A Promotoria do Ministério Público negou que as contas da empresa Dolly, fabricante de refrigerantes, tenham sido bloqueadas. Na terça-feira, 19, a assessoria de imprensa da empresa anunciou que a unidade de Tatuí seria fechada.
Na ocasião, a nota também informava a demissão de 700 empregados – parte deles da unidade encerrada e outra da linha de produção de Diadema. O motivo utilizado para justificar as demissões foi o bloqueio das contas da empresa, o que impedia o pagamento dos funcionários.
Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, na semana passada, Laerte Codonho, proprietário da empresa, disse não ter entendido o motivo da prisão dele porque a empresa vem pagando um parcelamento de débito negociado desde o ano passado.
Conforme afirmado pelo empresário, a Dolly não consegue pagar funcionários nem impostos com a conta bloqueada e nem vender para grandes redes varejistas, pois elas fazem o pagamento com depósito em conta.
Mas, de acordo com reportagem divulgada pela revista “Veja”, na sexta-feira, 22, o Ministério Público de São Paulo, que investiga a empresa por organização criminosa, fraude fiscal estruturada, lavagem de dinheiro e corrupção, contesta essa versão.
Conforme a publicação, a Promotoria afirma que as medidas cautelares ajuizadas no âmbito do procedimento instaurado para a apuração dos crimes “não abrangem bloqueio das contas das pessoas jurídicas e físicas envolvidas na investigação”.
“Causa, portanto, estranheza, que Laerte Codonho, afastado da gestão da empresa, justifique a demissão de funcionários no bloqueio de contas das empresas do grupo, nas quais, vale repetir, não foram localizados valores significativos para a satisfação dos débitos bilionários existentes”, diz a Promotoria.
Outro fato suspeito, de acordo com o MP, é que o bloqueio momentâneo “de valores existentes nas contas constatou a presença de valores pouco significativos em face dos débitos nas contas das empresas do grupo, o que traz sérios questionamentos sobre a forma utilizada pelas empresas do grupo para o recebimento de valores decorrentes das vendas que realiza”.
Codonho foi preso em maio deste ano, acusado de fraude fiscal de pelo menos R$ 4 bilhões. O empresário, que nega ser devedor do montante, foi solto dias depois, mas ficou afastado da gestão da empresa e com determinação judicial de recolhimento domiciliar.
Conforme Antonio Carlos de Moraes, chefe da Agência Regional do Ministério do Trabalho em Tatuí, o órgão ainda não recebeu nenhum comunicado do sindicato da categoria com relação aos funcionários demitidos.
“Normalmente, nesses casos, a gente realiza uma espécie de mesa-redonda para discutir os direitos dos trabalhadores, mas ainda estou aguardando a manifestação do sindicato da categoria”, informou Moraes.
O chefe da agência regional confirmou que muitas pessoas devem ser afetadas com o fechamento da unidade em Tatuí, porém, acredita que o número não seja exatamente de 700 funcionários. “Neste número, há muitos empregados indiretos e que trabalham em outras cidades”, explicou.