A Polícia Civil divulgou, na tarde de quinta-feira, 4, trechos do depoimento prestado pelo motorista que conduzia um Honda Civic envolvido na morte de um adolescente de 17 anos. O homem, de 58 anos, não teve a identidade divulgada. Ele se apresentou na Delegacia Central na quarta-feira, 3, acompanhado de advogado.
O delegado encarregado do caso, Carlos Augusto Palumbo Del Gallo, informou à reportagem de O Progresso que o condutor alega não ter se apresentado antes por são saber do fato.
O homem disse à polícia que pensara ter visto uma caixa de papelão na pista. Ele trafegava no sentido norte da rodovia Antonio Romano Schincariol (SP-127) quando houve o atropelamento.
Em depoimento, sustentou que não sabia que havia atropelado o adolescente Leonardo de Oliveira Sonego, de 17 anos. O estudante atravessava uma das pistas da rodovia, um pouco depois da queima de fogos em comemoração ao Ano-Novo, por volta da 0h10 do dia 1º.
Sonego morreu a caminho do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, conforme constatado por uma médica socorrista da equipe de resgate da concessionária SPVias. De acordo com o boletim de ocorrência, o jovem não suportou a gravidade dos ferimentos e faleceu antes mesmo de dar entrada no ambulatório.
O delegado informou que o veículo usado pelo condutor está apreendido e passará por perícia até a semana que vem. O carro a ser vistoriado foi entregue pelo proprietário aos policiais. A PC identificou o motorista a partir de uma das placas do automóvel, um Honda Civic modelo LX, ano 2001, preto.
A identificação ficou na pista, presa ao para-choque dianteiro do veículo, que se desprendeu com a força do impacto. De posse do número, os investigadores realizaram pesquisa e descobriram o nome do proprietário, procurando-o na residência. “Encontramos o veículo na casa dele mesmo. E ele não tinha nem como falar que não era dele (o Civic)”, disse o delegado.
Intimado, o homem prestou depoimento dois dias depois do atropelamento. Para a PC, o motorista alegou ter visto “uma caixa de papelão no meio do caminho”. “Ele ainda chegou a dizer que acreditava ter visto uma pessoa deitada na pista”, relatou Del Gallo.
De acordo com o delegado, o homem declarou não ter parado – depois de sentir o impacto – porque teria ficado com receio de ser assaltado. Del Gallo informa que o condutor deu a entender que pensara se tratar de uma “armadilha”, que o papelão tivesse sido deixado na pista para forçar uma parada.
Ainda segundo o delegado, o homem disse ter ficado sabendo da morte do adolescente por pessoas próximas. Por esse motivo, não procurou a polícia antes, mesmo tendo o para-choque com a placa dianteira se desprendido do automóvel.
Uma vizinha e uma funcionária dele teriam contado o fato. Só então é que o motorista teria tido consciência de que poderia ter atropelado alguém.
O homem responde em liberdade por omissão de socorro e fuga do local de acidente. Ele poderá ser processado, ainda, pelo crime de homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), dependendo do andamento das investigações.
A PC descarta a hipótese de que o condutor tenha tido problemas ao dirigir, por conta de um AVC (acidente vascular cerebral), por exemplo. O homem está com um dos lados do corpo (o direito) paralisado. Entretanto, o delegado informou que a condição não afetaria a direção, já que o veículo possui câmbio automático.
Uma perícia no automóvel pode identificar a origem dos danos. Conforme o delegado, a intenção é que a polícia possa verificar se houve atropelamento (com a vítima em pé) ou se o veículo passou por cima do corpo do jovem.
Pelo exame, os investigadores esperam determinar se houve colisão frontal, lateral, ou até mesmo determinar a velocidade desenvolvida pelo veículo no momento do atropelamento. “Também pode haver uma coleta de material genético, já que o veículo passou por cima do jovem”, detalhou.
Del Gallo informou que a PC ainda deve ouvir mais testemunhas (uma delas teria presenciado o atropelamento). Em paralelo, os investigadores estão buscando câmeras de vigilância que possam ter filmado o acidente. A intenção é confrontar as imagens com o depoimento prestado pelo condutor.
De acordo com o delegado, a PC não descarta nenhuma hipótese, uma vez que há informações divergentes entre as repassadas pelo condutor e as constantes em boletim. O documento foi elaborado com base em informações de policiais militares rodoviários.
A PMR foi acionada à 0h11. O acidente ocorreu na altura do quilômetro 112+600 da rodovia. Quando chegaram ao local, os rodoviários foram informados de que o jovem havia sido socorrido e conversaram com uma testemunha.
A pessoa disse ter visto Sonego ser atropelado. Ela (que não foi identificada) afirmou que o motorista “havia posto o veículo para se chocar contra a vítima”.
A testemunha relatou, ainda, que o homem dirigira por cerca de 300 metros, depois de ter passado por cima do adolescente, tendo parado apenas para remover o para-choque. Depois, fugiu do local, tomando acesso ao Jardim Tóquio.
O delegado espera ouvir a testemunha nos próximos dias para incluir os dados no inquérito. A oitiva será juntada ao laudo, que terá resultado dentro de um mês.