É curioso observar como o turismo ainda não goza do prestígio e apoio merecidos, mesmo em um país de imenso potencial como o Brasil – e Tatuí, neste aspecto, não tem tradição de tomar rota diversa. Os burburinhos propagados recentemente a respeito de verba estadual destinada ao setor no município comprovam esta realidade.
Houve várias manifestações apontando que, basicamente, a cidade deveria priorizar outras áreas – como saúde, educação e infraestrutura (entenda-se tampar buracos) – “antes” de investir na reforma da Praça da Santa.
Não há razão para contestar que qualquer município a se apresentar como destino turístico acaba expondo-se mais e, portanto, precisa de atenção redobrada junto às áreas vitais – entre as quais, óbvio, a de infraestrutura viária.
Não obstante, a ideia de incompatibilidade de interesses chega a espantar, embora não mais que o desconhecimento acerca de determinados trâmites de recursos estaduais e federais recebidos pelos municípios, mormente quando oriundos da instância política.
Quando partidos das redes sociais, tudo bem – em termos… Há quem se contente só com os títulos das notícias – quando não de boatos (verdadeiros ou “fake”) – e já sai abençoando o mundo com impressionante sabedoria e poder de discernimento (observação irônica, ok?). E “curte”, repercute e comenta quem quer.
Mesmo para estas situações, porém, seria oportuna a informação mais apurada e, quem sabe, até o raciocínio menos ágil, mais cauteloso, em favor do bom-senso e da tal verdade (tão em baixa na contemporaneidade…).
Especificamente no caso em questão, a reforma da Praça da Santa é fruto de convênio entre a Prefeitura e o governo do Estado, o qual, por sua vez, representa o resultado de um extenso e custoso trabalho promovido pelo Conselho Municipal de Turismo, envolvendo autoridades de duas administrações, a atual e a anterior. Aliás, um belo trabalho, que merece reconhecimento, jamais o menosprezo!
O convênio significa a verba conquistada por esse trabalho, que consistiu na admissão de Tatuí como “Município de Interesse Turístico”. Nessa condição, a cidade ganhou direito, inicialmente, a uma verba de R$ 371 mil, que deve ser, por “obrigação”, investida em algum projeto turístico.
Assim, a primeira proposta municipal – que deve ser seguida de várias outras -, aprovada pelo Comtur, foi a reforma da praça Martinho Guedes.
Na Câmara, o líder do governo municipal, Antonio Marcos de Abreu (PR), lembrou que, como o recurso é destinado exclusivamente ao turismo, o dinheiro não poderia ser aplicado em obras de infraestrutura, como as de tapa-buracos.
Como a utilização do recurso deveria ter aprovação do Legislativo, ela teve de ir para votação, rendendo manifestações dos parlamentares. Nesse momento, para convencer os colegas, Abreu informou que, caso a proposta não fosse aprovada pela Câmara, a Prefeitura teria de devolver o recurso ao governo. “Então, ou nós aceitamos e votamos a favor para que esse dinheiro venha, ou vamos ter de devolvê-lo, porque ele é específico para ser usado na praça”, declarou.
Por expressão comumente utilizada no âmbito administrativo, trata-se de “verba carimbada”, do tipo que só pode ser utilizada para a finalidade previamente determinada. Em qualquer outra situação, poderia até causar o afastamento do maior responsável pela administração do recurso – em Tatuí, a prefeita Maria José.
Abreu ainda apontou outro ponto fundamental: que a reforma da praça auxiliaria a cidade a cumprir com a meta de desenvolvimento do turismo. E ressaltou a intenção de se transformar a cidade em estância turística, o que implica em melhorias no setor.
“Isso (a reforma da praça) vai ajudar a contar pontos”, comentou. Na prática, os “MIT” participam de um jogo mesmo, vez que as cidades reconhecidas “disputam” a manutenção no programa estadual, tal em uma competição esportiva.
Nesse certame, periodicamente, alguns municípios podem ascender a estâncias, enquanto outros acabam sendo rebaixados, perdendo o reconhecimento de MIT e, consequentemente, a verba do programa, que pode beirar os R$ 600 mil anuais.
Contudo, além do próprio recurso – nada desprezível -, ressalta-se de episódios como esse a desatenção ao fato de que o turismo não é um penduricalho qualquer, uma bobagem indigna de atenção e investimentos.
Pelo contrário: o turismo atrai recursos outros (fora o do próprio MIT). Turismo quer dizer pessoas consumindo na cidade, gastando em hotéis, restaurantes, no comércio… E quem gera emprego – algo tão fundamental quanto tampar buracos – senão o comércio e os prestadores de serviço?
E mais: alguém tem ideia de quanto uma cidade estaria disposta a investir para ganhar o título de “Capital da Música” de um país? Certamente, essa grife vale milhões! E Tatuí a conquistou por mérito, mas gratuitamente. Resta, apenas e finalmente, começar a melhor explorar esse patrimônio cultural.
Mas, a verdade é que este país como um todo ainda, inexplicavelmente, segue na teimosia de não querer reconhecer uma de suas maiores virtudes, centradas no potencial turístico. Atrativos e história não faltam. O que ainda não se encontra fácil é cultura.