Morador do Jardim Santa Rita de Cássia há três anos, José Rodrigo dos Santos, 38, assumiu ter desferido golpes de facão em Valter José Ribeiro, 39, na manhã de quarta-feira, 8. Em entrevista a O Progresso, o suspeito apresentou justificativas para as agressões e sustentou que agira para se proteger.
Santos afirmou que “iria arrancar o pescoço” da vítima e só não o fez porque não estava com o próprio facão. “Deu sorte que eu não peguei o meu. Se eu pegasse o meu (facão), o pescoço dele já estava arrancado”, disse.
Natural da Bahia, Santos contou que morara em São Paulo por 20 anos antes de se mudar para Tatuí. A vinda dele se deu por conta de uma oferta de trabalho.
O pedreiro conseguiu um emprego na construção de casas populares, na região do Santa Rita. “Peguei um ônibus em São Paulo para pegar o serviço aqui, na obra. Eu trabalho de pedreiro, nas novas casas”, comentou.
Na manhã de quarta-feira, Santos disse ter sido surpreendido pela vítima no próprio quarto. Conforme ele, Ribeiro teria invadido a residência dele, munido com um facão. O suspeito alegou que se trocava no momento em que vira o invasor.
“Eu ia trabalhar. Aí, coloquei o ‘shorts’, amarrei. Depois, fui pegar a carteira, o celular. Fui colocar no bolso e ele bateu com um facão no meu peito”, descreveu.
Ribeiro alegou que teria tentado argumentar com a vítima, dizendo que “não queria briga”. Na versão do suspeito, o ceramista teria ignorado o pedido e começado uma discussão. “Eu fui para cima, onde peguei o facão, derrubei ele (o ceramista) e ‘piquei’ o facão. Ele falou que ia me matar”, sustentou.
Como a vítima estava bêbada, Santos disse que ela entrara na casa aproveitando-se de um descuido da esposa. Conforme ele, a mulher teria ido levar uma das filhas para a escola e, na saída da residência, deixado o portão encostado.
O pedreiro contou, ainda, que já tivera um desentendimento com o vizinho, no ano passado. Ambos brigaram por conta de uma tubulação de água, que passaria por cima da casa do suspeito. Ao ver a obra, o pedreiro disse ter ficado irritado, porque não teria dado autorização para que o cano passasse pela propriedade.
Na ocasião, Ribeiro e um cunhado dele teriam discutido com Santos e batido nele. Um dos homens teria ferido o pedreiro com uma telha, arrancada do teto. Santos disse ter revidado, atirando contra ele um pedaço de madeira.
Ao ter sido supostamente ameaçado, o pedreiro alegou não ter tido escolha. O homem afirmou que Ribeiro teria entrado para matá-lo.
“Aí, subiu uma coisa na minha cabeça. Eu ia arrancar a cabeça dele. Eu deixei quieto, disse: Não vou arrancar, não. Se morrer, morreu”, acrescentou.
O pedreiro disse ter desferido sete facadas na vítima, sendo a maioria delas na cabeça. Além do desentendimento anterior, Santos comentou ter tido outra rixa com a vítima.
Conforme o suspeito, Santos teria tentado se aproximar da ex-mulher dele. “Quando mudei para cá, fiquei com uma pessoa. E ele ficou com ciúmes”, citou. Na época, o pedreiro disse que o ceramista teria invadido a casa da mulher.
A irmã da vítima contestou as afirmações do suspeito. Ela, de 40 anos, disse que o irmão apenas bebia na frente da residência da mãe. O ceramista teria sido repreendido por ela, que não o queria bebendo na frente da casa.
“Minha mãe falou para ele entrar, porque ela não gostava desse tipo de coisa na frente da casa dela, minha mãe é sistemática”, disse.
Para não desagradar a mãe, Santos teria sentado na calçada da casa do suspeito. Ele estaria na companhia de um amigo. A irmã disse que a mãe não vira para aonde o filho havia ido, uma vez que entrara para dentro da própria casa.
Passado algum tempo, a mulher teria sido chamada pela esposa do pedreiro. “Ela falou para minha mãe acudir o filho dela, que estava morto”, relatou.
A irmã disse que a mãe entrara em desespero, começou a chorar e ligou para ela. Elizandra correu para a residência da mãe e encontrou a rua quase interditada. Segundo ela, vários vizinhos estavam na frente do imóvel. “Meu irmão estava caído dentro do quintal dele (da casa de Santos)”, descreveu.
Para a reportagem, a mulher disse não acreditar na possibilidade de o irmão ter invadido a residência de Santos. Conforme ela, o ceramista estava embriagado e não teria como arrombar a porta que separa o quintal da entrada da casa.
Além disso, ela contou que a vítima havia bebido durante toda a noite e, pela manhã, tomava cervejas com um amigo. Os dois conversavam até o momento em que a pessoa que acompanhava Ribeiro teria deixado o local.
A irmã disse, também, que ninguém havia visto a vítima com qualquer arma. Ela acrescentou que Santos teria feito ameaças contra ela depois de ter golpeado o irmão. “Não fosse a ação rápida da GCM, ia dar problema, porque ele veio para cima de mim, dizendo que iria me matar”, relatou.
Para o GCM Paulino, a resposta da corporação foi fundamental para garantir a sobrevida do ceramista. O guarda afirmou que, em situações como a atendida no Santa Rita, um minuto pode fazer a diferença entre a vida e a morte
“Se demorássemos demais, a vítima teria perdido mais sangue e entrado em choque hipovolêmico (caracterizado pela perda de grandes quantidades de sangue)”.
Segundo a irmã da vítima, a equipe da corporação demorou cerca de três minutos para chegar ao local. O secretário da Segurança Pública afirmou que esse tempo de resposta “só foi possível com a nova política de replanejamento da corporação”.
Em janeiro, Andreucci instituiu a divisão setorial, pela qual os patrulhamentos se dão nas regiões norte, sul, leste, oeste e centro.
Detido em flagrante, Santos afirmou não ter agido sob efeito de álcool. Por fim, disse que continuará “falando a verdade em juízo” e que, se for preso, não será mais solto. “Se devo, tenho que pagar. Entro na cadeia feliz”, concluiu.