Se um indivíduo incauto, inadvertidamente, ousar questionar a tal sabedoria popular, na atualidade, corre o risco de linchamento virtual – senão pessoal, caso seja figura pública ou mesmo venha a ser flagrado em meio a alguma dessas manifestações de bestialidades.
Mas… onde foi parar essa suposta consagrada sabedoria? Perdida entre hordas sectárias de gente assumindo freneticamente a condição de animais?
Não? Como se explica, então, a postura de indivíduos que saem espancando, matando os outros, simplesmente, porque um time de futebol perdeu o campeonato (como se essa agremiação, a depender dos êxitos ou derrotas, viesse a pagar as contas de água e luz do infeliz agressor-torcedor)?
Em se tratando de consciência política e social, aí, sabedoria é algo mais precioso e raro que perfis imaculados junto às agremiações em geral – e as partidárias, em particular.
O cidadão ter opinião e optar por determinadas ideologias e partidos é mais que direito: é quase obrigação em democracias. Com a mesma intensidade, porém, é imprescindível o respeito a essas opções, especialmente se contrárias às suas – às nossas.
Um fulano ir para a frente do Sindicato dos Metalúrgicos comemorar a prisão do ex-presidente Lula e aproveitar para qualificá-lo com palavrões pode levar à consideração: “Mas esse sujeito não tem serviço?” (Igual a um torcedor que, em horário de trabalho, vai à porta do clube para ofender a direção e o treinador).
Não obstante, é direito desse cidadão sair às ruas (ainda que dando o cano no serviço) para xingar ou falar o que quiser, mesmo que bobagens.
Da mesma forma, cabe à figura pública e seus asseclas – políticos ou não – aceitarem as críticas e ofensas e não reagirem de maneira intempestiva, muito menos violenta.
Há ônus e bônus em quase tudo. Ninguém obrigou o ex-presidente Lula ou qualquer político a ser candidato. Todos o fazem porque querem. Assim, quando eleitos, gozam dos benefícios, mas, quando envoltos em problemas, também não podem apelar a direitos de privacidade ou achar ruim de escândalo na porta de casa (do sindicato, da empresa, do órgão público…).
Devem, isto sim, dar exemplo (e não porrada) de civilidade e consciência democrática superiores. Isto deveria implicar em não seguir instigando a bestialidade verificada nos opostos, sejam esportivos, políticos ou religiosos.
Contudo, se houvesse mesmo essa tal sabedoria popular, certamente, muito menos pessoas se deixariam levar por essa manipulação que tanto tira proveito da ingenuidade alheia em favor de interesses particulares ou de grupos – os quais, aliás, quando se valem desse artifício malicioso, quase nada fazem pelo povão, se o fazem…
Em meio a tanta idiotice, parece não se atentar que, sempre, perde a ponderação, o equilíbrio, tal como aqueles que apostam nestas virtudes como alternativas menos ruins para as crises em geral.
Ganham os aloprados, os aventureiros, os oportunistas, como aqueles que defendem ditaduras, sejam elas de esquerda ou direita (aliás, conceitos cada vez mais abstratos e, portanto, sem sentido, particularmente para a tal sabedoria popular).
Também, sobram equívocos, desinformação e, claro, injustiças – algo não surpreendente, no entanto, até porque típicas das bestas. Uma destas injustiças recai sobre a imprensa, alvo em particular dos que se escudam no “vitimismo” para disfarçar seus crimes.
As bobagens, neste aspecto, são tantas e tão bobas que só se sustentam graças, certamente, à também real “não” sabedoria popular. É simples notar: tanto os extremistas de esquerda quanto de direita, por exemplo, acusam os maiores veículos de comunicação do país de serem, ao mesmo tempo, “de esquerda” (pela ótica dos nazistoides) e “de direita” (pelos bolivarianos falidos).
A consequência, como não poderia deixar de ser, é mais agressão – até física –, então contra jornalistas e meios de comunicação.
A ignorância (antônimo da sabedoria) não permite notar que, apesar das possíveis falhas cometidas por qualquer ser humano (e a imprensa é feita por pessoas, não por “robôs”, como as redes sociais), ela é fundamental à democracia e, portanto, precisa ser não apenas respeitada, mas valorizada.
Por este motivo, O Progresso reproduz, neste espaço, manifestação de repúdio a agressões sofridas por profissionais da área, nesta semana.
Abaixo:
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiam com veemência as agressões e hostilidades ocorridas desde a noite desta quinta-feira (5) contra jornalistas que trabalham na cobertura dos eventos relacionados à decretação da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Toda essa violência injustificável e covarde decorre da intolerância e da incapacidade de compreender a atividade jornalística, que é a de levar informação aos cidadãos. Além de atentar contra a integridade física dos jornalistas, os agressores atacam o direito da sociedade de ser livremente informada.
A Abert, a Aner e a ANJ se solidarizam com os profissionais e as empresas vítimas das agressões e hostilidades e esperam que todos os fatos sejam apurados pelas autoridades responsáveis, com a punição dos agressores, nos termos da lei.
A liberdade de imprensa e o direito à informação são básicos nas sociedades democráticas, e estão sendo desrespeitados pelo autoritarismo dos agressores. Todos aqueles que prezam a democracia precisam se colocar contra esses lamentáveis episódios e se mobilizar para que não voltem a ocorrer. Sem jornalismo, não há democracia.