As UBSs (unidades básicas de saúde) têm enfrentado falta da vacina contra a meningite e baixos índices de imunização contra doenças como sarampo e poliomielite.
Segundo a coordenadora da Vigilância Epidemiológica (VE), enfermeira Rosana Oliveira, a condição atinge todo o Estado, uma vez que o Ministério da Saúde estaria fazendo a distribuição das doses de forma reduzida.
Segundo nota divulgada pelo MS, a vacina meningocócica C, contra a meningite, está com desabastecimento de 36% da cota mensal estadual, devido ao atraso nas entregas de matéria-prima pelo laboratório produtor.
A primeira dose da meningocócica C deve ser tomada com três meses de idade; depois, com cinco meses; e o primeiro reforço, com um ano. Contudo, Tatuí recebeu apenas 20% das doses necessárias para imunizar o público-alvo. No total, são 480 crianças nesta faixa etária.
Na semana passada, o município recebeu apenas cem doses do MS. Para tentar atingir um número maior de imunizações, a Vigilância Epidemiológica local conseguiu emprestar mais 140 vacinas de municípios vizinhos.
“Conseguimos buscar as doses em cidades que têm menos crianças e ficamos com 240 vacinas. Mesmo assim, não atingimos o número necessário e tivemos que dar prioridade para imunizar as crianças que não tinham recebido nenhuma dose ainda, que é a primeira do calendário, com três meses”, informou.
Ainda segundo Rosana, a previsão é de que a situação seja normalizada até agosto em todo o país. No próximo mês, o Ministério da Saúde deve promover uma campanha de multivacinação, entre os dias 4 e 31, sendo que, no sábado, 18 de agosto, será o “Dia D”.
“Provavelmente, o abastecimento deve estar normalizado até o dia da campanha de multivacinação. Pelo menos, é o que esperamos. Temos que receber todas as doses para poder colocar em dia a carteira de vacinação das crianças”, ressaltou.
Além da falta de doses da meningocócica C, o Estado enfrenta o desabastecimento de outras vacinas. Rosana aponta que também vem ocorrendo a falta da VOP (vacina oral poliomielite), que protege contra a paralisia infantil. “Elas também estão sendo fracionadas e distribuídas de forma reduzida em todo o país”, contou.
Segundo a coordenadora, desde que o ministério passou a falhar no abastecimento, a Vigilância está trabalhando com polos e disponibilizando a imunização em postos estratégicos, para conseguir atender às crianças e evitar perdas. Ela explica que cada frasco é suficiente para 25 aplicações, mas conta com período curto de eficácia depois de aberto.
“Quando você abre a vacina, tem que utilizar ela para não perder. Então, temos concentrado os postos de imunização de forma planejada. Assim, quando abre a vacina, podemos usar em outras crianças, rapidamente, durante o período útil da VOP”, explicou.
Atualmente, a imunização contra a paralisia infantil está disponível nas unidades da vila Angélica, centro, bairro Valinho e Jardim Santa Rita de Cássia.
As vacinas injetáveis continuam sendo aplicadas nos postos de referência dos bairros. Apenas quem vai procurar a VOP é orientado a levar a criança até um dos polos mais próximos da unidade de saúde em que está acostumado a ir.
“Nós entendemos que é complicado a mãe se deslocar, mas é preferível ter este problema e ter a vacina do que você, simplesmente, distribuir aleatoriamente. Temos 13 salas de vacina na zona urbana, e muitas vezes recebemos dez frascos. Tem que ter esta divisão para não deixar faltar”, reforçou.
Rosana acrescentou que as unidades de saúde que estão com alguma vacina em falta chamam as crianças para serem imunizadas assim que as doses são repostas. “Infelizmente, é uma coisa que acontece, mas não é culpa nossa, é nacional”, enfatizou.
Queda no índice de imunizações
Em 2015, 93,53% das crianças tatuianas até cinco anos foram imunizadas contra a paralisia infantil; em 2016, o número baixou para 66,87%; e em 2017, caiu novamente, para 30,5%.
A meta deste ano é chegar a 95%. Porém, nos primeiros seis meses de 2018, a cobertura atingiu menos de 30% do público-alvo. No total, há 1.623 crianças que devem ser imunizadas contra a paralisia infantil.
A situação é nacional. Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de bebês e crianças vacinados no Brasil apresentou nova queda em 2017 e atingiu o número mais baixo nos últimos 16 anos. A pesquisa mostra, ainda, que as vacinas indicadas para crianças com menos de um ano não alcançaram a meta de imunização.
Embora os valores deste ano ainda sejam preliminares, a situação já causa preocupação. O índice de crianças que receberam a dose contra a poliomielite, por exemplo, está em 77% no Brasil – queda de 7,5% em relação a 2016 e 21% em comparação ao índice de 2015, último ano em que o número ficou acima dos 80%.
No caso da vacina quadrupla viral (tetraviral + VZ), que protege contra sarampo, caxumba, rubéola, catapora e varicela, o índice está em 70%, com queda de 8% em relação a 2016. A única vacina que apresentou leve alta no ano passado foi a da hepatite A.
Para Rosana, a queda no número de imunizações tem como maior problema a falta de abastecimento das vacinas nas unidades de saúde. Contudo, a coordenadora aponta que outros fatores, como a conscientização sobre a importância da vacinação, influenciam.
“Existem mães faltosas, que não levam os filhos para tomar vacina, e também aquelas pessoas que acreditam que a vacina é desnecessária. A população precisa entender que a vacina é necessária. Se não fosse importante, não existiria”, comentou.
Rosana afirmou que movimentos antivacina – que “pregam” uma “criação natural” – também criaram problemas, ao incentivar que os pais não levem os filhos para serem imunizados.
Embora o movimento ainda seja considerado pequeno, há grupos em redes sociais que disseminam informações contra a vacinação e estimulam o debate sobre “os riscos” desse procedimento.
O custo disso, no entanto, tem se mostrado alto, já que doenças que estavam controladas no país voltaram a apresentar surtos devido à falta de imunização. É o caso do sarampo, que já tem ocorrências confirmadas em Roraima, no Amazonas e no Rio Grande do Sul.
“Tem poucas pessoas que pensam assim, porém, pode ser um problema. Se a cada 50 crianças uma não for imunizada, aquela desprotegida vai correr o risco de contágio e, com isso, pode disseminar doenças”, reforçou.
Rosana salientou que o problema já vem sendo discutido há algum tempo pelo Ministério da Saúde, o qual, embora reconheça a questão, ainda não prevê uma solução. Para ela, é muito importante levar os filhos para tomarem a vacina, pois existe um grande benefício coletivo na imunização.
Além de diminuir a circulação de doenças, a vacinação garante menores taxas de hospitalização e sequelas (o sarampo, por exemplo, pode provocar surdez e problemas neurológicos). “É muito raro uma criança ter alguma contraindicação e os benefícios são muitos”, concluiu.