 ainda que não querem deixar as ruas porque a família também não aceita na casa. Por isso, é importante ajudar a socializá-los”, concluiu a prefeita.